Não é a maior rivalidade mundial, nem sequer chega a ser a maior rivalidade espanhola, mas tem sido há largas décadas uma rivalidade única. Athl. Bilbao e Real Sociedad, os grandes clubes do País Basco, protagonizaram centenas de capítulos num confronto com idiossincrasias muito próprias, a ponto de quase sempre haver relações menos hostis entre adeptos do que a nível de dirigentes. Ainda assim, numa ideia todos concordavam: uma final da Taça do Rei entre ambos merecia adeptos nas bancadas. E foi por isso que o encontro ainda relativo à temporada de 2019/20 passou para abril de 2021. Sem efeito: devido às restrições que ainda hoje vigoram, não existia a real possibilidade de haver pessoas no Estádio Olímpico de Sevilha. A festa, essa, estava garantida no País Basco.

Milhares e milhares de adeptos fintaram nos últimos dias as regras e juntaram-se para uma última onda de apoio aos dois conjuntos antes da viagem das comitivas para a Andaluzia. Dezenas de pessoas foram identificadas nesse momento onde a polícia decidiu não ter uma intervenção mais pesada porque era “uma altura que pedia prudência e proporcionalidade”. Foi quase uma festa fora do estádio para quem sonhava fazer a festa dentro do estádio, com a esperança de que no final houvesse razões para fazer a festa onde quer que fosse. Enquanto isso acontecia, como explicou a Marca, os dois clubes negociavam com a Federação e a Liga a realização ou não do habitual pasillo na próxima quarta-feira, altura de novo dérbi para o Campeonato. Coisas de rivalidades.

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Hostilidade sempre houve mas o facto de haver um sentimento comum de orgulho basco evitou excessos dentro das diferenças existentes na filosofia dos dois conjuntos, a principal das quais ligada aos jogadores que podem ou não representar as equipas: a partir de 1989, a Real Sociedad, escaldada pelas difíceis saídas de Bakero, Beguiristain, López Rekarte (todos para o Barcelona) e Loren (para o rival Atl. Bilbao), abriu a porta a estrangeiros, começando logo pelo avançado John Aldridge, do Liverpool; desde 1911 que o Athl. Bilbao joga só com jogadores com ligação à região, depois das queixas por ter feito a Taça de Espanha com dois ingleses profissionais e outros jogadores que não estavam há tempo suficiente no país, alargando com o tempo o leque a filhos de emigrantes ou elementos que tivessem feito a formação em clubes do País Basco – conseguindo assim aquilo que apenas Real Madrid e Barcelona têm no currículo, de nunca terem descido ao segundo escalão do Campeonato.

Curiosamente, foi por influência direta (não desejável) do último jogador a trocar de uma equipa para a outra que se decidiu a Taça do Rei, com um penálti cometido por Iñigo Martínez a desequilibrar as contas de um jogo que esteve equilibrado mas que teve uma Real Sociedad melhor no arranque da segunda parte, quebrando um longo jejum sem títulos (não contando com a Segunda Liga em 2009/10) que perdurava já desde 1987, altura em que a equipa conquistou também a Taça do Rei depois de ter ganho o Campeonato em 1981 e 1982.

Depois de uma primeira parte com poucas oportunidades e onde os criativos dos dois conjuntos quiseram ter sem conseguir o protagonismo (Oyarzabala e David Silva na Real Sociedad, Iñaki Williams e Muniain no Athl. Bilbao), Iñigo Martínez conseguiu um dos melhores momentos numa subida à área contrária onde dominou com o peito, preparou a bola para o pé direito e rematou de fora da área para grande defesa de Álex Remiro (31′). O intervalo chegaria mesmo com um nulo mas a melhor entrada da Real Sociedad acabou por ter efeitos práticos a meia hora do final, com o mesmo Iñigo Martínez a fazer uma grande penalidade que lhe valeu vermelho revertido só para amarelo por indicação do VAR mas que deu a Oyarzabal a oportunidade de inaugurar o marcador (63′).

A festa de suplentes, não convocados e restante staff na bancada mostrava bem a importância do encontro para a Real Sociedad, que até mesmo em vantagem nunca abdicou de manter as linhas de pressão altas que tiveram o condão de forçar vários erros no passe do Athl. Bilbao ainda no seu meio-campo. Também por isso, e perante a incapacidade de reação da equipa de Marcelino García Toral à desvantagem, o encontro chegou ao fim com essa vitória pela margem mínima pela equipa que também na Liga tem estado melhor do que o rival (sexto lugar com mais dez pontos) e que é orientada por um antigo jogador da “casa” e que esteve sempre no comando de equipas dos txuri-urdin, das camadas jovens à equipa B, passando pela principal desde 2018: Imanol Alguacil.