O anúncio foi feito por Giuseppe Conte no passado sábado, dia 9 de maio: Silvia Romano, a cidadã italiana de apenas 24 anos raptada em novembro de 2018, no Quénia, tinha sido finalmente resgatada ao grupo terrorista que a mantinha refém e em breve regressaria a casa. “Silvia, estamos à tua espera em Itália!”, exclamou o primeiro-ministro no Twitter, depois de agradecer aos homens e mulheres que tornaram a operação possível.

A fazer voluntariado numa organização não governamental italiana, raptada da cidade de Chakama, no Quénia, e entretanto transferida a pé para a vizinha Somália, onde depois de uma viagem de quatro semanas foi entregue ao grupo terrorista islâmico Al Shabab, Silvia chegou finalmente a Itália nesse mesmo dia, depois de uma bem sucedida operação, conduzida pelos serviços secretos italianos com a colaboração do governo turco.

O regresso foi como uma espécie de pedrada no charco de más notícias que desde o início da pandemia tem mantido o país submerso: finalmente havia um motivo para festejar. Nos jornais e nas redes sociais, multiplicaram-se as declarações de boas-vindas à jovem, talvez ainda mais efusivas do que aquelas com que Luca Tacchetto, outro italiano resgatado a terroristas islâmicos, menos de dois meses antes, no Mali, tinha sido brindado no regresso a casa.

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Depois, Silvia assomou à porta do avião que a trouxe de regresso a Roma, sorridente e coberta por um véu islâmico verde, e os ânimos começaram a acalmar. Daí até se tornar público que, durante o cativeiro, se tinha convertido ao Islão e decidira mudar o nome — para Aisha, como a esposa preferida do profeta Maomé —, foi um instante.

Nas redes sociais, ato contínuo, explodiram os insultos — “Silvia, a ingrata” será o apodo mais brando que recebeu —, e depois deles vieram as ameaças de morte. Desde segunda-feira que a polícia não abandona a rua de Milão onde a jovem vive e a procuradoria local abriu entretanto um inquérito para investigar as ameaças de que tem sido alvo.

O facto de entretanto ter começado a correr o rumor, não confirmado, de que o governo teria pago uma avultada quantia ao grupo terrorista em troca da libertação da voluntária só veio acicatar ainda mais os ânimos e o ódio contra Silvia Romano, com a extrema-direita populista, encabeçada pelo ex-ministro Matteo Salvini e a sua Liga, à cabeça, analisou o espanhol El Confidencial.

“Pelo que me diz respeito, a partir de amanhã, Itália nunca mais devia pagar um resgate”, disse Salvini em entrevista, na passada quinta-feira.

Apesar de ainda não se ter pronunciado publicamente, no mesmo dia Silvia Romano deixou uma mensagem no seu mural de Facebook, acessível apenas a amigos: “Peço-vos que não se zanguem para me defenderem. Para mim o pior já passou. Sempre segui o meu coração e ele nunca me traiu”, citou o New York Times.

No depoimento que deu às autoridades italianas, assim que pisou solo italiano, a jovem voluntária explicou que foi sempre “bem tratada” pelos carcereiros e garantiu que se converteu ao Islão “de forma totalmente espontânea e não forçada”.

“Durante os primeiros dias não fiz mais do que chorar, mas depois enchi-me de coragem e encontrei o meu equilíbrio interior. Pouco a pouco foi crescendo dentro de mim uma maturidade que me convenceu a converter-me ao Islão. Aconteceu a meio do meu cativeiro, quando pedi para ler o Corão”, disse Silvia Romano durante o interrogatório, que se prolongou por quatro horas. “Graças aos meus carcereiros também aprendi um pouco de árabe. Explicaram-me as suas razões e a sua cultura. O meu processo de conversão foi lento, e aconteceu nos últimos meses.”