O Governo admite a possibilidade de vir a utilizar testes rápidos de rastreio à Covid-19, mas apenas em determinados “contextos”, como lares ou escolas, e sem dispensar um teste convencional posterior (no caso de negativos). A ideia foi defendida esta segunda-feira pelo secretário de Estado Adjunto e da Saúde, António Lacerda Sales, durante a habitual conferência de imprensa no Ministério da Saúde, quando questionado sobre se já havia uma decisão sobre o uso ou não dos testes rápidos da Cruz Vermelha.

Em causa está o facto de estes testes, cujo resultado é apurado ao fim de 10 a 30 minutos, terem uma “sensibilidade ligeiramente menor” e, como tal, poderem dar um resultado “falsamente negativo”. “Quando a carga viral nos doentes é baixa, nos doentes assintomáticos por exemplo, o resultado pode ser negativo com este tipo de testes sendo, na verdade, falso negativo”, disse, sublinhando que essa diminuição de sensibilidade é, por isso, uma “condicionante” ao uso destes testes.

Em todo o caso, há vantagens. Nomeadamente para identificar os super spreaders, aqueles casos positivos que podem contagiar muitas pessoas à sua volta, onde basta um teste rápido para sinalizar que está positivo. Daí que o Governo esteja a admitir a possibilidade de vir a usar estes testes em contextos específicos, como escolas ou lares, para fazer uma espécie de primeira seleção dos positivos face aos negativos, e proceder ao devido rastreio em tempo útil. Tal não invalida, contudo, que as pessoas que testaram negativo com recurso a estes testes, e que forem consideradas de alto risco, não façam um segundo teste convencional.

“Num contexto de escassez de recursos, de evolução epidemiológica, e em determinadas situações específicas como contextos de lares ou escolas, estes testes podem ser uma mais valia”, admitiu aos jornalistas, anunciado que, em todo o caso, está agendada uma reunião para amanhã com a Cruz Vermelha para estudar estas opções.

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DGS vai recomendar uso de máscara na rua se não for possível manter distâncias

Sobre o uso de máscaras, Graça Freitas anunciou que iria sair uma orientação da DGS a dar conta de que o uso de máscara na rua é aconselhado se a rua em questão estiver muito movimentada e, como tal, não for possível manter as distâncias de segurança. Graça Freitas rejeita, contudo, que tenha havido uma mudança de opinião por parte da DGS, afirmando que há apenas uma “postura evolutiva”.

“Se estivermos longe o suficiente não é preciso usar o método barreira (máscara), e se estivermos próximos uns dos outros o método barreira pode ajudar”, disse na conferência de imprensa, dando conta de que ia sair “nos próximos dias uma orientação” que recomenda isso mesmo: uso de máscara no exterior se não for possível manter, para nós próprios e para os outros, as distâncias.

Sobre o tempo de recuperação dos doentes Covid, que são cada vez mais jovens adultos e cada vez menos idosos, Graça Freitas diz que a população mais jovem está a ser sobretudo seguida em casa e que só não há mais recuperados porque o processo burocrático implica a introdução desse dado numa plataforma, por parte dos médicos, coisa que pode estar a ser descurada tendo em conta que a prioridade é o tratamento dos novos casos e não o registo dos recuperados.

Mas uma coisa é certa: “Sabemos que há mais recuperados do que os que estão a ser notificados como recuperados”, concluiu Graça Freitas, afirmando que as autoridades de saúde iriam proceder a uma contagem mais apurada desse dado nos próximos dias.

Questionada sobre o início do ano letivo, Graça Freitas afirmou que primeira semana “correu bastante bem, embora haja ajustes e aprendizagens a fazer”. “Foram identificados alguns casos, mas do ponto de vista da saúde pública nenhum destes casos levaria ao encerramento das escolas”, disse ainda, afirmando que os casos em que houve suspensão de aulas se deveram a falta de pessoal, e a necessidade de substituir professores ou auxiliares.

Criada “task force” para doentes não-Covid

António Lacerda Sales aproveitou ainda a conferência de imprensa para dar conta de que, passados mais de 6 meses desde o primeiro caso em Portugal, e com a chegada, amanhã, do outono, vai ser criada uma task force para doentes não-Covid, que está plasmada no plano conhecido esta segunda-feira da DGS para o período outono/inverno.

Esse plano, explicou, contém não só medidas de resposta à pandemia, como também procura dar resposta às necessidades de saúde não só relacionadas com a Covid.

No que toca à pandemia, o plano prevê o reforço da resposta em situações de surto, adapta as áreas e circuitos de internamento hospitalar para diferentes fases da resposta e, além de o Governo ter conseguido duplicar a capacidade de testagem desde abril, prevê que o instituto Dr. Ricardo Jorge passe a coordenar uma estratégia integrada de testes para Sars-Cov-2 e para a gripe sazonal. 

A implementação será “em cascata”, estruturada e integrada a nível regional e local, explicou ainda o secretário de Estado. “Este não é um plano fechado, visto que tem de se ajustar à própria evolução epidemiológica”, estando prevista uma revisão bimensal, sendo que a primeira vai ser feita ainda antes de começar o inverno.

Questionado sobre o confinamento obrigatório, Lacerda Sales disse desde logo que é importante “desmistificar os medos da população” e foi perentório a rejeitar a ideia: “Hoje sabemos mais da doença, hoje estamos melhor preparados para responder, portanto o confinamento parcial ou geral é uma resposta que garantidamente não queremos voltar a acionar”.