Até ao último dia 18, altura em que se contavam 9.246 mortes por Covid-19 em Portugal, quase mil dessas mortes tinham ocorrido na casa das pessoas ou em lares: 397 em casa e 525 em lares. Estes são números oficiais, transmitidos pela Direção-Geral de Saúde (DGS) ao Jornal de Notícias, que suscitam mais dúvidas do que certezas – médicos queixam-se da fraca qualidade dos dados disponíveis e questionam se essas vítimas terão tido o acompanhamento médico que seria necessário numa doença aguda como a Covid-19.

“É muito importante saber se tiveram algum apoio médico, se estavam esquecidos, ou se o diagnóstico foi feito apenas no certificado de óbito”, diz o João Carlos Winck, pneumologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. Nestes últimos casos há que ter “cuidado” com a atribuição da causa de morte à Covid-19 porque há poucas autópsias a serem feitas, acrescenta outra fonte, o diretor da FMUP e epidemiologista Altamiro da Costa Pereira. Os dados permitem que se tentem fazer interpretações e formar algumas opiniões mas “não se passa disso” porque a informação é escassa.

Se quanto às mortes em casa os dados trazem mais dúvidas do que as certezas, quanto às mortes nos lares também é preciso “pegar no cordel agarrado aos números e ir atrás”, diz o epidemiologista. “Seriam situações extremas? Não puderam ser transferidos? Puderam fazer as terapias mínimas? É preciso investigar”, defende Altamiro da Costa Pereira.

Na base de tudo estão os fracos procedimentos para a recolha de dados – e publicitação desses mesmos dados. “Não estávamos preparados, infelizmente não havia o hábito de os organismos recolherem dados fiáveis e os porem à disposição dos cientistas”, diz o epidemiologista, lembrando que “hoje estamos a viver este problema, amanhã teremos outro”.

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