A carreira impressionante de Cristiano Ronaldo tem tornado difícil acompanhar todos os números, todos os recordes e todos os registos do jogador português. Tão difícil que não é propriamente raro ver vários meios de comunicação social a discordarem sobre o número de jogos, o número de golos, o número de assistências e os infindáveis números astronómicos que marcam o percurso de Ronaldo. Aconteceu mais recentemente em outubro, com o golo 700 do jogador português, voltou a acontecer em novembro, com o jogo 1000 da carreira do avançado da Juventus, e aconteceu novamente agora em fevereiro, precisamente devido ao polémico jogo 1000.

Ora, em novembro, contra o AC Milan — num jogo que até se tornou mediático pela forma como Cristiano Ronaldo reagiu quando foi substituído por Maurizio Sarri –, o jogador português cumpriu 1000 jogos se contarmos com os realizados nas camadas jovens da Seleção Nacional, Sub-21 e Sub-23 (seleção olímpica), onde já era sénior mas o escalão ainda não o era. Este sábado, contra a SPAL, Cristiano Ronaldo completava 1000 jogos na carreira em equipas profissionais séniores, entre Seleção A, Sporting, Manchester United, Real Madrid e Juventus.

Depois de ser poupado por Sarri no fim de semana passado, na vitória da Juventus perante o Brescia, Cristiano Ronaldo regressava ao onze quatro dias antes da visita ao Lyon, a contar para a primeira mão dos oitavos de final da Liga dos Campeões. Quem também voltava à titularidade era Chiellini, que na semana passada regressou à competição depois de ausência prolongada por lesão e este sábado fazia dupla com Rugani no eixo da defesa face ao castigo de Bonucci. Uma opção de Sarri que não deixa de levantar algumas dúvidas: com Bonucci castigado, Chiellini acabado de voltar de uma lesão grave e Rugani, central que na temporada passada fez apenas 15 jogos na Serie A, De Ligt estava no banco. De Ligt, o prodígio holandês que foi uma das pérolas do mercado do verão passado e que custou 75 milhões de euros aos cofres da Juventus.

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Num estádio que já é tido como amaldiçoado para a Juventus — em duas temporadas da SPAL na Serie A a equipa de Turim nunca ganhou em Ferrara –, Cristiano Ronaldo colocou a bola no interior da baliza de Berisha logo aos cinco minutos, mas o lance foi anulado por fora de jogo do português. Numa primeira parte onde a Juventus teve sempre mais bola e procurou com maior acutilância o último terço adversário, a SPAL, última classificada, não se escondeu no relvado e tentou pressionar algo, de forma a provocar o erro da primeira fase de construção da equipa de Sarri e apostar no contra-ataque. Ainda assim, foi a Juventus que andou sempre mais perto do golo, com um remate por cima de Cuadrado depois de um cruzamento a partir da esquerda (10′) e uma tentativa de Dybala que esbarrou no poste (37′), depois de um movimento individual brilhante.

O inaugurar do marcador acabou por aparecer já perto do intervalo, quando os semblantes dos adeptos da Juventus já se alteravam nas bancadas face à proximidade pontual no topo da Serie A. Afinal, e mesmo com a equipa de Turim na liderança, a Lazio tem apenas menos um ponto e o Inter Milão tem menos três, o que elimina qualquer tipo de margem de erro para qualquer um dos conjuntos nesta altura da temporada — um empate da Juventus com a SPAL e uma vitória da Lazio este domingo em Génova significava portanto a subida da equipa de Roma ao primeiro lugar da classificação. Mas Cristiano Ronaldo, who else, fez questão de contribuir para que tal não acontecesse. Cuadrado foi lançado em profundidade na direita, cruzou para o centro da área e Ronaldo, praticamente sozinho, atirou de primeira para abrir as contas (39′).

Ao intervalo, a Juventus estava bem encaminhada para vencer pela primeira vez em três anos no recinto da SPAL. E Cristiano Ronaldo, a marcar no jogo 1000 da própria carreira, tinha chegado aos 11 jogos seguidos a marcar na Serie A, algo que só Batistuta (1994/95) e Quagliarella (2018/19) tinham alcançado na história da principal liga italiana. A segunda parte arrancou com outra oportunidade para Ronaldo, que só não deu golo porque Berisha afastou com um ligeiro toque (48′), e uma de Ramsey, que rematou de fora de área e ligeiramente por cima da baliza (58′). O médio galês falhou a primeira mas não hesitou na segunda, aumentando a vantagem da Juventus quando estavam cumpridos 15 minutos do segundo tempo.

Ramsey marcou o segundo golo ao serviço da Juventus

Dybala veio do corredor direito para a faixa central, desmarcou Ramsey e o médio ex-Arsenal, à saída do guarda-redes, picou a bola para fazer um golo de belo efeito (60′). Depois de uma boa primeira parte, a SPAL acabou por entrar no segundo tempo com algum receio de voltar a sofrer um golo e nunca conseguiu aplicar a pressão alta e eficaz que tinha mostrado ao intervalo. A Juventus aproveitou, foi reduzindo o espaço existente para o conjunto de Ferrara e parecia ter arredado a SPAL da partida quando ainda faltava jogar meia-hora — uma grande penalidade de Rugani sobre Missiroli, convertida por Petagna (69′), acabou por impedir o conjunto de Sarri de ativar o modo gestão e relançou o jogo. O lance do penálti trouxe ainda um momento caricato, com o árbitro da partida a ter de visualizar as imagens do VAR através de um telemóvel, por problemas na transmissão de imagens no habitual ecrã junto à linha lateral.

Até ao final, acabou por ser a Juventus a reagir ao golo sofrido e a procurar o aumentar da vantagem que pudesse resolver o jogo. Cristiano Ronaldo ainda acertou na trave de livre direto, Rabiot e Bernardeschi entraram para reforçar o setor intermédio e a SPAL não voltou a aproximar-se da baliza adversária. A equipa de Ferrara não conseguiu chegar ao empate e a Juventus somou a primeira vitória em três temporadas no recinto da SPAL, para além de ter garantido desde já que vai continuar na liderança da Serie A no final da jornada, aconteça o que acontecer nos jogos da Lazio e do Inter. Pelo meio, Ronaldo fez o jogo 1000, marcou pelo 11.º jogo seguido, igualou mais um recorde e mostrou que desacelerar não está nos planos.