Um euro simbólico foi entregue terça-feira ao Estado maliano e à comunidade internacional, representada pela UNESCO, como reparação da destruição de 2012, por jiadistas, de parte dos mausoléus de Tombuctu, no norte do país.

Esta indemnização foi acordada na sequência do julgamento histórico de um jiadista maliano pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), que considerou pela primeira vez a destruição de bens culturais como um crime de guerra, de acordo com a agência France-Presse (AFP).

O euro entregue é “um símbolo incomensurável do mal que todos sofremos e da nossa vontade de dizer ‘nunca mais'”, disse numa cerimónia na capital maliana, Bamaco, Mama Koité Doumbia, presidente do Fundo em benefício das vítimas, órgão independente criado pelo Estatuto de Roma, tratado fundador do TPI.

A procuradora do TPI, Fatou Bensouda, reafirmou o compromisso da justiça internacional em “defender o que forma a nossa identidade comum”.

O património cultural maliano é “o espelho da humanidade”, disse Bensouda, salientando que “a impunidade não é uma opção” e que “as vítimas devem ser alvo de reparações e a sua dignidade restaurada”.

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A entrega do euro simbólico é “o cororar de uma decisão de justiça que sanciona a destruição de bens culturais como crime de guerra”, sublinhou o presidente de transição do Mali, Bah Ndaw.

Em setembro de 2016, na sua sede em Haia, nos Países Baixos, o TPI condenou o jiadista maliano Ahmad al Faqi al Mahdi a nove anos de prisão por ter “dirigido intencionalmente ataques” contra nove dos mausoléus de Tombuctu, classificados com património mundial da UNESCO desde 1988.

O jiadista era membro do Ansar Dine, um dos grupos ligados à Al-Qaeda que controlaram o norte do Mali durante cerca de dois meses em 2012, antes de serem perseguidos por uma intervenção internacional desencadeada a partir de janeiro de 2013 pela França.

O TPI estima que provocou cerca de 2,7 milhões de euros em danos e ordenou reparações para as vítimas, as primeiras devido à destruição de bens culturais, ordenando também a entrega do euro simbólico, formalizada esta quarta-feira.

As personagens veneradas nos mausoléus islâmicos de Tombuctu, dos quais o mais antigo remonta ao século XIV, valeram à cidade a alcunha de “cidade dos 333 santos”.