A França anunciou esta quarta-feira que vai enviar para a Guiné Equatorial um hospital de campanha, medicamentos e tendas, além de uma equipa de desminagem para resposta às explosões que mataram pelo menos 105 pessoas na cidade de Bata.

A mobilização francesa incluirá nos próximos dias um avião com um hospital de campanha, que permitirá o tratamento de 250 feridos graves e ‘kits’ médicos e pediátricos de emergência para tratar cerca de um milhar de pessoas”, anunciou, em comunicado, a diplomacia francesa.

No mesmo voo, deverão também seguir materiais e equipamentos para o combate à Covid-19, bem como tendas e ‘kits’ para cozinhar destinadas às pessoas que ficaram desalojadas. O Ministério da Europa e dos Negócios Estrangeiros francês disse ainda estar a coordenar com o Centro Operacional Interministerial de Monitorização de Crises (Cogic), o envio para Bata de uma equipa de desminagem composta por 10 elementos.

A França responde desta forma ao apelo de ajuda internacional do Presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, apesar do diferendo entre os dois países na justiça.

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A ajuda surge semanas depois de a França ter aprovado na Assembleia Nacional uma lei para permitir a devolução à população da Guiné Equatorial, dos bens confiscados ao vice-presidente da Guiné Equatorial, ‘Teodorin’ Nguema Obiang Mangue, condenado em França por branqueamento de capitais e desvio de fundos públicos.

Em fevereiro de 2020, um tribunal de recurso confirmou a condenação e em dezembro, o Tribunal Internacional de Justiça emitiu uma decisão final rejeitando a alegação da Guiné Equatorial de que o bem mais valioso implicado pelo caso, uma mansão no valor de 110 milhões de euros, deveria ser protegido por imunidade diplomática. Nguema recorreu do caso para o Tribunal de Cassação da França, o mais alto tribunal judicial, que deverá apreciar o caso nos próximos meses.

Se o Governo francês ainda não tiver aprovado a lei, que está agora no senado francês, quando o tribunal emitir a sua decisão e se a condenação for confirmada, o dinheiro será absorvido pelo Orçamento do Estado francês.

A cidade portuária de Bata foi abalada no domingo por uma série de explosões num quartel militar, que provocaram a morte a pelo menos 105 pessoas e ferimentos em outras 615, além de um número indeterminado de desalojados e avultados danos materiais.

Antiga colónia espanhola, governada há 42 anos por Teodoro Obiang, a Guiné Equatorial, um país rico em recursos, mas com largas franjas da população abaixo do limiar da pobreza, integra a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) desde 2014. O país formalizou pedidos de apoio também a Portugal e aos restantes parceiros da CPLP, mas até ao momento não foi divulgada qualquer resposta oficial a este pedido.

Desde a sua independência de Espanha em 1968, a Guiné Equatorial, um dos principais produtores de petróleo de África, é considerado pelos grupos de direitos humanos como um dos países mais repressivos do mundo, devido a acusações de detenções e torturas de dissidentes e alegações de fraude eleitoral.

O chefe de estado de 78 anos, Teodoro Obiang governa o país com mão de ferro desde 1979, quando derrubou o seu tio Francisco Macias num golpe de Estado, e é o Presidente com o mandato mais longo do mundo.