Um movimento cívico em Gondomar denuncia que a água é mais cara 30% do que nos concelhos limítrofes e propõe-se convencer o município a reverter a concessão de 30 anos à empresa Águas de Gondomar, disse à Lusa o porta-voz.

O final de maio viu nascer no Facebook o Movimento Cívico em Defesa dos Interesses dos Consumidores das Águas de Gondomar, que já tem uma petição em curso e inicia esta quarta-feira, na Junta de Freguesia de Valbom, sessões de esclarecimento, a segunda fase da estratégia delineada para acabar com uma concessão criada em 2001 pela gestão de Valentim Loureiro, explicou Miguel Azevedo.

“Fizemos um estudo comparativo entre os municípios limítrofes e no segundo e terceiro escalão de consumo a água é mais cara em Gondomar cerca de 30%. Por vezes, o valor do metro cúbico de água ultrapassa em um euro a diferença na contagem da água”, explicou o membro do movimento que soma oito mil membros empenhados em mudar a opinião de Marco Martins, edil gondomarense.

Num quadro comparativo sobre a taxa de disponibilidade a que a Lusa teve acesso verifica-se que em Gondomar é de 6,1733 euros, bem acima dos valores praticados no Porto (3,4684), Vila Nova de Gaia (4,000), Maia (não tem) e Matosinhos (5,8393).

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Passando ao custo por escalão, em Gondomar, entre os 0 a 5 metros cúbicos, que corresponde ao primeiro escalão, é cobrado 0,7123 euros, enquanto no segundo escalão, entre os 5 a 15m3, sobe para 1,6146 euros e para os 3,0865 euros no terceiro escalão, entre 15 a 25m3. Fazendo a comparação, os restantes cinco concelhos cobram entre menos 0,1923 e menos 1,2436 euros.

A insatisfação, continuou, não se fica pelo preço da água, elencando que no “saneamento e na recolha dos resíduos Gondomar é o concelho mais caro da região”, criticando, por oposição, “a qualidade dos serviços que não se coaduna com o preço exagerado e por vezes abusivo”.

O “ativismo” com que reclamam “querem fazer avançar o processo” fê-los criar uma “petição online e em papel que já recolheu cerca de seis mil assinaturas” e que tem como horizonte, observou Miguel Azevedo, “a revisão do tarifário da água, saneamento e resíduos, baixando-o para a média dos concelhos vizinhos” bem como “tentar modificar os escalões de consumo ou o valor dos mesmos”.

Enfatizando “não terem tido os gondomarenses qualquer ajuda no período em que foram obrigados a permanecer em casa por causa da pandemia” reclamou, por isso, “a isenção da taxa de disponibilidade”, frisando que “muitos municípios não a utilizam”.

Tendo como “grande objetivo a médio prazo” a “reversão da concessão para a esfera pública [da gestão da água]” para que “possa ser um instrumento dos municípios para ajudar os cidadãos”, disse o porta-voz, o movimento vai em breve mostrar-se aos outros interlocutores.

“A petição será apresentada em breve às Águas de Gondomar e ao executivo da Câmara Municipal. Sabemos que a reversão não será fácil, mas partimos do pressuposto da boa-fé e do merecimento social que os gondomarenses têm, pois pagamos uma água excessivamente cara e está na altura de as Águas de Gondomar fazerem essa reversão”, declarou o responsável.

À “boa-fé” reclamada, Miguel Azevedo acrescenta “um parecer da entidade reguladora das águas (ERSAR – Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos) que diz que as Águas de Gondomar estão a praticar um preço alto, que têm de baixar o preço e que deve ser devolvido o valor a mais cobrado”.

No horizonte das conversações que querem iniciar, os membros do movimento têm também o facto de em “2021 a câmara ter de renegociar a gestão dos resíduos”, considerando que seria um “sinal muito importante da câmara para os gondomarenses tomar para si a gestão dos resíduos que, manifestamente, está um caos”. “Há sacos do lixo por toda a parte, é uma cidade suja”, acusou Miguel Azevedo.

Num breve regresso aos números o porta-voz denunciou “um acréscimo geral de 20% na fatura da água” e disse que “até a substituição dos contadores foi abusiva, porque os funcionários da empresa trocaram o contador e não forneceram a leitura, como é direito do utilizador“.

“Vamos falar com todos os partidos representados na Assembleia Municipal, incluindo o Movimento Valentim Loureiro, e perceber se estão do nosso lado, e também com o executivo da câmara, que terá toda a vantagem em escutar os seus munícipes. Mau era para a nossa democracia se o Marco Martins não nos quisesse escutar”, concluiu o responsável do movimento.