A startup portuguesa Kitch está a lançar uma nova plataforma tecnológica para restaurantes. Com o Kitch Tech, o projeto de Rui Bento e Nuno Rodrigues permite criar um sistema de entrega de refeições próprio, que funciona de forma independente. Ou seja, os restaurantes que não quiserem depender apenas (ou de todo) de aplicações como a Uber Eats e a Glovo, para fazer chegar as suas refeições a casa dos clientes, podem fazê-lo a partir desta plataforma.

Esta nova funcionalidade é um upgrade a uma solução que a Kitch já tinha lançado em maio e que permite aos restaurantes aderentes “tirar o maior partido das suas entregas” de refeições, porque “conseguem concentrar num só lugar toda a gestão do seu negócio online“, explica Rui Bento ao Observador. Funcionando como um centro de gestão, esta plataforma possibilita aos restaurantes centralizar todos os pedidos que são feitos através de aplicações externas (como a Uber Eats ou Glovo).

Além desta funcionalidade, a Kitch permite agora ao restaurante ter uma loja própria e independente, com a sua marca e com um serviço de entregas e de take-away próprio, que é totalmente desenvolvida pela Kitch. “A loja assume a identidade do restaurante, que pode operar a sua própria entrega e permite recuperar a relação com os clientes”, diz Rui Bento. Segundo o líder, esta opção permite obter “um conjunto de vantagens económicas”, porque é “um “canal adicional de vendas, que terá custos mais competitivos para o restaurante”, acrescenta.

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Ou seja, se o restaurante quiser usar apenas esta plataforma como método de entrega de refeições pode fazê-lo. Caso queira juntar este meio às outras plataformas onde já está presente também pode fazê-lo e passa a ter um serviço distribuído por vários intermediários. Um serviço não exclui os outros.

“Estamos a construir novas funcionalidades para aumentar o potencial de foco de vendas dos restaurantes e simplificar os processos de entrega, sobretudo nesta altura tão delicada, em que as entregas online são uma parte tão importante do negócio da restauração”, afirma Rui Bento.

Sob o mote “dedique-se ao seu restaurante, o resto, nós tratamos”, a Kitch garante também a ponte com os estafetas responsáveis por fazer chegar as refeições a casa dos consumidores. “Com uma loja própria, os restaurantes conseguem chegar a mais bairros e pessoas e alargar o serviço de entregas”, diz o cofundador. Como? Através do Kitch Delievery, a terceira funcionalidade da plataforma, que é gerida pela empresa para ligar os restaurantes às frotas de estafetas.

E como é que tudo isto é rentável? Os restaurantes que quiserem usar a plataforma apenas como software centralizador de pedidos pagam uma mensalidade à empresa. Mas aqueles que quiserem criar uma loja própria terão de pagar à Kitch uma percentagem das novas vendas geradas pela plataforma.

“A plataforma tem um custo quando trazemos novas vendas [ao restaurante] em entregas em casa e no serviço de take-away. Se as vendas vêm de outras outras apps [de entrega], então o custo é zero. O custo só existe quando trazemos novas vendas aos restaurantes, quando adicionamos um novo negócio e novas vendas”, explicou Rui Bento.

E quanto é que isto custa aos restaurantes? O cofundador (que foi diretor-geral da Uber em Portugal e diretor de operações da Uber para o Sul da Europa) explica que esta plataforma ainda está numa fase piloto, que integra 20 restaurantes de Lisboa, como o Boa Bao ou a Osteria, que foram convidados a participar. É através deste piloto que a empresa está a testar alguns modelos de negócios diferentes, com uma percentagem de custos para o restaurante variável em função do potencial de vendas. Esta percentagem está ainda a ser avaliada.

“Estamos a experimentar diferentes modelos de preços, o pricing é variável. Procuramos que sejam valores muito competitivos que baixem o custo para os restaurantes. Antes de chegar a um modelo tabelado, que depois vamos divulgar no nosso site. Mas ainda estamos numa fase de experimentação”, diz.

Dois hubs de cozinhas virtuais em Lisboa (a caminho do terceiro)

Além desta plataforma, a Kitch tem dois hubs de cozinhas no Campo Grande e nas Laranjeiras, em Lisboa, onde estão presentes equipas de sete restaurantes que confecionam comida, nestes dois espaços, apenas para entrega em casa. A startup nasceu para reunir num só espaço os “restaurantes preferidos e os chefs mais criativos”, que estavam fora das plataformas de entrega de refeições.

Já no início, explica Rui, as cozinhas virtuais eram apenas uma das componentes da empresa. “A outra era a parte tecnológica, menos visível, e começámos a desenvolver a nossa tecnologia própria para aproximar os restaurantes dos clientes. Ao longo deste ano atípico, percebemos que o delievery passou a ser fundamental para restauração e que os restaurantes que não fazem parte da Kitch também poderiam beneficiar desta tecnologia. Então, decidimos dar o passo para disponibilizar a nossa plataforma para estas cozinhas”, explica Rui Bento.

Em relação aos hubs, Rui Bento explica que os resultados têm sido positivos e que os restaurantes que estão nas cozinhas virtuais são “uma escolha cada vez mais regular dos lisboetas”. Além dos sete restaurantes que já funcionam nestes dois espaços, vão entrar mais marcas na próximas semanas. A empresa está também a trabalhar num terceiro espaço. Apesar de a startup ter sido lançada em plena pandemia, também já teve de se readaptar às necessidades atuais.

“As coisas não correram como achámos que iam correr, de todo. Este Kitch Tech foi até uma resposta à situação atual. O nosso plano não era lançar a plataforma nesta altura, mas sentimos que esta era a necessidade real dos restaurantes. O nosso foco teve de evoluir um pouco para alargar ao Kitch Tech”, diz Rui Bento.

A pandemia de Covid-19 obrigou a acelerar o desenvolvimento da comunidade de restaurantes e a startup teve de abrir o segundo espaço antes do que estava previsto, acrescenta o cofundador. A equipa também cresceu, são agora 17 pessoas, que trabalham sobretudo na área da engenharia e de produto. A startup está a operar em Lisboa, mas a ideia é levar o Kitch Tech para outros municípios adjacentes a Lisboa ou a outras cidades do país.

Em maio de 2020, a startup formada por dois ex-executivos da Uber em Portugal arrecadou um milhão de euros em investimento para desenvolver e escalar as operações da Kitch a partir de Lisboa. A ronda foi liderada pela aceleradora britânica Seedcamp e pela Mustard Seed Maze, que resulta de uma parceria entre a Mustard Seed (Londres) e a MAZE (da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa).

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