A Kapten está “a tentar encontrar e definir internamente outras medidas compensatórias” para apoiar todos os motoristas, infetados ou não, durante a pandemia de Covid-19. A informação foi confirmada pela empresa ao Observador, depois de este jornal ter noticiado que a Kapten não estaria a prestar aos motoristas o apoio financeiro divulgado a 10 de março.

Nessa data, a empresa afirmou que pagaria a quarentena de condutores com o novo coronavírus “tendo por base a remuneração obtida pelo respetivo motorista nos últimos 14 dias”, mas o Observador soube que havia pelo menos um motorista infetado com Covid-19 que não estava a receber esse mesmo apoio.

Entretanto, já depois da publicação desta notícia, e confrontada com o caso que o Observador tinha em mãos, a empresa esclareceu que houve um “erro humano” e uma “triagem errada” que levou a que o motorista em questão não tivesse recebido a compensação financeira. Disse ainda que “a equipa de apoio criada especificamente para a gestão e resposta a estes casos” não tinha conhecimento desta situação. Ressalvou, contudo, que os restantes pagamentos (haverá outro motorista infetado com Covid-19, de acordo com a Kapten) estavam a decorrer como é suposto.

Na primeira resposta que deu ao Observador, a 31 de março, a empresa dizia que o que estava a fazer, “neste momento e, tendo em conta também a atual situação de Estado de Emergência e os possíveis apoios às empresas que foram entretanto divulgados, era ajudar os motoristas, mesmo aqueles que não estavam em situação de quarentena ou isolamento, a obter os apoios do Estado”. Esta informação ia também ao encontro do que tinha sido dito ao Observador por Tiago Afonso, o parceiro da Kapten que tinha reportado a falta de apoio financeiro.

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Depois de o artigo sair, a Kapten esclareceu, contudo,  que estava a ir “além desse” apoio financeiro” e que tinha conhecimento de apenas um caso de infeção por Covid-19, que estava a receber o pagamento devido, negando, por isso mesmo, a notícia que o Observador publicou na manhã desta quarta-feira. No entanto, Tiago Afonso, que já tinha reportado a situação à Kapten a 24 de março, continuava sem ter feedback da empresa quanto a pagamentos, negando, por sua vez, a resposta da empresa de transporte.

Na verdade, quando, a 24 de março, o motorista parceiro revelou à empresa que tinha um dos seus condutores infetados com o novo coronavírus, a Kapten respondeu, a 26 de março, o seguinte:

“Antes do estado de emergência, aguardamos com expectativa as medidas governamentais que pudessem colmatar o impacto da perda de uma grande percentagem no rendimento de cada um, ponderando avançar com outros apoios caso os mesmos não existissem por parte do Estado. Neste momento, esses apoios já existem pelo que deverá recorrer aos mesmos. Este cenário afecta toda a sociedade e, lamentavelmente, deverão ser utilizadas as linhas de apoio criadas para o efeito. Caso tenha alguma questão, a equipa Kapten encontra-se disponível através deste mesmo canal, comprometendo-se a dar uma resposta pronta”.

No decorrer da tarde desta quarta-feira, a Kapten afirmou, contudo, de que não se tratava do mesmo motorista e que “a equipa de apoio criada especificamente para a gestão e resposta a estes casos” não tinha conhecimento da situação reportada por Tiago Afonso. Na sequência desta informação, iniciou os procedimentos para fazer o pagamento em falta, tendo contactado diretamente o motorista, pedindo-lhe desculpa pelo erro e assegurando que a compensação seria paga nesta quinta-feira.

Em resposta ao Observador (já depois de o artigo ter saído), a Kapten esclareceu: “Nomeamos uma equipa dedicada para auxiliar nestes temas e que tem de estar em constante atualização devido às alterações rápidas nos apoios. Dividimos o auxílio em 3 categorias, motoristas prestadores de serviços, motoristas com contrato, e parceiros empresa. As necessidades são diferentes e o governo lançou programas para os 3. A nossa função é partilhar as informações e esclarecer dúvidas em conjunto”.

Kapten fala em “quebra drástica” no setor

O apoio que a Kapten reservou para os motoristas foi divulgado a 10 de março, em resposta ao Observador, depois de a concorrente Uber ter anunciado que iria pagar a quarentena aos condutores. Nesta data, uma semana antes de ter sido conhecido que o país ia entrar em Estado de Emergência, a empresa afirmava: “Estamos a estudar e a preparar medidas de modo para podermos agir e atenuar eventuais efeitos económicos que esta situação possa vir a provocar na nossa atividade e na dos nossos motoristas”.

Na terça-feira, contudo, revelaram que tinha havido “uma quebra drástica no número de viagens realizadas“, fazendo com que uma compensação baseada nos “últimos 14 dias dos motoristas” fosse “um valor bastante reduzido a ser atribuído“.

“Quando a Kapten anunciou, a 10 de março, as primeiras medidas a serem tomadas tendo em conta a situação de pandemia, à data, ainda não tinha sido imposto o Estado de Emergência, o que levou a alterações drásticas no setor com o desaparecimento da procura, mas também com o lançamento de medidas para o setor”, justificou Sérgio Pereira, líder da Kapten Portugal.

Em resposta ao Observador, a 31 de março, a empresa referiu: “Estamos também a tentar encontrar e definir internamente outras medidas compensatórias com as quais possamos ajudar os motoristas nossos parceiros, que por serem trabalhadores independentes se encontram numa situação muito complicada e muito desprotegidos face a esta crise”.

Na manhã desta quarta-feira, a Kapten revelou que os motoristas “estão quase parados” e que tinha condutores “infetados com a Covid-19, parados por esse motivo”, acrescentando que toda esta questão “é uma situação muito complicada para milhares de motoristas”.

A empresa disse também que está “a procurar novas formas elevar a faturação aos que continuam a trabalhar“. Esta procura é feita, diz a Kapten, “enquanto efetuamos parcerias solidárias que, ao mesmo tempo, tragam algum rendimento aos motoristas como, por exemplo, as já efetuadas com a CML, a LPF e o Banco alimentar contra a fome ou oferta de crédito a dadores de sangue, entre outras”.

A Uber foi a primeira TVDE a anunciar que estaria a aplicar uma compensação em caso de quarentena. Ao Observador, esta operadora empresa confirma que o continua a implementar, não revelando se tem casos para o fazer. Ao que o Observador apurou, a Uber já procedeu a pagamentos. A outra concorrente, a Bolt, que a 10 de março disse que não ia comentar o tema das compensações a motoristas e do novo coronavírus, não anunciou, até à data, medidas de apoio a condutores.

A Kapten, antiga Chaffeur Privé, opera em Lisboa, Vila Franca de Xira, Mafra, Ericeira, Alcochete, Montijo, Sesimbra, Setúbal e Porto. A empresa, que foi lançada em França em 2012 (a alteração de nome dá-se em 2019), chegou a Portugal em setembro de 2018.

*Artigo atualizado às 20h20 de quarta-feira depois dos esclarecimentos finais da Kapten em relação à situação reportada por Tiago Afonso