A revista Máxima vai chegar ao fim. A decisão de terminar a publicação foi anunciada pela Cofina, detentora do título, na sexta-feira à tarde. A próxima edição, com capa de junho, será a última e a de julho já não irá para as bancas. A decisão do grupo liderado por Paulo Fernandes, e que também é detentor de títulos como o Correio da Manhã, Jornal de Negócios, Record e Sábado, foi justificada com “o comportamento do mercado”. No comunicado, não se explica o que irá acontecer aos trabalhadores da revista.

“A decisão de deixar de publicar a Máxima, publicação de referência na moda e no lifestyle nacional desde 1988, prende-se com a evolução do consumo e do comportamento do leitor, bem como com a crise que os media atravessam e que se agudizou no contexto da pandemia”, lê-se na nota da Cofina, onde se acrescenta que o grupo “continuará a apostar no segmento de moda e lifestyle, em moldes mais ajustados ao novo paradigma de mercado”.

“A Cofina Media não pode deixar de agradecer a todos quantos, ao longo de mais de três décadas, deram o seu melhor, elevando a publicação ao patamar de referência no seu segmento”, prossegue o grupo.

Segundo o mais recente relatório da APCT, referente a 2019, a revista vendeu em média 20.866 exemplares, uma quebra de 22% em comparação com o ano anterior, e larga distância dos valores que o mercado permitia à época do seu lançamento e anos seguintes.

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O primeiro número da Máxima, lançado em outubro de 1988

Corria outubro de 1988 quando a Máxima, inspirada no conceito da francesa Madame Figaro, se estreou nas bancas nacionais, apanhando boleia de uma Lisboa efervescente e então propriedade da Sociedade Editorial S.A. “A “farda” composta nos dias de hoje por calças de ganga, blusas ou T-shirts não se havia imposto, ainda que fossem peças ubíquas misturadas com outras mais glamorosas, e os sneakers não tinham substituído os sapatos. O consumo de moda não estava ainda democratizado e massificado e os portugueses não tinham despertado para o culto das marcas. O pronto-a-vestir desenvolvia-se a olhos vistos. Na roupa feminina, os casacos tinham os ombros muito chumaçados, o fato de inspiração masculina reinava, o tweed e a malha eram virais, os plissados, as saias muito curtas e os casacões-maxi ressurgiam, as cores bordeaux, castanho-escuro, preto, cinzento e vermelho em roupas de design mais contido antecipavam o minimalismo que surgiria nos anos 90.”

Em dezembro de 2010, numa saborosa viagem no tempo rumo ao final da década de 80, Manuel Dias Coelho, atual diretor da revista, pintava o quadro de uma capital que pincelava os seus dias e noites com as mesas do Pap’Açorda e a pista de dança do Frágil, hábitos a que se juntava o gosto e literacia crescentes sobre o universo do lifestyle. As primeiras revistas de moda, palco de estreantes produções e montra privilegiada de uma novíssima e enérgica fornada de talentos, surgiram nesse final de 1988. À Máxima juntavam-se títulos como Elle e Marie Claire, que haveriam de divulgar e impulsionar o trabalho de uma legião de designers, fotógrafos, manequins, e demais profissionais de um setor em ebulição, com nomes como Ana Salazar, Manuel Alves e José Manuel Gonçalves, Mário Matos Ribeiro e Eduarda Abbondanza, ou José António Tenente, enquanto pontas de lança de um novo movimento.

A edição de outubro de 2015

Muito longe de ancorar conteúdos unicamente na roupa — ou de a tratar simplesmente como tal — para o arranque, a Máxima, que ainda vinha do tempo da popular Maçã e da resistente Porfírios, apostava em eixos que haveriam de marcar o ritmo ao longo dos anos. Entre entrevistas e crónicas por punhos de referência (como essas confissões de Miguel Esteves Cardoso) e temas explorados para lá da espuma dos dias ou da leveza de um vestido de chiffon (não sobrevivem as crises no casamento até hoje), não faltava sumo àquela que começou por ser anunciada, ao dar os primeiros passos, como “A revista da mulher portuguesa”, bandeira de uma nova forma de fazer jornalismo. O primeiro número, com boa entrada no mercado, terá contado com um tiragem superior a 45 mil exemplares e acabou esgotado.

Se em 1991, a primeira página da Máxima acomodava os ecos da Guerra do Golfo, o tratamento de temas como o assédio sexual no trabalho ou o abuso sexual de crianças, haveriam de granjear distinções. Em março de 2015, organizava a exposição “100 Homens Sem Preconceitos: Um Passo Pela Igualdade”.