O ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital, Pedro Siza Vieira, admitiu esta quinta-feira que o sistema bancário “está a ajudar a amortecer o impacto” da crise económica provocada pela pandemia da Covid-19 — apesar de reconhecer que “é impopular” dizê-lo porque “há muitas queixas dos bancos”.

Se olharmos para a fotografia à distância, aquilo que estamos a ver, é que, neste momento, o sistema bancário no seu conjunto está a ajudar a amortecer o impacto, de uma maneira que há 10 anos não se verificou”, disse em declarações ao podcast do Partido Socialista.

O contexto atual é diferente do vivido há 10 anos. O governante considera mesmo que os bancos se têm “comportando de forma bastante diferente daquela que há 10 anos se comportaram” — o que, diz, “é normal”.E explica: “Há dez anos tivemos uma crise que começou no setor financeiro e que depois se coligou à economia. Em 2008, as taxas de juro subiram brutalmente e deixou de haver crédito à empresas“.

Siza Vieira: “É preciso que os bancos façam chegar o dinheiro rapidamente às empresas”

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Agora, a situação é “completamente diferente”. “Temos um setor financeiro que está mais capitalizado, menos crédito mal parado do que tinha há dois ou três anos e, portanto, está mais sólido e com muita liquidez para emprestar”, explica Siza Vieira, concluindo:

Nós agora temos uma crise na economia. As empresas fecharam, as pessoas ficaram em casa e não consomem”.

O ministro da Economia explica assim que aquilo que está a ser verificado agora é que o setor financeiro “está a continuar a dar mais crédito do que é habitual” e “a dizer aos seus devedores: nós temos condições para aguentar os pagamentos que tinham de nos fazer”. “Está a permitir amortecer bastante o impacto desta crise no setor económico“, acrescenta ainda.

“Abril terá sido o pior mês e o momento de maior impacto negativo”

Explicando que “o Governo ainda não fez as suas projeções”, Siza Vieira diz acreditar, pessoalmente, que a crise poderá ser mais profunda “neste segundo semestre”. “O primeiro trimestre provavelmente já foi de alguma contração. Tivemos janeiro e fevereiro com um crescimento muito importante, mas em março houve uma quebra da atividade económica. Abril terá sido o pior mês e o momento de maior impacto negativo“, diz, acrescentando que “maio será melhor”.

O ministro da Economia considerou ainda que é preciso “estarmos preparados para ter uma contração significativa no segundo trimestre deste ano”, ou seja, abril, maio e junho. Mas acredita também que o terceiro e quarto trimestre serão já “de crescimento”.

Siza Vieira também vê como “provável que o desemprego vá subir”. Questionado sobre se o país pode atingir os níveis de 2013, o governante diz esperar “que fiquemos abaixo”, até porque “é isso que as projeções de várias instituições internacionais apontam”. “Neste momento temos uma travagem muito mais brusca do que tivemos há 10 anos, mas também temos uma expectativa de uma retoma em toda a economia mundial a partir do segundo semestre. Tivemos também agora mecanismos que permitiram amortecer o impacto dessa quebra brusca”, explica o ministro.

TAP. Se Estado entra com dinheiro, tem de mandar. “É inevitável”

O ministro considerou ainda que “a TAP é verdadeiramente uma empresa estratégica” e diz estar “convencido” na necessidade da companhia aérea: pela localização geográfica do país, pelo ligação que permite às comunidades portuguesas no estrangeiro e porque “a TAP conseguiu ter uma posição já muito significativa no mercado”. O governante defende, no entanto, que, se o Estado tiver de entrar com dinheiro, é “inevitável” que tem de mandar.