A presidente do BCE, Christine Lagarde, pediu esta quinta-feira que os países europeus avancem com medidas “ambiciosas” para combater uma crise cuja “magnitude não tem precedentes, em tempos de paz”. Essas medidas devem basear-se, “designadamente, em medidas conjuntas e coordenadas para proteger a economia dos riscos negativos e para impulsionar a recuperação”, diz Lagarde, dando as boas-vindas às medidas aprovadas pelo Eurogrupo e Conselho Europeu mas pedindo mais.

Na conferência de imprensa habitual após a reunião de política monetária, a presidente do Conselho do Banco Central Europeu adiantou, também, que o Produto Interno Bruto (PIB) da zona euro poderá cair entre 5% e 12% este ano, dependendo da duração das medidas de confinamento e do sucesso da recuperação que vier nos próximos meses. A responsável diz que há uma “grande incerteza” em relação àquele que será, no final de contas, o impacto desta crise – e, também, sobre a “rapidez e a escala” da retoma.

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A presidente do BCE diz que esta crise económica começou por ser muito específica a certos setores, como o turismo, os transportes e o entretenimento, mas depois, com as medidas de contenção, a quebra generalizou-se. “O nosso cenário mais negativo para o segundo trimestre aponta para quebra de 15%, em base trimestral“, indicou a francesa, reconhecendo a dificuldade que sente qualquer pessoa ou entidade que queira, neste momento, fazer previsões macroeconómicas.

Depois de ler o comunicado, Christine Lagarde tomou um momento para assinalar de forma emotiva as mortes por Covid-19 – “cada morte é uma tragédia” – e agradecer aos profissionais de saúde que estão a trabalhar para conter a pandemia.

BCE não mexe nos juros e instrumentos principais, mas tenta estimular liquidez nos bancos

O BCE manteve as taxas de juro principais inalteradas mas fez pequenas alterações nas operações de refinanciamento à banca que estão em curso, empréstimos criados com o objetivo de conter os impactos da crise. A autoridade monetária optou, assim, por não dar novos passos significativos depois do programa de compra de dívida anunciado há poucas semanas. Mas deixou claro que está “pronta” para reforçar as principais medidas de combate à crise, garantindo que fará “tudo o que for necessário, dentro do mandato” para apoiar os cidadãos, as empresas e os países da zona euro.

Foram reduzidos os custos associados às operações de financiamento específicas que são conhecidas por TLTRO II, injeções de liquidez na banca com prazos longos e juros fixos. Os juros passam, até junho de 2021, a ser 50 pontos-base abaixo das taxas de juro médias na eurossistema a cada momento. Ou seja, potencialmente até -1%. Por outro lado, o BCE decidiu lançar mais um conjunto de operações de refinanciamento de emergência (menos localizadas do que as TLTRO) – batizadas de PELTROs – que serão sete operações a um preço fixo de 25 pontos-base abaixo da taxa de juro do BCE.

São duas decisões relevantes mas a autoridade monetária, de certa forma, “manteve as munições no bolso enquanto analisa o impacto das medidas já lançadas”, dizem os economistas do ING. O BCE decidiu não mexer no ritmo mensal de compras de dívida ao abrigo do programa normal de quantitative easing e, também, do programa de emergência de compras pandémicas (o programa PEPP), de 750 mil milhões de euros.

No dia 18 de março, sem esperar pela sua habitual reunião de política monetária, o BCE anunciou um “programa de compra de ativos de emergência devido à pandemia” (PEPP), prevendo comprar 750 mil milhões de euros de dívida pública e privada. Os analistas acreditam que esse valor vai ser aumentado, mas o BCE decidiu não o fazer, para já. Mas Lagarde já admitiu, esta quinta-feira, que esse programa poderá ser prolongado para além de 2020.

A decisão de manter os principais instrumentos inalterados demonstra que o BCE primeiro quer avaliar o impacto das medidas recentes. Além disso, o banco central também quer, provavelmente, manter algumas munições no bolso. Até porque essas munições vão ser necessárias, com os números do PIB que saíram hoje a dar-nos uma primeira ideia de quão grave a crise na zona euro é”, diz o ING.

Christine Lagarde sucedeu a Mario Draghi como presidente do Banco Central Europeu.