Há “inúmeras” grávidas a serem sujeitas à indução do parto em instituições de saúde do país, um procedimento justificado pela pandemia da Covid-19, alertou hoje Mário Santos da Associação pelos Direitos da Mulher na Gravidez e Parto, em declarações à rádio Observador. A associação já recolheu relatos de, pelo menos, 100 mulheres.

Não há uma justificação clínica, o que existe é uma programação para que o parto aconteça num dia esperado, no dia em que o obstetra está lá, de forma a que, ilusoriamente, o parto aconteça em menos tempo e se possa reduzir o tempo de estadia”, explicou Mário Santos.

A “cultura de agendamento” e de programação de partos já existia nos hospitais portugueses, mas Mário Santos acredita que a pandemia do novo coronavírus veio “agravar e tornar mais visível” esta realidade.

Mário acredita que as mulheres estão “numa situação de desigualdade e nem sempre têm o poder do seu lado”, mas alerta que, legalmente, “têm a mesma margem” e que isso foi reforçado na carta que a associação enviou à Direção Geral de Saúde (DGS) sobre os vários relatos de grávidas. “Pedimos à DGS que torne isto muito claro: o direito ao consentimento informado não foi revogado. As grávidas têm o direito de dizer que sim ou que não a estas propostas de intervenção”, reiterou.

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Associação alerta DGS para “pandemia de partos” agendados

Muitas grávidas têm de decidir entre acatar a decisão de indução do parto, que acaba por ser “imposta”, segundo relata Mário Santos, ou “fazer disto uma luta para com os profissionais de saúde e tornar o seu trabalho de parto um momento de confrontação”. “Não há aqui uma verdadeira escolha, há a escolha da melhor solução dentro de duas muito más”, sublinha.

Mário Santos alertou ainda que a indução do parto não está isenta de riscos. “A questão que tem de ser balançada é entre os riscos e os benefícios e, neste caso, não há benefícios comprovados desta intervenção nesta situação”, explicou.

“Inúmeras” induções de parto por causa da Covid-19, alerta associação