Numa altura em que a Honda se prepara para lançar o seu primeiro modelo exclusivamente a bateria, o Honda “e”, o CEO do construtor nipónico disse que não vê a tecnologia eléctrica como determinante num futuro próximo. Em declarações à Automotive News, Takahiro Hachigo mostrou mesmo ter sérias dúvidas em relação ao facto de os consumidores estarem interessados em comprar carros eléctricos:

Os clientes querem mesmo carros eléctricos? Não estou muito certo disso, porque ainda há muitos problemas a nível de infra-estruturas e de hardware.”

Estas afirmações, em si, não seriam surpreendentes, mas dá-se o caso de não irem ao encontro da estratégia de comunicação delineada pela marca, para preparar a introdução do Honda “e” no mercado.

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Desvendado aos olhos do público na última edição do Salão de Frankfurt, o primeiro carro a bateria do construtor japonês foi sendo antecedido por informações acerca do número de potenciais clientes. Pouco depois de ter sido apresentado, ainda como protótipo, no Salão de Genebra, a Honda veio a público anunciar que o “e” já tinha mais de 25 mil interessados. E quando foi revelada a sua versão de produção, no certame alemão, a marca informou ter mais 40 mil registos de interesse.

Ao que parece, estes números não impressionam Hachigo. Segundo ele, a prioridade é cumprir as diferentes regulamentações em termos de emissões, que são mais apertadas na Europa, objectivo que se propõe atingir por via da hibridização e não através da plena electrificação. “Não vejo um incremento significativo na procura de veículos eléctricos e essa é uma realidade transversal a todos os mercados. Há normas [em termos de emissões] distintas em diferentes países e temos de cumpri-las. Mas não acredito que os carros eléctricos se tornem muito populares a curto prazo”, defende o CEO da Honda, marca que produz o Honda Clarity, um eléctrico alimentado não por bateria mas por fuel cells, desde 2008, sempre com produções extremamente reduzidas.

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Depois de ter anunciado que acabava com o diesel, a marca nipónica fez saber que até 2022 pretende que a sua gama seja composta apenas por modelos com uma componente de electrificação. Tudo para que, até 2030, dois terços das suas vendas globais sejam de unidades electrificadas.

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Para Takahiro, “o objectivo não é a electrificação, só por si, mas sim a melhoria da eficiência de combustível”. O que, no caso concreto da gama da Honda, tem de momento benefícios discutíveis. Por exemplo, comparando o CR-V com 173 cv a gasolina com o CR-V de 184 cv híbrido a gasolina (apesar do motor de combustão apenas assegurar 145 cv), o SUV híbrido reivindica um ganho de 5,5% no consumo e de 6% nas emissões, exigindo em troca 15% a mais no preço.

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Para além disso, no caso dos híbridos plug-in (PHEV), não é evidente que haja efectivamente poupança de combustível e emissões mais reduzidas. Só se os condutores recarregarem realmente as baterias dos seus veículos e tirarem partido da locomoção em modo eléctrico é que os consumos e as emissões baixam. Se não o fizerem, mal se acabe a carga da bateria, adeus “eficiência de combustível”, porque aí o veículo passa a funcionar como um híbrido e as despesas da locomoção passam a ser asseguradas maioritariamente pelo motor de combustão, com as equivalentes emissões. Porém, no actual protocolo europeu de medição de consumos e de emissões, os resultados dos PHEV em WLTP são apurados partindo do princípio que o veículo arranca sempre para os primeiros 100 km com a bateria carregada, o que permite homologar valores pouco condizentes com a utilização real.