João Machava, um dos principais rostos da autoproclamada Junta Militar, uma dissidência armada da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), aderiu ao processo de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração (DDR), disse esta segunda-feira à Lusa o porta-voz do principal partido da oposição.

José Manteigas avançou que João Machava, com patente de coronel, foi desmobilizado no quadro da desativação da base do braço armado da Renamo no distrito de Mabote, província de Inhambane, sul de Moçambique.

“Não tenho detalhes, mas é o único João Machava que tínhamos na base de Mabote. Foi, sim, desmobilizado”, afirmou Manteigas.

João Machava era o comandante da base e com ele foram desmobilizados cerca de outros 300 guerrilheiros que viviam no local.

O Notícias, principal diário moçambicano, escreve esta segunda-feira que Machava passou à vida civil e voltou para a sua casa no distrito de Chokwé, província de Gaza, sul do país.

O ex-guerrilheiro apareceu ao lado do líder da Junta Militar da Renamo, Mariano Nhongo, no anúncio da criação deste movimento, em 2019, na serra da Gorongosa, centro do país, chegando a ser considerado o “número dois” da organização.

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Na semana passada, o enviado pessoal do secretário-geral da ONU para Moçambique, Mirko Manzoni, disse que pelo menos seis bases da Renamo foram desativadas no âmbito do processo de DDR previsto no acordo de paz assinado em 2019 em Moçambique.

“Contam-se já um total de seis bases encerradas em 2020. Aguarda-se com expectativa o ano de 2021, o trabalho que temos pela frente é imenso”, referiu Mirko Manzoni, numa nota distribuída à comunicação social.

O acordo de paz em Moçambique foi assinado em agosto de 2019 pelo chefe de Estado moçambicano, Filipe Nyusi, e pelo presidente da Renamo, Ossufo Momade, prevendo, entre outros aspetos, o desarmamento, desmobilização e reintegração do braço armado do principal partido de oposição.

Segundo a fonte, há mais 3.700 guerrilheiros que aguardam pelo DDR, de um total de cinco mil guerrilheiros inicialmente previstos.

Apesar de progressos registados no processo, a Junta Militar tem contestado a liderança do partido e o acordo de paz, sendo acusada de protagonizar ataques visando forças de segurança e civis em aldeias e nalguns troços de estradas da região centro do país.

Os ataques têm afetado as províncias de Manica e Sofala e já provocaram a morte de, pelo menos, 30 pessoas desde agosto do ano passado.

O grupo exige novas condições de reintegração e a demissão do atual presidente do partido, Ossufo Momade, acusando-o de ter desviado o processo negocial dos ideais do seu antecessor, Afonso Dhlakama, líder histórico que morreu em maio de 2018.