Na terça-feira, o Facebook reuniu-se com líderes de grupos civis que lideram o boicote que marcas como a Coca-Cola, Univelever ou a Adidas, entre outras 500, estão a fazer à empresa liderada por Mark Zuckerberg. Como referiu Rashad Robinson, presidente da Color of Change e uma das caras do boicote, o objetivo era exigir mais ação contra o discurso de ódio nas plataformas do Facebook (a rede social com o mesmo nome, o Instagram e o WhatsApp). Porém, diz que o resultado foi “dececionante [disappointing]”, avança o The Guardian.

“Chegamos ao ponto em que temos de dizer basta”. O que diz um dos líderes do boicote ao Facebook

A conversa aconteceu a pedido do Facebook e demorou uma hora. Por videochamada, participou Mark Zuckerberg e Sheryl Sandberg, diretora de operações e braço direito do presidente executivo. Do outro lado, além de Robinson, estavam os responsáveis que têm conseguido manter este boicote. Contudo, avança Robinson, a empresa não apresentou soluções. Robinson e os outros líderes têm sido claros no que pretendem: um controlo maior da plataforma quanto ao discurso de ódio, podendo restringir a liberdade de expressão,  numa altura em que as desigualdades raciais têm sido constatadas, principalmente nos EUA.

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“O Facebook apareceu nesta reunião à espera de nota 20 para participação ”. “Porém, a presença apenas não é suficiente. Neste momento, esperávamos respostas muito claras para as recomendações que colocamos em cima da mesa, e não conseguimos isso. Não chegámos ao cerne desses problemas”, continuou.

Estes líderes têm várias exigências. A principal é a de que o Facebook tenha verdadeiros peritos em direitos civis para continuar a desenvolver os seus produtos, referiu Robinson na terça-feira. Além disso, os responsáveis da campanha querem que o Facebook apague grupos públicos e privados que falem de “supremacia branca, antissemitismo, conspirações violentas, negação do Holocausto, desinformação contra as vacinas e negação do aquecimento global”, refere o The Guardian. Contudo, a empresa tem levantado reticências quanto a este assunto, ao contrário de um dos principais rivais, o Twitter.

No Twitter, alguns tweets do Presidente dos EUA, Donald Trump, têm sido retirados ou passaram a incluir notas a referir que continham alguns conteúdos falsos. Por outro lado, o Facebook não tem feito o mesmo, defendendo que isso é interferir no debate político e da sociedade. Mesmo assim, a empresa afirmou que tem retirado informação falsa das suas redes sociais, para combater a desinformação.

Não obstante, o resultado desta reunião já era algo esperado. De acordo com declarações de Zuckerberg que vieram a público na semana passada, e que foram posteriormente confirmadas pela empresa, a posição da rede social é uma: “Não mudaremos as nossas políticas ou abordagem em nada por causa de uma ameaça a uma pequena percentagem da nossa receita ou a qualquer percentagem da nossa receita”.

Robinson refere que, quanto à principal exigência, de a empresa ter peritos em direitos civis, é algo que vai considerar. No entanto, Zuckerberg e Sandberg terão afirmado que não colocarão esta contratação num lugar de topo na liderança da empresa, como estes ativistas pretendem. “Quase não basta quando estamos a falar em combater o ódio”, diz ao mesmo jornal Jonathan Greenblatt, diretor executivo da Liga Anti-Difamação, outros dos grupos que tem promovido o boicote.

Auditoria externa diz que o Facebook contribuiu para um retrocesso nos direitos civis

No mesmo dia em que é conhecido o resultado desta da reunião, foi também revelado o resultado de uma auditoria externa ao Facebook levada a cabo por Laura Murphy and Megan Cacace, especialistas em direitos civis. Resultado? O Facebook tem melhorado a plataforma mas tomou “decisões dolorosas nos últimos nove meses com consequências no mundo real que são sérios reveses para os direitos civis”.

O relatório de 89 páginas foi feito com a colaboração da empresa e é um resultado de uma auditoria que começou em 2018. Este foi o mesmo ano em que foi foi revelado que a empresa de análise de dados Cambridge Analytica utilizou informação da rede social para influenciar eleições e o Facebook não agiu.

“Este relatório descreve uma série de medidas positivas e consequentes que a empresa tomou, mas, neste momento da história, os Auditores estão preocupados com o facto de que esses ganhos possam ser obscurecidos pelas decisões incómodas e desoladoras [“vexing and heartbreaking“] que o Facebook tomou que representam reveses significativos para os direitos civis”, diz Murphy.

No Facebook, Sheryl Sandberg reagiu a este relatório dizendo que este relatório é apenas o início do trabalho que o Facebook tem vindo a realizar: “Temos um longo caminho a percorrer – mas estamos a progedir”.

A publicação de Sheryl Sandberg

O boicote de 530 empresas ao Facebook tem ganhado tração e visibilidade, principalmente depois de a Coca-Cola ter afirmado que, “durante um mês”, ia cessar todos os recursos que investe em marketing digital nas redes sociais. Contudo, daqui a um mês o cenário pode mudar e o Facebook pode não ser obrigado a ceder às pressões. Não se sabe o peso económico ao certo que estas marcas têm na atividades das redes sociais de Zuckerberg, podendo até ser um boicote irrelevante do ponto de vista económico.

Para já, o impacto direto que o Facebook teve devido a este boicote foi na valorização das suas ações. No final de junho, as ações do Facebook caíram cerca de 9% devido ao anúncio do boicote, um valor que tem vindo a ser recuperado.