Os produtores de laranja do Algarve queixam-se de falta de vontade política do Governo para combater as ameaças que “podem destruir o setor” na região, afirmou à Lusa a Associação de Operadores de Citrinos – AlgarOrange.

“Se não se fizer algo urgentemente, quando se acordar já vai ser tarde”, alertou a técnica agrónoma Bertina Alexandra, da AlgarOrange, num setor que, segundo dados da Direção Regional de Agricultura (DRAP) do Algarve, em 2019 produziu 356 mil toneladas, que se traduzem em cerca 145 milhões de euros.

Para a associação, a “constante ameaça de falta de água” é uma das maiores preocupações dos produtores, à qual se somam duas pragas: a mosca da fruta, “responsável por enormes prejuízos” e o greening, doença que “ainda não foi detetada no território europeu”, mas que “pode significar a ruína de todo o setor da citricultura”.

Na problemática da água, a especialista alertou que “se não chover até ao final do ano” as reservas das barragens “duram muito pouco tempo” e que em caso de escassez grave “as pessoas têm prioridade”.

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Como solução, a associação propõe a bombagem de água do Guadiana para as barragens do Sotavento, uma obra que “se faz em pouco tempo”, comparando com os “cinco, seis anos” da construção de uma barragem e que “pode ser demasiado, tendo em conta a situação atual de seca”.

Quanto às doenças, Bertina Alexandra considerou essencial “a georreferenciação dos diversos pomares” de citrinos, para que se conheça a sua localização e poder ser feita uma “monitorização global, como acontece em Espanha”, com a informação a “circular livremente”.

“Quando um agricultor deteta uma praga, os restantes sabem que se atingiu o nível crítico e que têm de fazer o tratamento”, exemplificou. A engenheira agrónoma revelou que “já foi proposto” um plano estratégico de luta contra a mosca e do cadastro dos pomares de citrinos, mas “não há vontade política” e que se continua a trabalhar “com 15 anos de atraso em relação ao que já se faz em Espanha”.

“O problema não tem a ver com a DRAP-Algarve, cujo diretor regional tem feito aquilo que está o seu alcance, não há vontade política acima”, afirmou.

Quanto ao greening, Bertina Alexandra considerou essencial a libertação de insetos auxiliares que “previnam o aparecimento” dos insetos transmissores da doença, mas queixou-se que “o Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) não autorizou mais largadas”, ação que “poderia evitar a chegada da doença ao Algarve”.

À Lusa, o diretor regional de agricultura do Algarve revelou que já foi autorizado pelo ICNF o programa de luta biológica contra a “Trioza erytreae”, transmissor do greening, estando a ser preparadas mais largadas “a curto prazo” em “três ou quatro locais” onde o inseto já foi detetado, para servir de “tampão” a um possível avanço da doença para o Algarve.

Quanto ao plano de registo de pomares, Pedro Valadas Monteiro adiantou que a DRAP-Algarve “preparou um plano de luta integrada” cuja candidatura, no valor de “um milhão de euros”, vai ser apresentada ao Fundo Ambiental do Ministério do Ambiente e Ação Climática, mas “há um conjunto de iniciativas” que poderão avançar paralelamente, nomeadamente o “cadastro e cartografia dos pomares”.