Nem a pandemia, nem o estilo fizeram Rui Rio facilitar: Mário Centeno tem de ser demitido. Desde que chegou à liderança do PSD, Rui Rio só tinha pedido a demissão de Azeredo Lopes no caso de Tancos e agora voltou a fazê-lo. Primeiro através do Twitter, depois com uma declaração nos Passos Perdidos no Parlamento. Para Rui Rio, Mário Centeno “não tem condições para continuar no cargo“, já que “não foi leal ao primeiro-ministro“. O líder do PSD espera que Centeno já não apareça esta quinta-feira no Parlamento para o debate do Programa de Estabilidade.

Rui Rio lembrou que Mário Centeno colocou-se numa “situação insustentável” depois da “crítica do Presidente da República, de esta tarde a bancada do PS já não o ter defendido e de ter dito esta manhã que seria irresponsável não se pagar [850 milhões de euros ao Novo Banco] e esperar pela auditoria, como defenderam o primeiro ministro e o Presidente”. Ora, conclui Rio, Mário Centeno “está a dizer que o primeiro-ministro e o Presidente são irresponsáveis”.

O presidente do PSD diz que tem de ser António Costa a tomar a decisão, mas deixa claro: “Se eu estivesse no lugar do primeiro-ministro, depois do que se passou, se ele não se demitisse, seria demitido“. Minutos antes da declaração no Parlamento, Rio já tinha deixado críticas a António Costa: “Mal vai um primeiro-ministro que mantém um ministro que não lhe foi leal, que tem a crítica pública do Presidente da República, que a bancada do PS não defendeu e que diz ser irresponsável fazer o que o primeiro-ministro anunciou”.

O líder social-democrata diz que “se estava mal” com a “prestação” esta quarta-feira na Assembleia da República, “Centeno ainda ficou pior”. Rui Rio admite que este tempo de pandemia não é o “desejável” para a saída de Centeno, mas diz que “se fosse há um mês atrás, talvez fosse pior” e que não há outra opção senão sair.

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Quanto ao silêncio de António Costa, Rui Rio diz que o compreende se “o silêncio se for durante algum tempo para reflexão e decidir o que vai fazer, mas não se for ad eternum. Se demorar muito, deixo de entender”.

Em outubro de 2018, Rui Rio também já tinha pedido a demissão de um ministro, Azeredo Lopes, exatamente nos mesmos termos: “Se eu fosse primeiro-ministro, o ministro da Defesa já tinha saído. Penso até que, através de conversas a dois, ele teria saído pelo seu próprio pé”.

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Meses antes, em maio, a bancada do PSD tinha pedido a demissão do ministro da Saúde, mas Rui Rio prontificou-se a desautorizar a bancada social-democrata. Na altura, questionado sobre se o PSD poderia pedir a demissão do ministro, afirmou: “Pode, mas não é propriamente o meu estilo“.

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Minutos após as declarações de Rui Rio, também no Parlamento, o vice-presidente da bancada do PS, João Paulo Correia, disse que o presidente do PSD “fez declarações abusivas sobre aquilo que foi o debate desta tarde”. O deputado do PS lembrou que o debate não tinha por objetivo “saber se o ministro das Finanças, Mário Centeno, foi, é ou será ministro das Finança”, algo que, do ponto de vista da bancada do PS, não é “minimamente discutível”.

João Paulo Correia considera que “Rui Rio quis desviar aquilo que foi o debate desta tarde para uma certa teoria da conspiração” e deixou elogios a Mário Centeno: “O senhor ministro das Finanças tem feito um trabalho notável ao serviço do país”.

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O ministro das Finanças, Mário Centeno, autorizou uma transferência de 850 milhões de euros para o Novo Banco sem dar disso conhecimento ao primeiro-ministro. Esta quarta-feira ministro Mário Centeno e o secretário de Estado Mourinho Félix deram explicações ao Parlamento, mas nem o PS defendeu os governantes. Para piorar tudo o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, deu um puxão de orelhas público ao ministro das Finanças.

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Também o deputado do PSD, Duarte Pacheco, tinha dito esta quarta-feira de manhã que o primeiro-ministro deveria “exercer a sua autoridade” e lembrou que “outros ministros no passado foram afastados por omissões bem menos graves do que estas”.

Já esta quarta-feira o eurodeputado e chefe de delegação do PSD no Parlamento Europeu tinha pedido a demissão de Mário Centeno em declarações no programa “Casa Comum” da Rádio Renascença. Rangel defendeu que “em qualquer país normal (…) se um ministro das Finanças ocultou – ele já disse que ocultou -, evidentemente que ele tem que tirar consequências disso. Ou tem de ser demitido ou tem de se demitir”.