No final de um dia de aniversário marcado pela entrega de vários Dragões de Ouro a atletas, técnicos e dirigentes que se distinguiram na última temporada, Pinto da Costa, presidente do FC Porto, concedeu uma entrevista ao Porto Canal onde abordou vários temas, entre os quais a ausência de público nos estádios de futebol. Mais uma vez, à semelhança do que tem acontecido desde final de junho, o líder dos azuis e brancos voltou a criticar aquilo que considera ser uma discriminação e apontou o dedo ao Governo pela falta de novidades sobre o assunto.

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“Não sei se falo sozinho ou não. Quando estou com as pessoas todas me dizem que tenho razão, que tenho que fazer alguma coisa. Mas depreendo que pode acontecer porque muitos me dizem. Acho inadmissível o que está a acontecer e há falta de sensibilidade da parte de quem manda no Desporto e de quem está na DGS e não sabe o que é o desporto, daí ser ridículo aceitar que os camarotes têm que estar vazios. Nem que fosse uma pessoa em cada camarote de 100 lugares”, argumentou, antes de dar vários exemplos de outros espetáculos.

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“As touradas estão cheias. As pessoas nem deixam o espaço de dois lugares. Vi há uns tempos um congresso [do Chega], vi imagens de uma reunião do PS em que a sala estava cheia, a maioria das pessoas estava sem máscara. Embirraram com o futebol, foi isso. Em tempo gabaram-se do milagre que havia em Portugal e agora o milagre desapareceu. E a culpa é do futebol? Se desapareceu não é por culpa do futebol. Se calhar é pelas touradas, pelos congressos, pelos cinemas abertos, pelos humoristas a fazerem espetáculos. E o futebol é que paga? Isto é inadmissível. Não há aqui uma incongruência, há incompetência. O Secretário de Estado do Desporto vem dizer que o problema vai ser resolvido mas depois vem uma senhora [Graça Freitas] que diz o contrário. Só em Portugal é que não há público nos estádios. Até nos Açores já há adeptos e não se vê aumentar o número de casos de infetados. Abriram restaurantes, cinemas, touradas e espetáculos, o futebol é que não”, defendeu.

Os clubes continuam a pagar os impostos mas não têm receitas. Sem bilheteira e sem os lugares anuais, temos um prejuízo de 27 milhões. Se não pagarmos vêm logo as multas e as ameaças. Este Governo vai ficar ligado à falência do futebol e do desporto”, resumiu a esse propósito.

Em paralelo, e ainda no âmbito mais “político”, Pinto da Costa falou também do apoio do primeiro-ministro, António Costa, à recandidatura de Luís Filipe Vieira à presidência do Benfica (apesar de entretanto ter saído da Comissão de Honra do atual número 1 dos encarnados). “Se calhar acha que ainda são poucas [as dívidas]. Não sei qual é o limite. Estão sempre a meter milhões no banco e se calhar acham que o que ele deve à banca não tem significado. Esse apoio não me surpreendeu, sabia que sempre apoiou Vieira. Admira-me é como é que não estavam lá mais alguns. Se calhar no Banco de Portugal não é permitido, se não estavam lá outras pessoas… Em relação à falta de público nos estádios, o Benfica fez bem em não atacar o Governo porque eles lá devem saber o porquê de não atacarem”, comentou, classificando a relação entre os dragões e a Câmara Municipal do Porto de “normal”. “Já tivemos uma anormal, com o qual não tivemos qualquer relação. Qualquer câmara e clube presididos por gente normal têm relações normais”, defendeu o líder dos azuis e brancos.

Na mesma entrevista, Pinto da Costa voltou a deixar rasgados elogios a Sérgio Conceição, eleito Treinador do Ano esta segunda-feira. “A minha vontade é que ele continue, vamos deixar passar este período e temos combinado um diálogo. Depois da tempestade vem a bonança e depois dos períodos difíceis que vivemos, e em que mesmo assim conseguimos dois títulos em três anos – e toda a gente sabe por que não foram três em três –, é justo que possa continuar a dar o seu trabalho e talento com tempos mais fáceis. Por mim, desejo que seja treinador do FC Porto no futuro. Não há pessoas iguais mas pode haver pessoas mais parecidas. Quando eu comparo e digo que o Sérgio tem semelhanças com Pedroto, tenho de considerar que é algo altamente elogioso. Vejo muitas semelhanças na determinação, na paixão com que se entrega ao trabalho, no rigor que tem para com ele e com outros. É de um rigor extremo mas sempre com racionalidade. E coloca sempre os interesses do FC Porto acima. É capaz de entrar em qualquer guerra. Não tem medo, apaixona-se pelo que faz”, referiu.

Por fim, o presidente dos dragões comentou ainda a contratação de Otamendi pelo Benfica. “Ninguém falou com ele, ninguém falou com o Manchester City. Nunca foi opção, nem sequer foi abordado. Víamos isso e riamo-nos. Otamendi tem história no FC Porto, faz parte do grupo que venceu a Liga Europa, que levou o banho de chuveiro lá na Luz quando fomos campeões. Foi dos que mais festejou e sentiu essa vitória mas nunca tivemos interesse. E como esse, há outros jogadores com quem nunca ninguém falou”, assumiu.