O problema ganha outra escala quando se aproxima a época do verão, mas as críticas relativas à falta de meios, soluções e apoios surgem durante todo o ano. Os incêndios florestais continuam a ser tema de conversa e a atingir o país todos os anos, sendo que cada vez mais a tecnologia tem tentado intervir no combate a este problema. Para Jorge Antunes, diretor da equipa da Hitachi Vantara para a região da Europa, Médio Oriente e África, há um pensamento que precisa de se tornar prioridade: o trabalho “tem que ser feito muito antes de chegar esta época [de incêndios]” e, para isso, também a tecnologia pode ajudar.

Foi a pensar nisto que a equipa da Hitachi Vantara — o braço nacional da gigante tecnológica Hitachi, que se dedica ao tratamento de dados — começou a desenvolver uma solução para ajudar proprietários, empresas e outras entidades a resolver a questão a limpeza das matas e terrenos (que não só contribui para a propagação de incêndios como é também uma obrigação legal em Portugal). Como? Através de uma análise detalhada de imagens satélite recolhidas pela Agência Espacial Europeia, que permite identificar as zonas que precisam de ser limpas e as que podem constituir um foco de incêndio devido às suas características.

Um guia para perceber a lei da limpeza dos terrenos. Excesso de zelo, ou seguro contra incêndios?

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“É como se tivéssemos uma câmara permanentemente a olhar para o nosso país e a identificar onde é que estão as zonas críticas que devem ser endereçadas“, começa por explicar Jorge Antunes ao Observador. Aproveitando o facto de o país e o mundo “serem fotografados diariamente em termos de imagens de satélite”, a equipa acede “com bastante nível de detalhe” à estrutura do terreno que está espalhada pelo país e, com essa informação, analisa e consegue perceber quais são os terrenos que devem ser alvo de um maior cuidado e sugerir algumas intervenções, ajudando a prevenir e a diminuir a propagação de incêndios.

Através da análise de imagens satélite, a equipa da Hitachi Vantara quer identificar as zonas que precisam de ser limpas

Outro objetivo desta tecnologia, de acordo com a Hitachi Vantara, é ajudar as empresas, organizações e indivíduos a entrarem em conformidade com a lei portuguesa. Isto porque em 2018 o Decreto-Lei n.º 124/2006 foi atualizado com novas mudanças relativamente à limpeza e corte dos matos e dos terrenos adjacentes. “Uma medida importante”, nas palavras de Jorge Antunes, mas também “uma medida de muito difícil execução, uma vez que obriga a grandes investimentos”, quer na própria ação de limpeza quer na frequência com que terá de ser feita se não for vigiada corretamente.

Consoante os casos, podemos ir de imagens sem custos até imagens que precisam de ser financiadas e que nos dão uma resolução gráfica extremamente elevada. O problema de gerir esta temática das zonas de mato e de limpeza é bastante complicado. Por um lado, é necessário contratar equipas que vão fazer a limpeza e, por outro, verificar que essa limpeza foi efetivamente feita. E é ainda preciso monitorizar  as áreas, porque em breve vão estar outra vez a crescer. O que nós fazemos é alertar para os casos que são claros e evidentes: recebe-se um relatório de alertas a dizer que uma determinada infraestrutura tem diversos pontos que são notáveis de limpeza e que isso tem de ser investigado e tratado”, acrescenta Jorge Antunes ao Observador.

A solução da empresa ainda está em fase de testes em Portugal, sendo que, neste momento, a maior dificuldade reside na falta de orçamento por parte das empresas e instituições que necessitam de resolver este problema.

“O orçamento que é definido anualmente financia os meios aéreos, terrestres, etc. mas não se faz um trabalho para o futuro, um trabalho estrutural para resolver o problema”, explica o responsável, acrescentando que este tipo de tecnologia permite fazer um trabalho de prevenção, mas também pretende ajudar a gerir a própria situação de incêndio.

“Uma vez que o incêndio esteja lançado existem tecnologias que permitem monitorizar a forma como se vai propagar, através da previsão com base nos ventos, nas diversas situações e, com isso, deslocar meios e atuar com os meios adequados.”

Para já, e depois da fase de testes, a Hitachi quer avançar mais nesta área no próximo ano, tendo atualmente uma equipa de cerca de dez pessoas da sua área de Smart Spaces and Video Intelligence a trabalhar neste projeto. Em Portugal, a empresa fundada em 2006 tem escritório em Lisboa e conta com cerca de 280 pessoas, sendo que 95% do trabalho nacional é para o estrangeiro.

Para breve, a Hitachi Vantara vai também apresentar o projeto que está a desenvolver com a Metro do Porto: uma tecnologia que vai permitir detetar quem não validou bilhete nas estações onde não existem barreiras físicas. Fora do país, a equipa sediada em Lisboa está a desenvolver o maior estudo sobre veículos elétricos a nível mundial, para detetar padrões de consumo e ajudar a definir uma futura rede de carregamentos de carros elétricos em Londres.