646. Num só dia, desde 20 de abril, há quase cinco meses, que não havia tantos novos casos de infeção no País. Quer isto dizer que estamos a retroceder, rumo a novo pico da pandemia? Não necessariamente, fizeram questão de dizer, por mais do que uma ocasião, Jamila Madeira, secretária de Estado da Saúde, e Graça Freitas, na habitual reunião de meio da semana na sede da Direção-Geral da Saúde, em Lisboa.

Em primeiro lugar, de entre os 646 testes positivos conhecidos nas últimas 24 horas, explicou a diretora-geral de Saúde, só 12% pertenciam a pacientes com mais de 70 anos — “O que é um indicador positivo em relação à sua potencial gravidade”. Fixou-se nos 14,8% a taxa de letalidade do novo coronavírus em Portugal nos pacientes com mais de 70 anos; está nos 3% a taxa de letalidade geral da doença no País, tinha revelado minutos antes a secretária de Estado Adjunta e da Saúde.

Num dia de números altos, foram muitos os dados revelados na conferência de imprensa desta quarta-feira, sobretudo por Jamila Madeira: 97,6% dos casos ativos estão no domicílio; 2,1% estão internados no hospital, em enfermaria, e apenas 0,3% estão internados em unidades de cuidados intensivos. Estas são diferenças relativamente ao panorama em abril, quando havia, fez questão de realçar Graça Freitas antes do cair do pano, 3.692 casos de infeção em lares de idosos, são abissais — agora são 887.

Ou seja, por muito que estejam a subir, os números não estão a aumentar entre a população mais envelhecida — e do aumento Governo e DGS já estavam à espera, sobretudo nesta altura de fim de férias, regresso ao trabalho e reabertura das escolas. “Não estamos felizes nem satisfeitos” foi a expressão utilizada por Jamila Madeira, quando questionada sobre a explosão de novos casos, “mas já estávamos expectantes de que o número de contágios voltasse a aumentar nesta altura”. O novo período de contingência para todo o País, que arranca já no próximo dia 15 de setembro, acrescentou foi planeado já a pensar nisso.

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“Estamos perante um foco sobretudo na transmissão familiar, portanto a diminuição do número de contactos continua a ser o maior instrumento que temos para a redução da propagação do número de casos”, explicou ainda Jamila Madeira, colocando novamente o foco no contágio dentro de casa ou em meio familiar.

Programar, planear e comprar — 20 milhões de euros em EPI’s

Graça Freitas fez questão de repetir inúmeras vezes ao longo da conferência de imprensa. É preciso programar e planear aquilo que tem de ser feito. “As coisas não estão a ser feitas de forma reativa”, assegurou, citando cronogramas; referindo a criação de brigadas de intervenção rápida, como as que deverão entrar em ação nos lares de idosos, em potenciais surtos futuros; ou até a iniciativa de testar todos os 36 membros da comitiva bielorrussa, em Portugal para o apuramento do Europeu de Sub-21, depois de três membros da equipa terem dado positivo.

Depois de admitir que o Governo continua a esperar, com o regresso às aulas e o fim do verão, um agravamento da pandemia — “Acreditamos que os números vão sofrer alterações” — Jamila Madeira anunciou ainda o lançamento de um concurso para a compra de novos equipamentos de proteção (EPI) no valor total de 20 milhões de euros.

“Para o governo a segurança dos profissionais de saúde continua a ser essencial na estratégia de combate à pandemia que adotamos”, reforçou, depois de uma descrição exaustiva dos EPI’s que deverão ser adquiridos e disponibilizados em “tempo útil” aos profissionais de saúde.

Depois, como que a comprovar essa mesma preocupação, a secretária de Estado Adjunta e da Saúde revelou mais um número, o dos profissionais de saúde infetados com o novo coronavírus em Portugal, que rondará os 7,5%, “número significativamente abaixo” da média mundial, da Organização Mundial de Saúde, que rondará os 10%, considerou.

Futebol, discotecas e vacinas: bom senso e cuidado

Apesar de grande parte dos números apresentados terem primado pelo otimismo (mesmo em dia de regresso aos valores de infeção do pico da pandemia), quando questionadas sobre a reabertura de bares e discotecas e o regresso de público aos estádios, Jamila Madeira e Graça Freitas apelaram ao bom-senso e pediram cuidado.

“Manda a prudência que em alturas como estas não ensaiemos outras medidas que podem levar a mais contactos”, acabou por dizer a diretora-geral da Saúde, depois de explicar que, na próxima semana, pelo menos 1,2 milhões de alunos e 120 mil professores vão regressar às aulas — com todos os contactos e potenciais infeções que isso vai provocar nas próximas semanas.

“Não será certamente nos próximos tempos” que discotecas e bares vão reabrir ou que os jogos de futebol vão decorrer à porta aberta, concluiu rapidamente.

Rui Santos Ivo, que lhes fez esta companhia nesta quarta-feira em que foi revelada ao mundo a interrupção da fase de testes daquela a que se convencionou chamar vacina de Oxford, em desenvolvimento pela AstraZeneca, explicou que a paragem provocada pelo surgimento de efeitos secundários num dos participantes é um procedimento natural, que faz habitualmente parte da fase 3 deste tipo de testes, aquela em que mais pessoas, de diferentes faixas etárias e com diferentes backgrounds, são chamadas a participar.

“Estamos perante uma situação normal de funcionamento do sistema”, garantiu o presidente do Infarmed, explicando que esta é a altura para perceber “todos os aspetos que têm a ver com a eficácia da vacina mas também com a sua segurança” e fazendo questão de frisar: “O que aconteceu não é a suspensão da vacina, é a suspensão dos estudos”.