O Sindicato Independente dos Médicos (SIM) tinha conhecimento das ameaças feitas pelo diretor da Administração Regional de Saúde (ARS) aos médicos que alertavam para a falta de condições no Lar de Reguengos de Monsaraz — palco do maior surto de Covid-19 em lares, que vitimou 18 pessoas.

Em declarações à Rádio Observador, o dirigente do sindicato, garante que já tinha alertado a ARS do Alentejo sobre as intimidações, que ocorriam através de processos disciplinares. Mas o problema não parou: “O SIM teve conhecimento e foi uma das entidades que na altura chamaram a atenção ao presidente da ARS de que não deveria ter este tipo de atitudes”.

Segundo Armindo Ribeiro, o diretor José Robalo “demonstrou mais uma vez uma má atitude, autoritária, em relação aos colegas e continuou com as suas ameaças de processos disciplinares”.

Reguengos. Médicos ameaçados pela ARS

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A posição do sindicato surge depois de o relatório da comissão de inquérito da Ordem dos Médicos ao lar de Reguengos de Monsaraz (onde morreram 16 idosos, uma funcionária e um cidadão fora do lar) revelar que os médicos que denunciaram as más condições da instituição terão sido ameaçados com processos disciplinares.

No documento a que o jornal Expresso teve acesso, poder ler-se que, “na reunião, os médicos são informados pelo doutor Robalo de que devem manter a prestação de cuidados no lar porque, caso contrário, incorreriam em processo disciplinar”.

José Robalo confirmou a referência a possíveis processos disciplinares, mas apenas quanto à recusa em prestar o serviço e não quanto à falta de condições: “Sim, levantei a possibilidade de um processo disciplinar [nesse encontro] (…) Se se recusam a tratar um doente do Serviço Nacional de Saúde, neste contexto, pode ser levantado um processo disciplinar. Não pode haver recusa”.

Agora, em resposta ao relatório da Ordem dos Médicos, o diretor da ARS do Alentejo acrescentou, em declarações à RTP, que os médicos deviam ter criado melhores condições para tratar os infetados. José Robalo garante que visitou o lar duas vezes, sem ter estado em contacto com os utentes. E defendeu que se os profissionais achavam que as condições não eram as melhores para prestação dos cuidados, deviam tê-las criado.

Médicos deviam ter criado melhores condições no lar de Reguengos, diz presidente da ARS Alentejo

“Quer os profissionais de saúde pública, quer os profissionais hospitalares e de saúde primários, deviam ter criado as melhores condições de alternativa se efetivamente consideravam que as condições não eram as melhores para a prestação de cuidados”, disse o médico.

Reguengos. Médicos que denunciaram falta de condições no lar terão sido ameaçados por Diretor Regional de Saúde

Ao Observador, a ARS Alentejo tinha afirmado que os médicos dos hospitais da região se recusaram a reforçar a equipa de saúde que está a prestar cuidados aos utentes infetados com o novo coronavírus no lar de Reguengos de Monsaraz.

“A colaboração do terceiro elemento médico da equipa foi suspensa, por recusa dos profissionais das unidades hospitalares da região em que a ARS, embora seja tutela, não tem competência na gestão dos recursos humanos”, indicou a administração regional.