Os presidentes das câmaras do Porto e de Gaia reuniram-se esta quarta-feira para definir as estratégias de segurança para a noite de São João. As medidas passam pela interdição da ponte Luís I e pelo encerramento antecipado de lojas de conveniência e dos serviços de transportes. Os autarcas recomendaram ainda o adiamento do jogo entre F. C. Porto e Boavista, que está previsto para a noite de 23 de junho.

Numa nota publicada na página oficial da autarquia do Porto com o título “Porto e Gaia reuniram com transportes e polícias para evitar festejos de São João e recomendar adiamento do jogo FC Porto – Boavista”, é descrito que Rui Moreira e Eduardo Vítor Rodrigues, com receio do ajuntamento de adeptos, vão “manifestar ao Governo, às autoridades de saúde e à Liga Portugal, a sua preocupação acerca da realização do jogo de futebol entre o FC Porto e o Boavista”.

“Não podendo tomar medidas acerca da realização de jogos de futebol ou do funcionamento de determinadas superfícies comerciais, as entidades presentes vão pedir ao Governo que as assuma também, para que a tentação de festejos na noite de São João não venha a comprometer os resultados muito positivos que a região e as duas cidades em particular têm conseguido na luta contra a Covid-19”, lê-se na publicação.

O dérbi concelhio FC Porto – Boavista, a contar para a 28.ª jornada da I Liga portuguesa em futebol, está marcado para o Estádio do Dragão, às 21h15 de terça-feira, dia 23 de junho, noite tradicionalmente ligada às comemorações do São João nas cidades do Porto e de Vila Nova de Gaia.

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Na mesma publicação, a câmara do Porto dá conta de que é “parecer da PSP” que “o encontro [de futebol] poderá ser um foco de concentração indesejado de adeptos”, razão pela qual é sugerido o seu adiamento.

“Recorde-se que os restantes jogos onde intervêm os clubes com mais adeptos, foram todos agendados para dias de semana, exatamente pelas mesmas razões, pelo que não faria sentido a realização do dérbi da cidade, logo na noite de São João”, conclui a nota

Já em declarações à Rádio Observador, Eduardo Vítor Rodrigues lembrou que, “atendendo à efervescência em que está o campeonato”, o aglomerado de adeptos no exterior do estádio “pode vir a tornar-se um perigo”.

“É infrutífero estar a tratar da noite de São João, se na mesma noite deixarmos de ter um arraial e passarmos a ter um encontro de claques na cidade e nas zonas envolventes. O bom senso levaria a que nunca se marcasse um jogo destes para a noite de São João e, portanto, só quero acreditar que houve aqui uma distração”, defendeu.

Questionado sobre se tinha havido um diálogo prévio com o F.C. do Porto e o Boavista, o autarca de Gaia realçou que a segurança das pessoas é “um bem maior” e que, por essa razão, as autarquias estão apenas a abordar as autoridades decisoras.

“O F.C. do Porto e o Boavista sabem das nossas inquietações. Não lhes perguntamos se estão de acordo ou não porque a nossa preocupação não depende do acordo dos clubes”, acrescentou Eduardo Vítor Rodrigues.

A câmara do Porto indica também que ficou decidida “a interdição da ponte Luís I [que faz a travessia sobre o rio Douro], tanto para circulação automóvel como pedonal em ambos os tabuleiros”.

Na noite do dia 23 de junho, terça-feira da próxima semana, também as lojas de conveniência e dos serviços de transportes encerrarão mais cedo.

Estas são medidas anunciadas esta tarde, após uma reunião que serviu para “consolidar os procedimentos a assumir quanto à noite de São João” que juntou os presidentes da câmara do Porto e de Vila Nova de Gaia, e os responsáveis pela PSP, Polícia Municipal, Proteção Civil Municipal, Comboios de Portugal (CP), Metro do Porto e Sociedade Transportes Coletivos do Porto (STCP).

“As cidades do Porto e de Vila Nova de Gaia têm tido notificações residuais de casos de Covid-19, desde o início do mês de junho, estando o município do Porto há 12 dias sem qualquer caso reportado nos boletins da DGS [Direção-Geral da Saúde]”, lê-se na publicação da autarquia liderada pelo independente Rui Moreira.

O anúncio de medidas concretas para a noite de São João, que habitualmente leva milhares às ruas do Porto e de Vila Nova de Gaia, concelhos que tradicionalmente dividem a sua organização, surge depois de a 4 de abril, no mesmo dia em que Lisboa avançou com o cancelamento das festas de Santo António, ter sido tornado público que também os festejos são-joaninos estavam cancelados.

No anúncio desta quarta-feira, as câmaras do Porto e de Gaia reafirmam que “todas as festividades oficiais do São João” estão canceladas, nomeadamente concertos e o fogo-de-artifício tradicional no rio Douro.

Ainda de acordo com a nota publicada na página camarária, a empresa Metro do Porto “concordou também em terminar a sua operação mais cedo do que o normal na noite do dia 23”, enquanto a CP está “a estudar a supressão de serviço entre as estações de Campanhã e São Bento no período noturno” e a STCP “a avaliar a supressão das linhas da rede de madrugada para desincentivar os movimentos pendulares”.

Já a Câmara do Porto avança que determinou “o encerramento efetivo, sem permanência de clientes no seu interior”, de estabelecimentos de restauração e bebidas a partir das 23h e de outros estabelecimentos de venda de bebidas para o exterior, medida na qual se incluem cafés, pastelarias, lojas de conveniência e outros estabelecimentos comerciais de atividade similar, essas a partir das 19h.

“A Câmara do Porto já tem na rua, desde hoje, uma campanha publicitária apelando a comportamentos responsáveis na noite de São João, como aliás, os recentes Conselhos Municipais de Segurança e Economia tinham desafiado o município a fazer. Da realização dos Conselhos Municipais, realizados na passada semana no Teatro Rivoli, e da reunião de hoje, convocada por Rui Moreira, resultou também o reforço de ações de fiscalização, patrulhamento e gestão de limpeza urbana, por forma a eliminar precocemente quaisquer focos de potencial infeção”, lê-se ainda na nota.

Na segunda-feira, também o autarca de Vila Nova de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues, em declarações aos jornalistas após uma reunião de vereação, fez um apelo a que “todos festejem em casa e quem vá a restaurantes ou esplanadas cumpra as regras”.

O autarca contou, ainda, que a Câmara de Vila Nova de Gaia vai distribuir manjericos pelas escolas que estão abertas devido às aulas presenciais do 11.º e 12.º anos, bem como infantários e instituições particulares de solidariedade social, hospital e juntas de freguesia em jeito de “ação de sensibilização, mas também de simbolismo”.

“É importante que se perceba que isto [pandemia] ainda não acabou, mas temos a noção de que as pessoas estão cansadas e vivem muito estas datas. Mas na noite [de São João] vamos exigir disciplina. A polícia andará na rua a fiscalizar”, disse Eduardo Vítor Rodrigues.

A pandemia de Covid-19 já provocou mais de 443 mil mortos, incluindo 1.523 em Portugal.