Os ministros da Defesa português e moçambicano assinam no final de abril, em Lisboa, o acordo-quadro para formação das forças especiais de Moçambique até 2025, anunciou Gomes Cravinho, que defende uma “resposta multifacetada” à situação naquele país.

Nesta quarta-feira, chegou a Maputo o brigadeiro-general Francisco Duarte, que irá comandar a missão de formação de tropas especiais, prevendo-se o envio de duas equipas avançadas de formadores portugueses em meados de abril, adiantou o ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, em declarações à Lusa.

O governante disse que a assinatura do acordo-quadro de cooperação bilateral para o período de 2021-2025, para a formação e treino de forças especiais, fuzileiros e comandos, terá lugar em Lisboa no final de abril, durante uma visita oficial do seu homólogo moçambicano, Jaime Neto.

Além da formação de forças militares especiais, disse, o acordo inclui outras linhas de cooperação militar no âmbito da formação, nomeadamente as “componentes terra-ar” e informações. “E acredito também que há muito a ganhar em trabalharmos com drones, que oferecem uma capacidade de recolha de informação que pode ser preciosa. E a nível de informações é outro domínio que vai ser trabalhado”, acrescentou.

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O ministro da Defesa sublinhou que a missão em preparação não é uma Força Nacional Destacada mas sim uma cooperação entre dois países soberanos que mantém relações próximas e fraternas.

Quanto à atual situação naquele país, Gomes Cravinho defendeu que a resposta ao que se passa em Cabo Delgado “tem de ser securitária, com recurso à força armada, tem de ser desenvolvimentista, com apoio de cooperação para o desenvolvimento internacional e tem de ser humanitárias socorrendo os 700 mil deslocados”.

Eu acredito que Moçambique não vai tornar-se um Mali, acredito que o governo e as autoridades moçambicanas possam voltar a administrar rapidamente todo o território, a ser plenamente soberanos em toda a extensão do país”, afirmou.

A resposta ao que se passa na província de Cabo Delgado “requer uma abordagem multifacetada e não se resolve de um dia para o outro mas no horizonte de um par de anos começando pela situação securitária porque esta é a base para qualquer desenvolvimento, e prestar socorro humanitário às populações afetadas”, defendeu.

A contribuição de Portugal para a formação e capacitação das forças moçambicanas prevê o treino de “sucessivas companhias” das forças armadas, em três a quatro meses, durante três anos, o que representa um “triplicar” do investimento português em projetos de cooperação com aquele país, que existe desde 1988.

Quanto aos locais de trabalho, está previsto que os militares portugueses estarão no sul do país, em Catembe, perto de Maputo, (fuzileiros) e no centro (comandos), disse Cravinho. Em meados de abril seguirão para moçambique duas equipas-avançadas para dar início, no terreno, às ações formativas.

A província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, é desde há cerca de três anos alvo de ataques terroristas e o último aconteceu no dia 24, em Palma, em que dezenas de civis foram mortos, segundo o Ministério da Defesa moçambicano.

A violência está a provocar uma crise humanitária com quase 700 mil deslocados, segundo agências da Organização das Nações Unidas, e mais de duas mil mortes, segundo uma contabilidade feita pela Lusa.

O movimento terrorista Estado Islâmico reivindicou na segunda-feira o controlo da vila de Palma, junto à fronteira com a Tanzânia.

Vários países têm oferecido apoio militar no terreno a Maputo para combater estes insurgentes, mas, até ao momento, ainda não existiu abertura para isso, embora haja relatos e testemunhos que apontam para a existência de empresas de segurança e de mercenários na zona.

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