À medida que o novo coronavírus alastra e os casos de Covid-19 se multiplicam, as indicações em todo o mundo vão no sentido de intensificar as lavagens de mãos, por um lado, e de evitar gestos de proximidade social, leia-se apertos de mão, beijos e abraços, por outro. Tudo para travar a progressão do surto.

E se em Portugal Marcelo Rebelo de Sousa segue firme na determinação de continuar a ser o “presidente dos afetos” — ainda esta segunda-feira recebeu em Belém 36 atletas de 16 países diferentes, fez questão de os cumprimentar a todos e, não satisfeito, ainda distribuiu beijinhos e abraços aos transeuntes —, a verdade é que grande parte dos líderes mundiais estão já a acatar os avisos. E, pelo caminho, a inovar e a criar novas formas de cumprimento.

Não será ainda desta, porém, que vai vingar o cumprimento recomendado por Bruno Aleixo como forma de combate ao novo coronavírus — “levantar um bocadito o queixo e dizer ‘Atão?'”.

Para já vão servindo os clássicos apertos de cotovelo à mecânico, como o que Bruce Aylward, o médico que liderou a equipa da Organização Mundial de Saúde enviada à China, ofereceu esta segunda-feira a um jornalista que tentou cumprimentá-lo à antiga, no final de uma conferência de imprensa. Ou o mais clássico aceno de mão, com que o ministro do Interior alemão, Horst Seehofer, repeliu o passou-bem que Angela Merkel ia disparada para lhe dar, também esta segunda.

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Como a culpa é toda do coronavírus, ninguém leva a mal estes atropelos às boas maneiras. Nem sequer a chanceler alemã que, ato contínuo, sorriu e levantou imediatamente as duas mãos, fazendo mea culpa: “Essa é que é a coisa certa a fazer!”.

Há mais: de volta a Portugal, a Conferência Episcopal recomendou que os católicos passem a dispensar o abraço da paz nas missas (e que recebam a comunhão na mão e não utilizem a água benta disponível nas pias das igrejas). Enquanto isso, do outro lado do oceano, a NBA aconselhou os jogadores a pararem de se congratular com high-fives e a deixarem de aceitar bolas, camisolas e outros objetos de estranhos para autografarem.

Bobby Portis, dos New York Knicks, está a ser citado pela imprensa internacional como um dos primeiros a acatar a indicação: esta segunda-feira, antes do jogo frente aos Houston Rockets, distribuiu fist bumps (aquele cumprimento mais asséptico feito com a mão fechada e em que nós dos dedos batem uns nos outros) pelos colegas enquanto dizia “Corona”.

Na capital chinesa, país onde a epidemia começou, há cartazes vermelhos a lembrar os cidadãos: em vez de apertarem mãos para cumprimentarem amigos ou conhecidos, devem juntar as próprias palmas abertas. Outra opção, recomendada por altifalantes em Pequim, é fazer o tradicional gesto gong shou (juntar um punho fechado à outra mão aberta) — significa “olá”, diz o Guardian.

É do jornal britânico a volta ao mundo em cumprimentos modificados pelo novo coronavírus que se segue: em França bastará estabelecer contacto visual para saudar alguém, defendeu um especialista em lifestyle local; na Roménia os participantes do festival de Martisor, que em breve assinalará a chegada da primavera, foram aconselhados a trocar flores entre si, como de costume, mas a cortarem nos beijos com que as costumam acompanhar; e no Irão já se tornou célebre o vídeo de três homens a cumprimentarem-se com toques de pés.