O Serviço de Investigação Criminal e a Procuradoria-Geral da República (PGR) angolanos encerraram, nos últimos dias, 17 edifícios da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), além dos já encerrados no Bié e no Bengo.
De acordo com informações das autoridades angolanas a que a Lusa teve esta quarta-feira acesso, foram apreendidos oito templos de oração na província do Huambo, quatro em Cabinda, dois no Moxico e um em cada uma das províncias de Cuanza Norte, Lunda Sul e Lunda Norte.
Estes encerramentos das instalações decorreram entre o passado dia 01 de outubro, nos casos de Cuanza Norte e Lunda Sul, no dia 02, no caso de Cabina, e no dia 06, no caso de Huambo e Lunda Norte. Durante estas iniciativas foram apreendidos vários meios, como bancos corridos, cadeiras plásticas ou de alumínio, aparelhos de som, automóveis, televisores e púlpitos.
Na terça-feira, o Ministério do Interior tinha já anunciado a apreensão de dois templos nos municípios de Cuito e Andulo, na província do Bié. Da mesma forma, nos dias 28 e 29 de setembro, tinham sido já apreendidos seis templos da IURD, em Caxito, desvio da Barra, Açucareira, Sassa Povoação e Panguila, no município do Dande, província do Bengo, em cumprimento do mandado de apreensão emitido pela PGR.
PGR angolana encerra e apreende oito templos da IURD no Bié e no Bengo
A justiça angolana mandou encerrar e apreender todos os templos da IURD em Angola, estando o processo de selagem a ser feito de forma gradual. A 19 de setembro, dia em que foram retomados os cultos religiosos em Luanda, província que permanece sob cerca sanitária devido à pandemia de Covid-19, o encerramento dos templos do Kilamba, Estalagem, Km 30 e Samba, na capital, foi recebido com surpresa pela IURD, que divulgou, na altura, um comunicado dizendo que os agentes não estavam “munidos de qualquer mandato ou documentação de suporte”.
Segundo a IURD em Angola, que classificou a operação policial como “desproporcionada e excessiva”, estes templos não integravam o lote dos sete edifícios apreendidos pela Procuradoria-Geral da República em agosto.
A PGR angolana apreendeu, em agosto, sete templos da IURD em Luanda (Alvalade, Maculusso, Morro Bento, Patriota, Benfica, Cazenga e Viana), no âmbito de um processo-crime por alegadas práticas dos crimes de associação criminosa, fraude fiscal e exportação ilícita de capitais. A IURD tem estado envolvida em várias polémicas em Angola, depois de um grupo de dissidentes se ter afastado da direção brasileira, em novembro do ano passado.
Os angolanos, liderados pelo bispo Valente Bezerra, afirmam que a decisão de romper com a representação brasileira em Angola encabeçada pelo bispo Honorilton Gonçalves, fiel ao fundador Edir Macedo, se deveu a práticas contrárias à religião, como a exigência da prática da vasectomia, castração química, práticas de racismo, discriminação social, abuso de autoridade, além da evasão de divisas para o exterior do país.
As alegações são negadas pela IURD Angola que, por seu lado, acusa os dissidentes de “ataques xenófobos” e agressões a pastores e intentou também processos judiciais contra os dissidentes.
A IURD Angola acusou anteriormente as autoridades judiciais angolanas de terem feito apreensões ilegais e atentarem contra a liberdade religiosa, havendo vários processos judiciais nos tribunais angolanos.
O conflito deu origem à abertura de processos-crime na PGR de Angola e subiu à esfera diplomática, com o Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, a pedir ao seu homólogo João Lourenço garantias de proteção dos pastores e do património da Igreja, tendo o chefe de Estado angolano prometido um “tratamento adequado” do assunto na justiça.