Qual a relação entre os criadores e os novos palcos digitais? Como se programa a cultura em época de distanciamento social? A comunicação dos espaços culturais mudou? Estes e outros temas atuais serão debatidos em cinco conversas online promovidas pelo Teatro Municipal do Porto (TMP). “A ideia surge da reflexão sobre como as instituições culturais saltaram para o online. O que vimos durante a pandemia foi uma precipitação normal de algumas instituições para o online, nomeadamente com a transmissão de espetáculos, nem sempre com as melhores condições de visualização”, refere Tiago Guedes, diretor artístico do TMP, ao Observador.

O responsável defende que a aposta online do TMP foi ponderada e revela que a próxima programação 2020/2021, a ser anunciada em breve, será tanto analógica como digital. “Antes de começar a temporada há que refletir sobre isso, como é que as instituições vão rever a sua maneira de funcionar?”. Tiago Guedes acredita que o teatro “não pode deixar de ser um lugar de encontro, comunhão e de partilha ao vivo”, sendo atualmente “um dos raros sítios onde isso pode e deve acontecer”. No entanto, o diretor artístico admite que o online é uma possibilidade, principalmente numa altura em que o TMP ao reabrir portas, e mantendo as normas atuais da Direção Geral de Saúde, terá apenas 50% da sua lotação habitual. “É importante pensar no que pode existir no online que não seja só uma extensão, mas que seja algo próprio e pensado para determinada plataforma.”

Pensar sobre os novos desafios, perspetivando o futuro, é o objetivo do programa “Nada ficou no lugar, e agora?”, onde todas as quintas-feiras, entre 18 de junho a 16 de julho, sempre às 18h30, três convidados e um moderador da equipa do TMP vão debater sobre temas como a criação, a programação, a comunicação, a gestão ou a mediação de públicos.

O primeiro encontro do ciclo será dedicado à relação entre criadores e a crescente realidade dos palcos digitais, tendo em conta que no online ainda não é possível substituir a experiência física e sensorial de um espetáculo ao vivo. Em debate estarão o cineasta e encenador Marco Martins — realizador de filmes premiados como São Jorge (2016), Alice (2005) e cofundador da companhia de teatro Arena Ensemble –, o ator e encenador José Nunes (cofundador da Estrutura) e a coreógrafa Catarina Miranda. Juntos vão estar à conversa com Cristina Planas Leitão, assistente de programação do TMP.

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Victor Hugo Pontes é encenador e coreógrafo e irá participar na última conversa sobre mediação de públicos

A gestão cultural será o tema central do segunda conversa, agendada para o dia 25 de junho, que contará com Carla Bolito (atriz), Cláudia Belchior (Presidente do Conselho de Administração do Teatro Nacional D. Maria II) e Cláudia Galhós (jornalista do Expresso). Com moderação de Francisca Carneiro Fernandes (Diretora Executiva do Teatro Municipal do Porto), as convidadas tentarão “responder a várias questões que resultam deste contexto provocado pelo surto de Covid-19 e que envolve equipas, artistas e público ‘num triângulo de contornos incertos'”.

No próximo mês, a 2 de julho, é a vez do próprio Tiago Guedes, diretor artístico do TMP, moderar uma conversa, onde em cima da mesa estarão “varias questões relacionadas com a forma de programar em tempos de distanciamento físico”. Aida Tavares (diretora artística do São Luiz Teatro Municipal, em Lisboa), Renan Martins (bailarino e coreógrafo) e de Nayse López (diretora do festival Panorama, no Rio de Janeiro) serão os convidados de um encontro que não irá ignorar a atuação do governo de Bolsonaro, que não só extinguiu o Ministério da Cultura como cancelou o apoio financeiro a um dos mais importantes eventos de artes performativas na América do Sul.

Joana Barrios (atriz e apresentadora), Bernardo Mendonça (jornalista e autor do podcast de conversas A Beleza das Pequenas coisas, no Expresso) e João Vasconcelos (diretor executivo do Canal 180) vão pensar sobre os novos desafios que neste momento são colocados à comunicação dos espaços culturais e “que poderão passar pela a adoção de novas ferramentas e de novos formatos para a criação de conteúdos online”. A conversa será moderada por José Reis, coordenador de comunicação do TMP, no dia 9 de julho.

Joana Barrios, atriz e apresentadora, integra o painel de convidados no debate sobre os novos desafios da comunicação cultural

O ciclo termina no dia 16 de julho com um debate dedicado à mediação de públicos e como o digital poderá influenciar o desenho de projetos participativos, educativos ou de intervenção comunitária. A conversa, orientada por Ana Cristina Vicente, coordenadora do Paralelo – Programa de Aproximação às Artes Performativas do TMP, contará com a intervenção do autor e compositor Pedro Abrunhosa, do coreógrafo e encenador Victor Hugo Pontes e da socióloga Teresa Duarte Martinho.

Todas as conversas online são de acesso gratuito e encontram-se disponíveis no site do Teatro Municipal do Porto.