Foi uma semana atribulada para a Juventus — mas apenas fora dos relvados. A equipa de Andrea Pirlo continuou o bom período confirmado com a conquista da Supertaça contra o Nápoles com uma vitória contra o Bolonha no fim de semana passado e, a meio da semana, eliminou a SPAL e apurou-se para as meias-finais da Taça de Itália. Ora, foi precisamente essa partida, uma goleada em casa sem grande história, que abriu a porta às histórias paralelas. As histórias paralelas quem têm enchido as páginas dos jornais italianos.
Tudo começou com um vídeo. Um vídeo, a circular nas redes sociais, que mostrava Cristiano Ronaldo e a namorada, Georgina Rodríguez, prontos para dar um passeio de mota na neve. O problema? O vídeo, filmado por um guia turístico, era a prova de que o jogador português decidiu ir festejar o aniversário da namorada nos Alpes italianos, fora da região de Piemonte onde vive, e que por isso quebrou as regras do confinamento que estão em vigor no país. Os pormenores do passeio só pioraram a situação: o facto de Ronaldo ter reservado um hotel que está oficialmente encerrado, o facto de esta já não ser a primeira vez que Ronaldo é acusado de furar as orientações anti-Covid e o facto de Ronaldo ter claramente procurado esconder a escapadinha, já que não partilhou quaisquer imagens ou vídeos nas próprias redes sociais.
Ora, tudo isto aconteceu porque o jogador português foi poupado por Pirlo, ficando de fora da convocatória para o jogo da Taça com a SPAL, e estava de folga. E era precisamente isso que o treinador italiano recordava, na antevisão da partida deste sábado contra a Sampdoria, para desculpar Cristiano Ronaldo. “Ele teve uma folga e podia fazer o que quisesse. É responsável pelo que faz”, disse Pirlo, garantindo desde logo que o avançado seria titular e deixando claro que o clube não teria qualquer tipo de ação disciplinar em relação ao passeio na neve.
A outra história paralela, também com contornos pouco felizes, envolveu Weston McKennie. A casa do médio norte-americano, a realizar a primeira temporada em Itália depois de ter deixado os alemães do Schalke 04, foi assaltada enquanto este jogava contra a SPAL, na quarta-feira. Com McKennie em campo, os assaltantes entraram por uma janela da casa de banho e levaram vários objetos de luxo, roupa e sapatos, num modus operandi que na temporada passada aconteceu diversas vezes em Espanha e também em Portugal.
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????????????????-???????? ????????????????!#SampJuve #ForzaJuve pic.twitter.com/kbmSWsOXce
— JuventusFC (@juventusfc) January 30, 2021
Era com esta bagagem, que ficava fora do relvado e não apagava as três vitórias consecutivas sobre as quais a Juventus trabalhou nos últimos dias, que a equipa de Pirlo entrava em campo este sábado. Na visita à Sampdoria de Adrien, os bianconeri precisavam de ganhar para garantir que não perdiam mais terreno para os rivais que estão no topo da Serie A — AC Milan e Inter Milão — e continuar o bom período. Ora, Adrien, a realizar a primeira temporada em Itália e colega de Ronaldo na Seleção Nacional, deu uma entrevista ao Tuttosport onde recordava que, apesar de esta ser a primeira vez que os dois se encontram na Serie A, não é a primeira vez que se defrontam. “Será a minha primeira vez contra Cristiano em Itália, mas não é a primeira vez que nos enfrentamos. Lembro-me, em 2016, de dois jogos da Liga dos Campeões, quando eu estava no Sporting e ele estava no Real Madrid. Duas derrotas por margens pequenas [ambas por 2-1]. Marquei um golo no jogo da segunda volta”, lembrou o internacional português ao jornal italiano.
Este sábado, ambos eram titulares. Na Juventus, Ronaldo fazia dupla com Morata e Pirlo trazia de volta ao onze os jogadores que poupou a meio da semana: Chiellini, Bonucci, Cuadrado, Danilo, Chiesa, Bentancur, Arthur e McKennie. No banco, ficavam Rabiot e Ramsey. Numa primeira parte disputada sob muita chuva, a Juventus abriu o marcador à passagem dos 20 minutos iniciais, através de um desequilíbrio rápido criado por Ronaldo na faixa central. O jogador português, à entrada da grande área, abriu em Morata na direita e o espanhol completou o triângulo, cruzando novamente para o centro e para a finalização de Chiesa (20′).
Ronaldo ficou muito perto de aumentar a vantagem, com um remate de fora de área que passou por cima depois de um desvio do guarda-redes Audero (39′) e outro ao lado num lance em que estava praticamente isolado (40′), mas a Juventus foi mesmo para o intervalo a ganhar pela margem mínima. Enquanto grande mérito, a equipa de Pirlo levava o facto de ter dominado a primeira parte em absoluto, sempre com a equipa muito compacta e as linhas totalmente organizadas, sem qualquer espaço permitido à Sampdoria. Ao contrário do que tantas vezes aconteceu esta época, a Juventus estava a defender bem, estava tranquila na partida e foi eficaz na primeira grande oportunidade que criou. Já Ronaldo saiu tocado de um lance em que foi desarmado na grande área, com uma aparente entorse, mas recuperou durante os instantes finais do primeiro tempo.
Na segunda parte, sem que nenhum dos treinadores tivesse feito qualquer alteração, a primeira oportunidade pertenceu à Sampdoria, com Chiellini a evitar o golo de Quagliarella com um grande corte (55′). Logo depois, Morata marcou, na sequência de uma assistência de Bonucci, mas o lance foi anulado por fora de jogo (56′). A equipa de Génova foi conquistando metros com o passar dos minutos, a aproveitar uma cerca dormência da Juventus e a recordar a margem mínima que se mantinha no marcador e que podia ser anulada com um lance de ataque bem sucedido. Ciente disto mesmo, Claudio Ranieri mexeu pela primeira vez por volta da hora de jogo e lançou o jovem Damsgaard, um médio de características mais ofensivas, para o lugar de Adrien. O internacional português, que estava finalmente a ter bola e a poder construir, saiu visivelmente chateado.
56’ | ❌ | ALMOST A SECOND! @AlvaroMorata has the ball in the goal but it's cancelled out for offside. #SampJuve [0-1] #ForzaJuve pic.twitter.com/SuHlSAcHXy
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A esperança da Sampdoria tornou-se ainda mais visível nos últimos 20 minutos, período em que a equipa de Ranieri tirou alguns cruzamentos perigosos para a grande área e a Juventus parecia estar algo bloqueada, sem grandes ideias. Pirlo reagiu com as entradas de Rabiot e Bernardeschi para os lugares de Bentancur e Morata, para refrescar o meio-campo e a transição ofensiva, e os minutos foram passando sem que a Sampdoria colocasse o resultado verdadeiramente em risco. Cristiano Ronaldo, por sua vez, passou algo ao lado da segunda parte e mostrou algumas dificuldades físicas na disputa de alguns lances. Já nos descontos, Ramsey, que entretanto tinha entrado, acabou com o jogo ao marcar depois de uma assistência brilhante de Cuadrado (90+1′).
A Juventus somou a quarta vitória consecutiva em todas as competições e regressou ao terceiro lugar da Serie A, acima da Atalanta e da Roma e abaixo do AC Milan e do Inter Milão. No dia do reencontro com Adrien, Cristiano Ronaldo teve algumas oportunidades mas não conseguiu marcar — a Juventus, porém, mostrou-se defensivamente sólida como poucas vezes esta temporada e alcançou três pontos num terreno complicado.