Tem sido uma sensação habitual no final dos jogos do Benfica. A equipa de Jorge Jesus até pode ganhar, até pode ter tido minutos de superioridade, até pode ter realizado uma boa exibição durante uma das metades da partida. Contudo, fica sempre uma ideia de inconstância, de incoerência, de fragilidade e de preocupação. Ou porque a vitória foi conseguida nos últimos instantes ou porque a vitória foi ameaçada nos últimos instantes. Esta terça-feira, contra o Portimonense, a opção certa foi a segunda.

Para Rafa, o artista da bola, a nota artística continua a ser importante (a crónica do Benfica-Portimonense)

O Benfica entrou muito bem, marcou dois golos em pouco mais de 20 minutos e teve várias oportunidades para marcar mais. Depois do intervalo, porém, permitiu espaço aos algarvios, demitiu-se quase por completo da função de atacar e ficou simplesmente a olhar para o passar dos minutos no relógio. O autogolo de Gilberto, já no decorrer no segundo minuto de descontos, poderia ter alterado o curso da história — e deixou os encarnados entregues a uns últimos instantes de ansiedade e calafrios, em que o Portimonense procurou colocar bolas consecutivas na grande área de Vlachodimos.

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No fim, e apesar do susto, o Benfica alcançou a quarta vitória consecutiva na Primeira Liga e encerrou 2020 a dois pontos do primeiro lugar, que é do Sporting. Contudo, os encarnados chegaram aos 12 golos sofridos em 11 jornadas, um número que é o pior registo desde 2006/07, e terminaram a partida com menos posse de bola do que o adversário pela primeira vez no Campeonato esta temporada. Na flash interview, Jorge Jesus reconheceu que o jogo só teve “duas coisas boas”: a vitória e a primeira parte do Benfica.

“Muita qualidade nessa fase, com dois golos, e podíamos ter marcado mais. Na segunda parte, em que o jogo podia ser mais fácil, a equipa ficou nervosa quando começou a defender. A equipa tem de saber defender bem. As alterações do Portimonense fizeram com que não chegássemos ao portador da bola com pressing. Depois houve situações de perigo com centros e eles marcaram assim. Quando não justificava que a equipa não tivesse tanta qualidade, a verdade é que a equipa teve medo de não poder ganhar. Acontece quando uma equipa não está muito tranquila. Pedrinho entrou mas está ainda fora do ritmo de jogo e o Portimonense começou a ter poder sobre os nossos centrais. As últimas substituições foram mais para segurar o resultado do que para melhorar a equipa”, explicou o treinador encarnado, que acrescentou que a dupla formada por Weigl e Taarabt no meio-campo tem vindo a resultar mas isso “não se notou” esta terça-feira, algo que acabou por ser “um dos fatores da quebra”.

“Mas não são os únicos culpados. Começou a haver espaço entre a nossa segunda e primeira linha. Houve também dificuldade a fechar o nosso corredor esquerdo. Grimaldo teve uma semana complicada, como o Darwin. Mas tirei só o Grimaldo. Com Cervi e Nuno Tavares melhorámos um pouco o lado esquerdo. Rafa foi o melhor em campo”, atirou, garantindo que o aspeto mais importante nos próximos dias e no início do novo ano é “recuperar toda a equipa”, incluindo os jogadores que testaram positivo. “Isto da Covid-19 não é só problema de o jogador estar fora, mexe com o grupo, que durante a semana está sempre desconfiado, a pensar: ‘A seguir pode ser um de nós’. Para 2021, quero que haja paz social e o Benfica jogue ao nível do que fez hoje na primeira parte. É este o futebol que penso que o Benfica tem capacidade para fazer”, terminou Jesus.

O Benfica encerrou esta terça-feira um ano em que não conquistou nenhum troféu, em que ficou no segundo lugar da Primeira Liga e perdeu as duas finais que disputou (Taça de Portugal e Supertaça) e ainda trocou de treinador, de Bruno Lage para o interino Nélson Veríssimo e depois para Jorge Jesus.