“Acredito que vai ser campeão do mundo em 2020”. Paulo Oliveira, pai de Miguel Oliveira, sempre teve a teoria que se um pai vai à caça o filho se torna caçador, se um pai vai à pesca o filho de torna pescador e que se um pai vai a concentrações de motociclismo se torna piloto. Bateu tudo certo. Mas houve mais do que isso: foi fazendo todos os sacrifícios para que o filho tivesse as condições ideais para utilizar da melhor forma o talento inato. Depois da emocionante última curva que deu pela primeira vez uma vitória ao português no MotoGP, Paulo gritou, ficou afónico, fez a festa, esperou até às 17h para falar com o filho mas tem voos mais altos em mente.

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“Acredito que o Miguel vai ser campeão do mundo em 2020”, atirou em entrevista à Rádio Observador, explicando o porquê da confiança no objetivo. “É uma equipa com muita experiência no paddock, o Hervé [Poncharal] é um antigo piloto, o Guy Coulon é um engenheiro soberbo e têm todos os ingredientes reunidos. A equipa tem um dos melhores pilotos do mundo, para não ser arrogante e dizer que é o melhor. Pode ser campeão porque tem tantas possibilidades como os outros”, salientou Paulo Oliveira. numa fase em que o Mundial ainda não vai a meio.

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[Ouça aqui a entrevista de Paulo Oliveira à Rádio Observador]

“O Miguel vai ser campeão em 2020”, acredita pai do piloto português

Qualidade e motos à parte, o Mundial de 2020, marcado pela ausência de Marc Márquez que fraturou o úmero na primeira corrida, forçou para voltar no Grande Prémio da Andaluzia, sofreu um acidente doméstico e terá agora de esperar mais dois a três meses para voltar às postas, é o mais aberto dos últimos tempos. Dois exemplos: estando no nono lugar com 43 pontos, Miguel Oliveira está apenas a seis do quarto classificado, Brad Binder; Quartararo, que teve um início auspicioso com vitórias em Espanha e na Andaluzia, não terminou mais nenhuma corrida no top 5 mas mantém-se na liderança com 70 pontos, mais três do que Andrea Dovizioso. Tudo quando faltam ainda nove provas até ao final, marcado para o Autódromo Internacional do Algarve a 22 de novembro.

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“Vivi este Grande Prémio com muita emoção, com uma descarga grande de adrenalina no final. Era algo há muito perseguido pelo Miguel e por todos os portugueses. Receio de queda no final? Podem sempre acontecer acidentes ou quedas mas não se pode ter receio. Os pilotos têm de ser inteligentes, uns têm de ser mais inteligentes do que outros para gerirem todo o stress e foi isso que aconteceu na última curva. Com aquela luta na frente, era expectável que o Miguel fosse um espetador atento estando tão perto, à espera que pudessem cometer um erro como aconteceu, quando forçaram demasiado. Foi o mais inteligente dos três, travou no sítio certo, teve a aderência certa no arranque… Gritei tanto que até fiquei afónico”, confessou o pai do piloto de Almada, que só falou com Miguel ao final do dia “porque quando se vence e é a primeira vez há muitos afazeres após o pódio” e que recebeu mais de mil mensagens entre chamadas que não conseguiu atender a endereçar os parabéns.

Em paralelo, Paulo Oliveira abordou também o despique ao longo da última semana entre o piloto português e Pol Espargaró, na sequência do choque que levou à desistência de ambos no Grande Prémio da Áustria. “Os adeptos portugueses são os maiores fãs do mundo. Somos hooligans, protegemos o que é nosso. A frase que o Miguel disse tem um contexto e como ele próprio disse nunca quis ofender. Nem todos nascem com a mesma inteligência porque estamos a falar de emoções, é preciso calma para gerir os momentos. Todos eles são muito inteligentes ou não eram pilotos mas naquele momento não teve a frieza para gerir”, realçou, antes de recordar também o longo percurso de Miguel Oliveira até à primeira vitória na categoria rainha do motociclismo.

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“Esta vitória é de todos nós. Há pessoas mais envolvidas do que outras e há pessoas como o meu tio Lafayette, outras pessoas como António Coimbra da Vodafone que sempre acreditou, António Lima do Motor Clube do Estoril, uma pessoa que já não está entre nós que foi o engenheiro Domingos Piedade… Podia nomear uma quantidade grande de pessoas que agora não estou a nomear. Este percurso é feito assim, com as pessoas que aparecem na nossa vida, e as coisas vão andando. Não é um percurso fácil, porque o desporto motorizado é mais caro do que muitos outros, como jogar à bola ou correr, e por aí torna-se mais difícil mas existe uma quantidade grande de outros fatores e do próprio desporto”, concluiu na entrevista à Rádio Observador.