O ex-porta-voz do Chega António Sousa Lara disse esta terça-feira ter sido “posto entre a espada e a parede” pela direção do partido liderado por André Ventura por causa da subvenção vitalícia a que tem direito, motivo que o levou a abandonar o partido.

Em entrevista ao programa Direto ao Assunto da Rádio Observador, Sousa Lara explicou o que aconteceu: “Resultou de uma reunião da comissão política, onde eu tinha assento embora sem voto, em que mais uma vez foi posta a questão pelo próprio líder de não concordar com a existência de subvenções vitalícias dadas a políticos“.

Sousa Lara, que foi várias vezes deputado à Assembleia da República por diferentes partidos da direita, tem direito a uma subvenção estatal vitalícia de 1.343 euros. “Não fiz nada para obter essa subvenção vitalícia, ela foi aprovada pela Assembleia, mal ou bem é uma coisa que está”, explicou Sousa Lara, detalhando que neste momento não pode usufruir dela por ser professor catedrático e a subvenção não ser cumulativa.

Sousa Lara: “Ninguém me dá tau tau”

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“Eu não sou contra a possibilidade de vir a receber. É um direito que decorre de uma lei que está aprovada em Portugal. E acho que já fui penalizado pelo Estado português em questões fiscais e em questões de roubalheira”, afirmou. “Ninguém me dá tau-tau. Fui apanhado à meia-noite e tal de surpresa, depois de me terem sido perguntadas outras coisas. Fui posto entre a espada e a parede. Pedirem-me ‘8 ou nulos’, comigo, dá sempre mau resultado.”

Porém, Sousa Lara diz que não deixará de apoiar o Chega — partido em que nunca foi filiado. “Já fui candidato pelo CDS, pelo PPM, pelo PSD, pelo Chega. A minha lógica é uma lógica de direita. Eu tenho a visão dos partidos como um instrumento. Para mim são ferramentas ao serviço de qualquer coisa, que é aquilo que eu acho que configura o interesse do país”, destacou.

O ex-porta-voz do partido de André Ventura diz que continuará a votar no Chega para que o partido possa cumprir o seu “papel histórico” de “endireitar a direita” — processo para o qual diz ter colaborado “em termos de pensamento para a formação do programa eleitoral”.

Chega devia ter militar como candidato presidencial

Sousa Lara deu alguns exemplos das ideias que devem fazer parte de um programa destinado a “endireitar a direita” — e afirma que é preciso ter “uma agenda mais pensada, uma lógica mais integral e um pensamento mais concreto”.

“Numa lógica de direita, há valores que são menos cómodos. Por exemplo, o valor de pátria. Hoje em dia, com a União Europeia, é incómodo. O valor de família: família hoje em dia é uma coisa relativa. O valor de moral, de religiões, aquilo que a religião transfere como a área do transcendente. A própria Igreja entrou em crise”, afirmou.

Sousa Lara sai do Chega por não renunciar a subvenção vitalícia de 1.343 euros

O ex-porta-voz do Chega acrescentou ainda que um dos últimos conselhos que deu a André Ventura antes de sair do partido foi relativo às eleições presidenciais de 2021. “Ele [Ventura] é capaz de querer avançar“, afirmou. “É uma atitude de risco. Tomei a posição de que acho que é um risco excessivo neste momento André Ventura candidatar-se.”

“Acho que o Chega devia ter um candidato militar. É uma coisa que está proibida. Nós fomos controlados pelos militares depois do 25 Abril. O Chega tinha aqui a oportunidade de chamar um militar na reserva, reformado”, sugeriu Sousa Lara, assumindo que tem um nome em mente, mas recusando divulgá-lo. Seria provocatório? “A ideia é essa”, assume.

Questionado sobre as políticas do Chega, Sousa Lara recusou que sejam racistas ou xenófobas — para segundos depois perguntar: “Porque é que não se revela a lista de crimes praticados por pessoas que não são portuguesas em Portugal? A polícia sabe e não revela.”

Especulando sobre este assunto, Sousa Lara continuou: “Suponha que 40% dos crimes são praticados por pessoas alienígenas? Isto significa que estamos a importar lixo. Portugal não precisa de minorias étnicas“. Recusando a “lógica de gueto” dos países anglo-saxónicos, Sousa Lara afirmou que “se querem vir para aqui, têm de ser como nós”. “Têm de gostar do Benfica, do Sporting e do Porto, de bacalhau, de ir à praia. Pá, se não gostam, vão-se embora.”