A Microsoft não quer comprar apenas o mercado norte-americano, canadiano, australiano e neozelandês do TikTok. Segundo o que está a ser avançado nesta quinta-feira pelo Financial Times, a gigante tecnológica está interessada em adquirir o negócio todo da app chinesa, incluindo Europa e Índia, contaram cinco fontes à publicação financeira.

Esta expansão dos mercados não incluiria a China, porque no país a ByteDance (empresa mãe) opera a app sob outro nome, Doyun. Apesar de não terem indicado em quanto ficaria a operação, fontes ouvidas antes pela agência Reuters falam num negócio que pode ascender a valores superiores a 50 mil milhões de dólares. Nem a Microsoft nem a ByteDance comentaram estas informações.

A tecnológica americana acredita que consegue finalizar as negociações até 15 de setembro — prazo estipulado por Donald Trump para o negócio, dizia a CNBC na quarta-feira, acrescentando que, a realizar-se, o negócio podia oscilar entre 10 mil e 30 mil milhões de dólares (entre 8,4 mil e 25,3 mil milhões de euros). O presidente dos EUA já ameaçou que, se não houver solução para o TikTok até 15 de setembro, este vai banir a aplicação do país.

O negócio entre a Microsoft e a ByteDance (a empresa mãe do TikTok) surge depois de o governo dos EUA ameaçar banir a app do país (onde conta com cerca de 80 milhões de utilizadores mensais) por “razões de segurança nacional”. Em causa está o receio de que a empresa esteja a usar a aplicação para obter dados sobre os utilizadores americanos e a entregá-los ao governo chinês.

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Depois de ter suspendido e retomado as negociações no fim de semana passado, a Microsoft está disposta a comprar as operações do TikTok nos EUA, Canadá, Austrália e Nova Zelândia, ficando responsável pela gestão e armazenamento dos dados dos utilizadores nestes países. A empresa liderada por Satya Nadella diz que já concordou com Donald Trump e que, se o negócio se concretizar, vai levar o código do TikTok da China para os EUA no prazo de um ano.

Depois de o presidente dos Estados Unidos ter afirmado que um negócio desta ordem teria de envolver também o Tesouro do país — que ficaria com parte do negócio –, também já se sabe que Steve Mnuchin, secretário do Tesouro norte-americano, tem estado “profundamente envolvido” nas conversas entre as duas empresas.

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Ainda antes de se saber das negociações da Microsoft, já o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, tinha sugerido o mesmo: restringir o acesso à aplicação em território norte-americano, por suspeitas de que Pequim estivesse a usar a rede social como um meio de monitorização e distribuição de propaganda.

Também Chuck Schumer, líder do Partido Democrata no Senado, tinha aplaudido em novembro de 2019 a instauração de uma investigação ao TikTok. O senador afirmava que este tipo de apps “armazena um conjunto enorme de informações pessoais que são acessíveis a governos estrangeiros, podem representar graves riscos para milhões de americanos”.

O TikTok tem vindo a negar consecutivamente as acusações de Donald Trump. A diretora-geral da app de partilha de vídeos para os Estados Unidos, Vanessa Pappas, já veio garantir que a rede social não planeia “ir a lado algum” e que estava orgulhosa dos 1.500 trabalhadores que tem no país. A rede social também já se tinha comprometido, antes, em criar 10 mil empregos nos EUA nos próximos três anos.

De acordo com a CNBC, a Microsoft é uma das poucas empresas americanas que tem largura de banda suficiente para transferir grandes quantidades de dados para seus sistemas internos no prazo de um ano.

Instagram tem nova funcionalidade para competir com o TikTok

A rede social de partilha de vídeos curtos (15 segundos) já estava a ganhar terreno no mercado das redes sociais, mas com a pandemia de Covid-19 ganhou um impulso extra no mundo todo. Com o confinamento obrigatório a entrar em vigor em vários países, a utilização da rede social cresceu, mas enfrenta agora um novo rival, vindo de outro gigante, o Facebook.

Instagram lançou ferramenta Reels. Será este um potencial rival da TikTok?

Na quarta-feira, a empresa fundada e liderada por Mark Zuckerberg anunciou o lançamento da ferramenta Reels no Instagram, uma funcionalidade que permite aos utilizadores da rede social (que pertence ao Facebook) criar, editar, usar filtros, músicas e realizar vídeos curtos (também de 15 segundos) na app. Ou seja, o mesmo que o TikTok.

Não é a primeira vez que o Facebook copia a concorrência. Depois de várias tentativas falhadas para comprar a app rival Snapchat, em 2016, Mark Zuckerberg lançou na aplicação as stories, publicações que desaparecem em 24 horas, tal como na app rival.

O próprio Instagram também foi uma aquisição que ainda hoje dá que falar. Em 2012, Mark Zuckerberg comprou a rede social por mil milhões de dólares, mas o negócio permanece atual o suficiente para na semana passada ter feito parte das perguntas que o Congresso norte-americano fez ao milionário.

Das comparações à heroína às ameaças de Zuckerberg. Os dedos que o Congresso apontou às “big tech”

Em videoconferência, o presidente do Facebook esteve durante mais de cinco horas a ser interrogado pelo Comité Judiciário da Câmara dos Representantes, juntamente com Jeff Bezos (Amazon), Tim Cook (Apple) e Sundar Pichai (Alphabet, empresa mãe da Google), no âmbito de uma investigação que está em curso desde junho de 2019. Em causa estão eventuais abusos de posição dominante nos mercados em que operam.

*Atualizado com informação do Financial Times e da Reuters