A notícia é avançada pelo The Washington Post. A 21 de fevereiro, as autoridades iranianas terão começado a escavar duas grandes valas com vários metros de comprimento, no complexo de Behesht-e Masoumeh, o maior cemitério de Qom, cidade xiita a cerca de 180 quilómetros de Teerão, onde surgiram os primeiros dois casos de infeção no país.
Segundo especialistas consultados pelo mesmo jornal, as trincheiras destinam-se a sepultar o número crescente de vítimas mortais do Covid-19 na região. Um analista da Maxar Technologies, empresa do Colorado responsável pelas imagens de satélite, indicou que a dimensão das valas e a velocidade a que foram escavadas sugerem que as autoridades do país tenham abandonados os rituais fúnebres tradicionais, com a presença de familiares no local e com os enterros a serem feitos em parcelas de terreno individuais.
No início deste mês, vídeos das aparatosas escavações começaram a circular nas redes sociais. O The Washington Post comparou imagens de satélite do terreno captadas em outubro com fotografias das semanas que sucederam ao início do surto no país, com os primeiros casos descobertos a 19 de fevereiro.
A 3 de março, a BBC divulgou um vídeo de corpos a serem sepultados naquele que é o maior cemitério de Qom, cidade com 1,2 milhões de habitantes. “Esta é a secção das vítimas do coronavírus”, afirma o narrador do vídeo, que mostra uma parte da vala, montes de terra e pessoas com fatos de proteção azuis. “Até agora, mais de 80 [pessoas] foram enterradas nesta secção, e eles só falam em 34 mortes”.
“A worker told me that they must have buried more than 250 coronavirus victims so far. These are all graves and they are fresh. These are all from the last few days. And as you can see, it goes on until the end.”pic.twitter.com/lOGItUNYsb
— Heshmat Alavi (@HeshmatAlavi) March 12, 2020
Num outro vídeo, que um novo narrador alega ter gravado no mesmo cemitério a 3 de março, cerca de duas semanas depois dos primeiros casos confirmados em Qom e numa altura em que as autoridades davam conta de de 77 mortes e 2.000 pessoas infetadas. “Um trabalhador disse-me que já deve ter enterrado mais de 250 vítimas do coronavírus até agora”, diz durante o vídeo. “Isto é tudo sepulturas e são recentes. São todas dos últimos dias”, ouve-se.
Deste o início do surto que o Irão é apontado por não revelar a real dimensão do efeito do vírus na população. No final do mês de fevereiro, Teerão reconhecia ter 388 casos de pessoas infetadas e 34 mortes registadas. Mas no mesmo dia, 28 desse mês, o departamento iraniano da BBC avançava que o número de mortes já tinha atingido as 210.
O balanço mais recente da crise no país, divulgado esta quinta-feira, aponta para mais de 10.000 casos confirmados (846 só em Qom) e 429 mortes. O escalar do surto levou o Irão a pedir um empréstimo de emergência no valor de cinco mil milhões de dólares (4,4 mil milhões de euros) ao Fundo Monetário Internacional para combater o surto de Covid-19 no território. O responsável do Banco Central do Irão, Abdolnasser Hemmati, indicou esta quinta-feira que realizou o pedido na semana passada numa carta dirigida à diretora-geral do FMI, Kristalina Georgieva.