O enfarte do miocárdio sofrido por Iker Casillas no treino do FC Porto de 1 de maio de 2019 foi um baque para o plantel e restantes responsáveis dos dragões. O espanhol permaneceu no hospital alguns dias, teve alta para seguir a recuperação em casa com a família e cada jogo dos azuis e brancos tinha o guarda-redes no pensamento, a ser recordado por jogadores e treinadores em cada vitória como aconteceu com o Desp. Aves, com o Nacional e com o Sporting, onde nem o triunfo permitiu dedicar o Campeonato ao espanhol. Seguia-se a Taça de Portugal e Casillas fez questão de estar com a equipa, vendo o encontro numa bancada amovível do Jamor junto de não convocados e demais elementos do staff. Mais: quando Soares marcou o primeiro golo, foi ao banco buscar a sua camisola para lhe dedicar o momento. Todavia, e nas grandes penalidades, o FC Porto acabou por ser derrotado.

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Parecia que estava escrito que este plantel dos azuis e brancos teria de lhe dedicar uma grande conquista e o momento acabou por chegar um ano depois. Em versão dupla e com uma outra curiosidade: se no dia da vitória frente ao Sporting no Dragão, que carimbou o triunfo no Campeonato, o guarda-redes esteve apenas presente num relvado que não pisava há 14 meses e trocou cumprimentos, vídeos e fotografias com os jogadores portistas, esta noite, em Coimbra, foi mesmo parte integrante da festa na Taça de Portugal, no durante e no depois.

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Já no decorrer da segunda parte, e numa fase em que o FC Porto ganhava por 2-0, começou a ouvir-se quase uma claque no Estádio Cidade de Coimbra. Num primeiro momento ainda se pensou através da transmissão que seria um grupo de adeptos num edifício adjacente ao recinto a puxar pelos dragões mas cedo se percebeu que eram os jogadores não convocados (incluindo Zé Luís) e demais elementos do staff a puxar pelos companheiros. Entre eles, de chapéu e máscara, encontrava-se Iker Casillas. E não ficou por aí: já depois de todos terem recebido a medalha para os vencedores, o espanhol foi chamado para se juntar à equipa e levantou o troféu com o capitão Danilo, num momento seguido por um longo abraço com Sérgio Conceição, a quem iria mais tarde fazer rasgados elogios.

“Por detrás de cada treinador sério e com disciplina esconde-se também uma grande pessoa. Durante estes três anos pude comprovar que Sérgio Conceição é assim: exigente ao máximo e competitivo. Quer ganhar sempre e transmite isso aos seus jogadores. É fácil dizê-lo agora mas se nestes três anos o FC Porto conseguiu troféus e pôde lutar por eles, foi por causa deste treinador. Com as suas irritações, claro! Parabéns a todos os portistas! E claro, a todos os meus companheiros! Hoje demonstrámos essa raça que tanto define os adeptos deste clube. Uma temporada gloriosa!”, escreveu Casillas nas redes sociais, num final de temporada que deverá também significar uma mudança para Madrid, onde deverá aceitar o convite para ser conselheiro de Florentino Pérez.

O guarda-redes foi uma das grandes figuras da festa no dia em que outro guarda-redes, com metade da idade, fez história no FC Porto: Diogo Costa, campeão nacional e europeu júnior na última temporada, manteve a titularidade na Taça de Portugal, chegou ao 15.º encontro oficial nos dragões na presente época e tornou-se o mais novo de sempre a defender a baliza dos azuis e brancos numa final da competição, superando os registos de figuras míticas do clube como Vítor Baía ou Zé Beto. Em paralelo, o guardião de 20 anos formado no FC Porto passou também a ser o quarto mais novo de sempre numa final, atrás de Carlos Gomes, Rui Patrício e Ederson.