“Vim para o Benfica porque acredito num projeto. Acredito nesta nação e acho que tem todas as condições para fazer o Benfica. Para voltar a ter o prestígio internacional que o Benfica já teve”. 

No início de agosto, quando foi apresentado no Seixal, Jorge Jesus apontou para as estrelas. Garantiu que era um treinador “diferente” daquele que passou pelo Benfica há uns anos, que é agora conhecido “em todo o mundo” e que tinha regressado para “unir a nação benfiquista”. Pelo meio, disse a palavra que nos últimos anos tem sido um dos focos de discórdia no universo encarnado: Europa.

Ficha de jogo

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PAOK-Benfica, 2-1

Terceira pré-eliminatória de acesso à Liga dos Campeões

Toumba Stadium, em Salónica (Grécia)

Árbitro: Felix Brych (Alemanha)

PAOK: Zivkovic, Michailidis, Varela, Ingasson, Crespo, El Kadouri, Schwab, Giannoulis, Pelkas (Zivkovic, 67′), Akpom (Swiderski, 70′), Tzolis (Esiti, 80′)

Suplentes não utilizados: Paschalakis, Mihaj, Biseswar, Ninua

Treinador: Abel Ferreira

Benfica: Vlachodimos, André Almeida, Rúben Dias, Vertonghen, Grimaldo, Pedrinho (Darwin, 66′), Weigl, Taarabt (Rafa, 76′), Everton, Pizzi, Seferovic (Vinícius, 72′)

Suplentes não utilizados: Helton Leite, Gilberto, Gabriel, Waldschmidt

Treinador: Jorge Jesus

Golos: Vertonghen (ag, 63′), Zivkovic (75′), Rafa (90+4′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Pelkas (1′), a Varela (29′), a André Almeida (44′), a Michailidis (44′), a Vertonghen (52′), a Schwab (79′)

Se Rui Costa e Luís Filipe Vieira têm passado as últimas temporadas a falar num projeto europeu, a verdade é que esse mesmo projeto ainda não teve qualquer repercussão dentro de campo. Desde que Jorge Jesus saiu do Benfica, as campanhas europeias dos encarnados foram sofríveis e razoáveis com Rui Vitória e Bruno Lage e ficou sempre a ideia de que estas competições vinham bem atrás dos objetivos internos na lista de prioridades da equipa. Jesus, que na primeira passagem pela Luz foi a duas finais da Liga Europa consecutivas, apareceu com a bandeira de querer trazer esse tempo de volta.

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O primeiro capítulo, que ao mesmo tempo era também a primeira final da época, estava marcado para esta terça-feira. Na Grécia, numa terceira pré-eliminatória de acesso à Liga dos Campeões discutida em apenas um jogo, o Benfica defrontava o PAOK de Abel Ferreira e precisava de ganhar para seguir para o playoff — onde o adversário, já conhecido, seria o Krasnodar da Rússia. O que significava que esta terça-feira, em Salónica, se discutia o início da nova vida de Jesus no Benfica, grande parte da folha orçamental percecionada para o exercício da próxima época e até aquilo que poderão ser as dificuldades de Luís Filipe Vieira nas eleições agendadas para outubro.

E no primeiro onze oficial da temporada, Jorge Jesus lançou três reforços: Vertonghen, Pedrinho e Everton Cebolinha. Seferovic era titular na frente de ataque, enquanto que Rafa, Darwin, Gabriel e Vinícius começavam no banco. Do outro lado, Zivkovic, que há poucas semanas rescindiu com o Benfica e assinou pelo PAOK, era suplente. Os primeiros minutos foram suficientes para desvendar a intenção tática de Jesus: Pizzi tombava na direita, Cebolinha na esquerda, Pedrinho jogava na faixa central e atrás de Seferovic e Taarabt aparecia logo nas costas do médio brasileiro. Weigl, perto dos dois centrais, era o elemento mais recuado do meio-campo encarnado e chegava até a ocupar o espaço entre Rúben Dias e Vertonghen na primeira fase de construção.

