A última semana foi uma semana à José Mourinho. Depois de um regresso ao futebol e a Inglaterra que começou por ser bastante tranquilo, entre sorrisos e piadas nas conferências de imprensa, entre resultados positivos consecutivos e até entre o maior rendimento de jogadores que pareciam perdidos no plantel, como Dele Alli. Depois de quase um ano sem trabalho, Mourinho voltava como o Calm One. Mas esta semana foi precisamente a prova de que tudo isso não demorou a reverter-se.

A meio da semana, contra o RB Leipzig, o Tottenham perdeu num jogo onde foi sempre inferior e onde ficaram visíveis as lacunas deixadas pelas lesões de Harry Kane e Son Heung-min. No início do jogo, Mourinho garantiu que não tinha “nada a provar” depois de uma carreira de “20 anos com 25 títulos”; a meio do jogo, Dele Alli não teve grandes problemas em mostrar que estava descontente por ser substituído, entre chuteiras pelo ar e garrafas de água atiradas para o chão; e no fim do jogo, o treinador português garantiu que o Tottenham era agora “uma arma sem balas”.

O “mini Mourinho” tem qualquer coisa a provar. E o avançado que Mourinho queira fez o resto da desfeita

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“Temos de ser leais aos rapazes e dizer que eles fizeram tudo aquilo que era possível. Sabe quantos treinos fez o Lamela com a equipa? Zero! Foi direto de lesão para a recuperação e para o relvado fazer 30 minutos na Liga dos Campeões. É assim a nossa equipa. Podemos olhar e ver duas perspetivas. Uma delas é que é uma grande equipa, com grandes rapazes, e a outra é o momento que atravessamos agora. E é esta a nossa situação. Fomos para uma batalha com uma arma sem balas”, disse o técnico no final da receção aos alemães, numa declaração que fez lembrar as versões mais antigas de Mourinho.

Este sábado, apenas três dias e menos de 72 horas depois do jogo europeu, o Tottenham visitava o Chelsea para um dos dérbis do norte de Londres. Mourinho regressava então a Stamford Bridge para encontrar um Chelsea que, não tendo jogado para a Europa durante a semana e beneficiando desse maior período de descanso, atravessa uma fase menos boa. Antes de entrar em campo este sábado, a equipa de Frank Lampard estava há quatro jogos sem ganhar na Premier League, entre Newcastle, Arsenal, Leicester e Manchester United, sendo a que a última vitória foi já perante o Burnley no início de janeiro. Se para Mourinho o dérbi era uma oportunidade para mostrar que a “arma sem balas” também pode ser letal, para Lampard o dérbi podia funcionar como machado para enterrar a crise. Mestre e aprendiz, cada um do seu lado, tinham objetivos claros num jogo que também decidia quem agarrava o quarto lugar da Premier League.

Depois de ser substituído contra o RB Leipzig, Dele Alli voltava a ficar de fora do onze do Tottenham, assim como Lamela, e jogavam Bergwijn, Lucas Moura, Ndombele e Lo Celso, com Gedson Fernandes também a começar na condição de suplente. Do outro lado, Lampard voltava a apostar em Giroud, ainda que Tammy Abraham já estivesse recuperado e no banco, e Willian (que tem sido associado a uma transferência para o Tottenham no verão) também era suplente, com Mason Mount e Ross Barkley a assumirem a zona mais adiantada do meio-campo. As duas equipas apresentavam-se com sistemas táticos praticamente espelhados e encaixavam nos minutos iniciais, ainda que com o Chelsea a querer mostrar mais iniciativa e o Tottenham a assumir desde logo uma fase de construção mais recuada e a apostar na profundidade. A primeira oportunidade apareceu aos 10 minutos e caiu para a equipa de Mourinho, com Lucas Moura a obrigar Caballero a uma boa defesa depois de um remate de fora de área. A ocasião do avançado brasileiro acabou por despertar os blues, que se empenharam numa série de três oportunidades seguidas que culminou com o primeiro golo do jogo.

Mason Mount foi o primeiro a assustar Lloris, ao aparecer desmarcado na cara do guarda-redes francês (12′), Ross Barkley rematou ao lado de fora de área (14′) mas acabou por ser Giroud a inaugurar o marcador. Depois de um grande passe de Jorginho, o avançado francês rematou, Lloris defendeu, Barkley atirou ao poste na recarga e Giroud, à terceira, conseguiu então marcar (15′). Até ao final da primeira parte, o Tottenham ainda ficou perto de empatar graças a um cabeceamento de Sánchez depois de um canto mas o jogo foi mesmo para o intervalo com o Chelsea a ganhar pela margem mínima, uma vantagem que se justificava pelo ligeiro ascendente dos blues na partida.

Mourinho perdeu pela segunda vez em três dias

Na segunda parte, que começou sem qualquer alteração de parte a parte, o Chelsea só precisou de três minutos para aumentar a vantagem e carimbar a forma muito adiantada como estava a pressionar o adversário. Num lance perfeito de transição do corredor direito para o esquerdo, Marcos Alonso apareceu a rematar rasteiro de fora de área praticamente sem oposição e enterrou ainda mais um Tottenham que já se esforçava para sobreviver (48′). Se a diferença entre as duas equipas já tinha ficado visível na primeira parte, o segundo tempo e o adiantar dos minutos no relógio deixou a nu as fragilidades físicas da equipa de José Mourinho, que parecia não ter energia para disputar o resultado ou sequer as dezenas de duelos individuais que se iam criando no relvado.

Até ao final, já nos últimos instantes, o Tottenham ainda reduziu a desvantagem através de um autogolo de Rüdiger depois de um bom movimento de rotura de Dele Alli (89′), que entretanto tinha entrado, mas já era demasiado tarde. O Chelsea de Frank Lampard venceu em casa o Tottenham de José Mourinho, que na segunda parte pouco mais conseguiu criar do que o lance que originou o azar do central adversário. Mesmo com o golo de Marcos Alonso, foi Giroud que abriu o marcador e que desencadeou a vitória dos blues: o mesmo Giroud que Mourinho queria no mercado de inverno e não conseguiu ter, o mesmo Giroud que é em teoria o terceiro avançado do Chelsea e o mesmo Giroud que tem intervenção em 14 golos nas últimas 14 vezes em que foi titular. Pelo meio, o Tottenham pode perder o quinto lugar já esta jornada e somou a segunda derrota consecutiva numa altura em que se prepara para enfrentar um período de competição terrível, entre Liga dos Campeões, Taça de Inglaterra e ainda confrontos diretos pelo quarto e quinto lugares com Manchester United, Sheffield United e Everton.