Se trazer a Liga dos Campeões para Lisboa agora em agosto e recuperar a Fórmula 1 para Portugal em Portimão no final de outubro eram tarefas muito complicadas, aspirar a ter uma corrida do MotoGP já em 2020 no país tinha alguns obstáculos quiçá mais difíceis ainda de contornar, como os próprios especialistas no meio iam admitindo em entrevistas incluindo Miguel Oliveira, ao Observador. No entanto, o anúncio da criação de uma prova extra no final do calendário, entre 20 e 22 de novembro, abriu uma janela. A porta abriu-se. E agora tornou-se oficial.

Depois da Fórmula 1, as motos (e o sonho de Miguel Oliveira): Algarve na calha para receber prova do Mundial de MotoGP

Quando no final de julho a Federação Internacional de Motociclismo (FIM), a Associação Internacional de Equipas de Motociclismo (IRTA) e a Dorna Sports anunciaram o cancelamento oficial dos Grandes Prémios da Argentina, da Tailândia e da Malásia este ano por causa da pandemia (assinando em paralelo a renovação para as temporadas seguintes), circunscrevendo todo o calendário de 2020 a circuitos na Europa que pudessem permitir um maior controlo nas “bolhas” criadas pela organização mas com mais uma prova, o Autódromo Internacional do Algarve saltou para a frente como favorito e foi dado até como garantido pelas publicações da especialidade.

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Na altura, Jorge Viegas, presidente da Federação Internacional de Motociclismo, explicou apenas que o circuito de Portimão era um dos traçados de reserva do Campeonato do Mundo em 2020 e 2021, havendo um pré-acordo para entrar no calendário em 2022. Confirmação oficial nenhuma, remetendo tudo para o dia 10 de agosto, quando seria feito o anúncio da competição. “É um triunfo para Portugal, para o Algarve e é um triunfo para a diplomacia portuguesa também no domínio desportivo. A realização destes eventos é um reconhecimento das autoridades internacionais, num domínio tão sensível como o desporto, que acreditam em Portugal e acreditam na evolução positiva da situação sanitária portuguesa”, comentou já esta segunda-feira, em Silves, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, numa confirmação daquilo que se tornara um “segredo” que todos sabiam.

Miguel Oliveira. “Era um sonho tornado realidade. Mas Portugal não tem o aspeto monetário para ter Moto GP”

“A Federação Internacional de Motociclismo (FIM), a Associação Internacional de Equipas de Motociclismo (IRTA) e a Dorna Sports anunciaram o aumento para um 15.º Grande Prémio no calendário do Mundial de MotoGP em 2020, que terá lugar entre 20 e 22 de novembro e será o final da competição. Podemos agora revelar que será realizado no incrível Autódromo Internacional do Algarve, em Portimão, Portugal. Circuito reserva para o MotoGP desde 2017, vai agora fazer a sua estreia no calendário. O Autódromo Internacional do Algarve é único, com as suas mudanças de elevação características e layout ondulado, dando-lhe a reputação de montanha-russa da alta velocidade – um passeio emocionante para fãs e corredores. Será um regresso de Portugal que não tinha uma corrida desde 2012 e o evento terá também o piloto português Miguel Oliveira (Red Bull KTM Tech3) a correr em casa na principal categoria pela primeira vez”, anunciou a organização em comunicado.

“Estou muito orgulhoso no regresso do MotoGP ao meu país oito anos depois do último Grande Prémio, que foi no circuito do Estoril em maio de 2012. Gostava de agradecer de forma calorosa à Dorna, ao Autódromo Internacional do Algarve e à Federação Portuguesa de Motociclismo por conseguirem reunir as condições para organizarem a última prova do Mundial de 2020”, comentou ao site oficial Jorge Viegas, presidente da FIM. “É um grande feito para a nossa equipa trazer finalmente uma corrida de MotoGP. Foi um longo processo com a Dorna, temos um acordo desde 2017 e finalmente o trabalho árduo deu frutos. Estamos a trabalhar para ter fãs na corrida e começaremos com uma capacidade de 30.000. Depois decidiremos o resto com as autoridades sanitárias e com a Dorna. Não conseguimos descrever a nossa alegra”, salientou Paulo Pinheiro, CEO do Autódromo.

Miguel Oliveira fez história e os elogios continuam a chegar: “Vai lutar por vitórias no MotoGP”

Essa questão do público nas bancadas, que deverá ser possível mas com lotação mais reduzida do que é normal, era um dos poucos pontos ainda em discussão entre todas as partes. De resto, já se sabe também que o Autódromo vai sofrer obras de melhoramento, nomeadamente o asfaltamento da pista – e como isso já acontecerá de forma obrigatória por causa da Fórmula 1, ficou cumprido um dos pressupostos que faziam parte das exigências da Dorna para que fosse criada essa corrida extra para terminar o Mundial de 2020, neste caso em Portugal.

De recordar que Portugal já não recebia uma corrida do MotoGP desde 2012, ano em que Casey Stoner ganhou no Estoril (e Marc Márquez venceu no Moto2, antes de dar o salto). O traçado recebeu provas do MotoGP – e duas ainda de 500cc, quando era essa a categoria rainha – de 2000 a 2012, com cinco vitórias para o italiano Valentino Rossi e três para o espanhol Jorge Lorenzo. O australiano Garry McCoy tinha ganho no ano de estreia.

“Sem dúvida alguma de que a hipótese de o Moto GP vir a Portugal esteve em cima da mesa. Honestamente, carece sempre do aspeto monetário que Portugal. Neste momento, julgo que não tem disponível para ter cá a prova. Automaticamente, exclui-se o Grande Prémio de Portugal do calendário. A organização tem de garantir a estabilidade económica de todas as equipas e, por outro lado, tem de garantir que as coisas se fazem com o nível de exigência reconhecido pela Dorna, que é quem organiza o campeonato. Para mim, não escondo que era um sonho tornado realidade. O que é certo é que essa decisão, se me coubesse tomá-la, era automático, era vir para Portugal. Mas não é e as coisas são mais complexas do que se pode imaginar e neste momento Portugal parece não estar no horizonte da Dorna em 2020″, tinha dito Miguel Oliveira em junho, em entrevista ao Observador.

Mais um feito histórico: Miguel Oliveira termina em sexto na Rep. Checa e consegue melhor classificação de sempre

O piloto português está a ter um Mundial de 2020 bem acima do ano de estreia no MotoGP, tendo alcançado os dois melhores resultados de sempre na categoria (sexto lugar na Rep. Checa, oitava posição em Espanha) entre uma prova falhada na Andaluzia, onde caiu logo na primeira curva após um toque de Brad Binder na roda traseira que fez com que Oliveira perdesse o controlo da moto. Na véspera, curiosamente um dia onde o próprio assumiu que devia estar a casar, o piloto da KTM Tech3 alcançara a melhor qualificação de sempre (quinto posto). Na classificação geral, o português ocupa o 12.º lugar, a um ponto apenas do top 10 (19-18).

Um sonho de qualificação, um pesadelo de corrida: Brad Binder atira Miguel Oliveira ao chão na primeira curva