Depressa se percebeu que seria o Benfica a assumir as despesas da partida. Seferovic rematou ao lado depois de um desvio de cabeça de Pizzi (8′) e esse foi o primeiro lance de vários que os encarnados criaram ao longo da primeira parte — onde a organização defensiva dos gregos foi o principal trunfo da equipa de Abel. O trio Cebolinha/Pedrinho/Pizzi oferece à equipa uma mobilidade que não estava presente da época passada e acaba por solicitar a presença dos laterais em zonas mais adiantadas do terreno. Se é normal que Pedrinho tombe para os lados para procurar soluções e ser solução, também é normal que Cebolinha e Pizzi surjam em espaços mais interiores, oferecendo as costas e o corredor a Grimaldo e André Almeida. Taarabt funciona como a primeira fase de construção, Weigl como a primeira linha de pressão e Pedrinho, sempre muito móvel, é o elemento com total liberdade para apostar na criatividade e solicitar Seferovic.

O PAOK, que pouco apareceu nos últimos 30 metros adversários, teve apenas uma oportunidade, onde viu Seferovic segurar um cabeceamento perigoso de Michailidis (16′). De resto, só o Benfica ficou perto de inaugurar o marcador: Seferovic rematou para uma boa defesa de Zivkovic (25′), Pizzi acertou no poste de livre direto (30′) e Pedrinho também viu o guarda-redes da equipa grega roubar-lhe o golo depois de um pontapé de muito longe (42′). A equipa de Jorge Jesus foi para o intervalo sem golos mas existia a ideia clara e comprovada — os últimos oito remates da primeira parte foram todos dos encarnados — de que estava por cima do jogo e só faltava inaugurar o marcador, algo que não aconteceu muito devido à incapacidade de entrar na área adversária. Na retina, principalmente, ficavam os movimentos de Pedrinho e os pormenores de Cebolinha, que a partir da esquerda para dentro escapava quase sempre à pressão do PAOK e desequilibrava entre as linhas do conjunto grego.

Na segunda parte, a dinâmica alterou-se ligeiramente. O Benfica perdeu intensidade e jogou com as linhas mais recuadas e com menos ligação entre si, permitindo ao PAOK permanecer durante mais tempo no meio-campo adversário. Ainda assim, e apesar de ter começado alguns furos abaixo daquilo que tinha mostrado no primeiro tempo, foi o Benfica a protagonizar a primeira oportunidade de golo depois do intervalo, com Cebolinha a obrigar Zivkovic a mais uma defesa na sequência de um passe de Taarabt (57′).

A desorganização defensiva do Benfica, porém, ia sendo o calcanhar de Aquiles de uma equipa que também não estava a compensar no ataque e continuava demasiado perdulária. E acabou por ser a passividade encarnada no último setor a fazer a diferença em Salónica. Akpom, o avançado nigeriano do PAOK, foi lançado em velocidade na esquerda da grande área de Vlachodimos, procurou o cruzamento atrasado para solicitar Giannoulis mas acabou por ser Vertonghen, na tentativa de um desvio, a empurrar para a própria baliza (63′). Jesus reagiu com as entradas de Darwin e Vinícius e Abel respondeu ao lançar Zivkovic. E o médio sérvio, tal qual protagonista de um golpe de teatro, acabou por dar o golpe final nas esperanças encarnadas.

Giannoulis aproveitou uma recuperação de bola no meio-campo defensivo do PAOK onde Vinícius não ficou bem na fotografia, prosseguiu durante vários metros sem qualquer oposição, tirou um passe cruzado que rasgou toda a defesa adversária e descobriu Zivkovic do lado contrário. O sérvio segurou, puxou para dentro e rematou rasteiro para bater Vlachodimos (75′). Não festejou, levantou os braços para pedir desculpa à antiga equipa mas o mal estava feito: a um quarto de hora do apito final em Salónica, o Benfica tinha pé e meio fora da Liga dos Campeões.

Nos descontos e já depois de entrar, Rafa ainda reduziu, ao cabecear depois de um cruzamento vindo da direita (90+4′), mas já não foi suficiente. O Benfica perdeu com o PAOK, foi eliminado da Liga dos Campeões logo na terceira pré-eliminatória e caiu para a fase de grupos da Liga Europa. Na primeira final, a equipa de Jorge Jesus falhou: falhou ao não aproveitar as oportunidades que criou na primeira parte, falhou ao não conseguir desmontar a organização defensiva dos gregos e falhou ao permitir demasiado no setor mais recuado. Mas Jesus falhou, acima de tudo, no desígnio com que se tinha comprometido há pouco mais de um mês, em agosto — este Benfica não é suficiente para voltar a ter “prestígio internacional”.