Um ano atípico em quase tudo e normal em quase nada: a France Football anunciou esta segunda-feira que, de forma excecional, não irá entregar a Bola de Ouro relativa ao ano de 2020. Esta será a primeira vez desde 1956, ano em que o troféu começou a ser atribuído, que a revista francesa não destaca o melhor jogador de futebol do ano.

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Numa comunicação publicada ao início da tarde desta segunda-feira, a France Football anunciou a “escassez de condições justas” e justificou “provisões excecionais” para “circunstâncias excecionais”. São sete os motivos apresentados e destacados pela revista francesa:

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Porque um “ano singular” não pode ser tratado “como um ano ordinário”. “Em caso de dúvida, é melhor abstermo-nos do que persistir”, refere a revista;

Porque a Bola de Ouro não celebra apenas a excelência desportiva mas também outros valores, como “o exemplo, a solidariedade e a responsabilidade”;

Porque a justiça inerente à atribuição do troféu não poderia ser preservada. “Principalmente a nível estatístico e também na preparação, já que nem todos os aspirantes ao prémio estiveram no mesmo barco, com alguns a verem a temporada terminar radicalmente e outros não. Como podemos comparar o incomparável?”, pode ler-se no comunicado;

Porque a France Football não quis colocar um asterisco que indicasse que o troféu tinha sido atribuído em circunstâncias excecionais devido à pandemia. “Vamos sempre preferir uma pequena distensão na nossa história do que uma grande cicatriz. Esta é a primeira vez desde 1956 que a Bola de Ouro fez uma pausa. O parêntesis não nos encanta mas parece-nos o mais responsável e lógico. Proteger a credibilidade e a legitimidade de um prémio destes também significa garantir a sua perfeição ao longo do tempo”, explica a France Football;

Porque só dois meses do ano civil, janeiro e fevereiro, foram realmente úteis para formar uma opinião e distinguir jogadores de forma equivalente. “Não nos podemos forçar a contar com temporadas cortadas, com tantas condições especiais, para eleger o melhor. O melhor de quê, aliás? Não seria merecedor da nossa história”, adianta a revista;

Porque a pandemia pode ter distraído ou divergido os 220 jurados espalhados à volta do mundo;

E porque a história da Bola de Ouro é “demasiado preciosa para arriscar estragá-la com um exercício vacilante”. Nestes tempos turbulentos, parar é um luxo e uma necessidade sem valor. Para que o futebol, como um todo, possa recuperar momentum, paixão e emoção”, termina o comunicado da France Football.

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A Bola de Ouro, ou Ballon d’Or na designação original, começou a ser atribuída em 1956 pela France Football e é a mais antiga distinção individual do futebol internacional. Entre 2010 e 2015, o troféu juntou-se ao World Player of The Year, atribuído pela FIFA desde 1991, e passou a chamar-se FIFA Ballon d’Or. A parceria acabou em 2016 e a France Football voltou a entregar o prémio unilateralmente, enquanto que a FIFA criou o The Best FIFA.

O primeiro vencedor, logo em 1956, foi o inglês Stanley Matthews, na altura ao serviço do Blackpool, com Alfredo Di Stéfano e Raymond Kopa a ocuparem o segundo e o terceiro lugares. Eusébio foi o primeiro português a conquistar a Bola de Ouro, em 1965, e foi o segundo mais votado em 1962 e 1966, sendo que Luís Figo recebeu a distinção em 2000. Lionel Messi, o último vencedor, é também o recordista absoluto, com seis Bolas de Ouro, enquanto que Cristiano Ronaldo tem cinco (2008, 2013, 2014, 2016 e 2017).

George Weah, o único africano a ter conquistado a Bola de Ouro, foi também o primeiro não-europeu a receber o prémio, precisamente em 1995, o ano em que as regras mudaram pela primeira vez e passaram a incluir outros jogadores que não apenas da Europa. Ronaldo, dois anos depois, foi o primeiro sul-americano a ganhar o troféu. Com uma superioridade natural dos médios e avançados e dos jogadores de ataque no geral, Fabio Cannavaro é ainda o único defesa a ter recebido a Bola de Ouro, em 2006, sendo que o soviético Lev Yashin é o único guarda-redes.