O município de Santa Maria da Feira revelou que, para esta fase de aulas à distância, adquiriu mais 190 computadores para garantir condições letivas aos estudantes, que considera que o Governo prejudicou com “um erro gravíssimo de propaganda”. A expressão é do presidente dessa autarquia do distrito de Aveiro, Emídio Sousa, perante o investimento que a sua e “outras autarquias” estão a fazer para proporcionar a todos os estudantes condições de igual acesso às tecnologias necessárias para o ensino remoto.

O Governo preparou isto muito, muito mal. Primeiro, porque em maio ou junho fez um erro gravíssimo de propaganda ao dizer que todas as crianças iam receber um computador em setembro, o que fez com que famílias que até podiam ter adquirido esse equipamento, embora com algum sacrifício, ficassem à espera do Estado, como é natural que acontecesse para pouparem 300 ou 400 euros”, declarou o presidente da Câmara da Feira.

O problema dessa estratégia, diz o autarca social-democrata, é que “agora essas famílias continuam sem o computador que o Governo prometeu e, mesmo que se decidam a comprar um, o encontram muito mais caro, dada a elevada procura e os ‘stocks’ reduzidos”.

Emídio Sousa aponta também como falha à tutela socialista o não ter envolvido os 308 municípios do país no processo de aquisição desses computadores e outro material informático.

Havia fundos comunitários disponíveis para isso e o Governo alocou-os todos à administração central, quando, se fossem as autarquias a gerir o processo para cada concelho e comprar o material, já se tinham desenrascado há muito mais tempo e até faziam um serviço melhor, porque têm profissionais competentes para verificar as características técnicas do equipamento e garantir que esse se adequa ao objetivo”, explica.

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Ensino à distância. Alunos sem computador, professores sem formação tecnológica e pais preocupados com as refeições

No caso específico da Feira, a comunidade educativa do 1.º ao 12.º ano de escolaridade envolve cerca de 4.200 alunos e, desses, 2.501 não dispunham de computador na primeira fase de confinamento, para as aulas a partir de casa. A Câmara Municipal e beneméritos locais reuniram então cerca de 2.015 computadores e ‘tablets’ para empréstimo às famílias que deles não dispunham, assim como 794 ‘kits’ de acesso à Internet e cartão com um ‘plafond’ de dados.

Agora, neste novo confinamento com aulas à distância, a lista de carências sinalizadas pelos agrupamentos escolares do município indicava que em falta estavam ainda 697 computadores e 400 ligações de Internet. Estas últimas foram supridas na totalidade pela Câmara e, no que se refere aos computadores, a autarquia disponibilizou 190, e a solução para os restantes 507 foi, entretanto, encontrada pelas próprias escolas ou famílias dos estudantes.

“O certo é que neste momento não temos indicação de faltar nenhum material às nossas escolas. Se mais computadores nos tivessem pedido, mais computadores teríamos arranjado”, garante Emídio Sousa. Os alunos do 1.º ao 12.º ano retomaram na segunda-feira as atividades letivas, mas longe das escolas, regressando das férias antecipadas para o já conhecido ensino a distância que marcou o final do ano letivo passado.

No total, são cerca de 1,2 milhões de alunos que voltam a ser obrigados a trocar, por tempo indefinido, as salas de aula pelas suas casas, quase um ano depois de, em março, o Governo ter encerrado as escolas e implementado o ensino a distância para conter a pandemia de Covid-19.

O ensino a distância durará pelo menos duas semanas, mas o ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, assegurou que a prioridade do Governo é abrir as escolas o mais rapidamente possível, uma decisão que dependerá da evolução da pandemia de Covid-19.