É, possivelmente, o anúncio mais marcante da edição inaugural do Power Day da Volkswagen: baixar para metade o custo das baterias, num horizonte de apenas dois anos, a fim de garantir que a mobilidade eléctrica vai, finalmente, ser acessível.

Entre os planos que o gigante alemão tornou públicos, todos eles directa ou indirectamente relacionados com veículos eléctricos, a redução do custo das baterias em 50% será o que mais interessa ao consumidor, pois os acumuladores são de longe o componente mais caro num automóvel eléctrico. Logo, a promessa de baixar para metade o seu preço vem associada à esperança de aceder a veículos mais baratos. Mas, ao que parece, as vantagens não ficam por aqui, pois a esta promessa a Volkswagen adiciona ainda outros dois argumentos de peso: mais autonomia e tempos de recarga inferiores.

O nosso objetivo é reduzir o custo e a complexidade da bateria e, ao mesmo tempo, aumentar a sua autonomia e desempenho”, disse Thomas Schmall, membro do conselho de administração do Grupo Volkswagen, com responsabilidade na área da Tecnologia.

Como é que se explica esse “milagre”?

Primeiro, há realçar que o “milagre” está por acontecer. Até porque a Volkswagen não dispõe, de momento, de nenhuma fábrica de produção de baterias. Mas, a fazer fé nas intenções do conglomerado germânico, há dois caminhos para chegar a baterias mais baratas rapidamente e ambos devem ser percorridos em simultâneo. Por um lado, há que resolver a tal lacuna de não possuir produção própria de acumuladores e, por outro, há que apostar num novo tipo de bateria que permita baixar os custos, aumentar a autonomia e reduzir o tempo de carregamento.

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Em média, reduziremos o custo das baterias para menos de 100€  por quilowatt-hora”, avançou Schmall.

Thomas Schmall, membro do conselho de administração do Grupo Volkswagen com o pelouro da Tecnologia

Para cumprir a promessa que agora faz, a Volkswagen planeia lançar em 2023 novas células prismáticas unificadas em baterias estruturais e estima que, sete anos depois, 80% de todos os modelos eléctricos do conglomerado alemão estarão equipados com este tipo de acumulador que, para baixar custos, vai alterar as matérias-primas do ânodo e do cátodo. Só isto, projecta a marca germânica, permitirá reduzir em 20% o custo de produção das baterias. Então, de onde vêm os restantes 30%? O contributo mais relevante, representando -15%, decorrerá do próprio design do acumulador, que se espera mais leve e menos volumoso, mas com ganhos em termos de densidade energética. E daí que 5% da redução do custo da bateria decorra do próprio “conceito do sistema”, enquanto os restantes 10% advirão das economias de escala. E este último “trunfo” está relacionado com um outro anúncio da Volkswagen, o de que teria seis fábricas de produção de células para baterias em funcionamento, em solo europeu, até 2030.

Um mapa onde Portugal pode entrar

Foi há pouco mais de um ano que a Volkswagen arrancou com uma fábrica-piloto de produção de células na Alemanha, mais concretamente em Salzgitter. Aí foram investidos 100 milhões de euros, sobretudo canalizados para investigação e desenvolvimento. Mas o plano sempre passou por, nas imediações, erguer um outro complexo fabril em parceria (50% – 50%) com os suecos da Northvolt – os mesmos em que o Grupo VW investiu 900 milhões de euros, mas que também trabalham com outros construtores, nomeadamente a BMW com quem firmaram um contrato de 1,7 mil milhões de euros para a produção de baterias em Skelleftea, na Suécia. Sabe-se agora que a fábrica sueca vai começar a laborar em 2023 e será dirigida em conjunto com a Volkswagen, concentrando a maior parte da produção. O objectivo inicial foi revisto, pois a ideia era arrancar ainda em 2021 com uma produção anual de 40 GWh. Significa isto que o prazo derrapou dois anos, ao mesmo tempo em que se salvaguarda que o complexo irá ser gradualmente ampliado até atingir os tais 40 GWh.

Já a unidade alemã de Salzgitter, que de início apontava para uma capacidade de produção de 16 GWh/ano, saltará também para os 40 GWh anuais, o mesmo sucedendo às restantes quatro fábricas que estão previstas para o Velho Continente. Feitas as contas, dentro de nove anos, o Grupo Volkswagen espera garantir uma produção total de 240 GWh.

Das quatro unidades dedicadas à produção de células, foi avançada apenas a localização de duas. Uma será em Espanha, França ou Portugal, “dependendo das condições oferecidas por cada país”, a outra será na Europa de Leste.