“As pessoas que vêm aqui tiram a máscara. Daquela porta para dentro não há Covid. Queremos que as pessoas se sintam à vontade. Este é um clube privado, queremos que as pessoas se sintam como se estivessem em casa.”

Captadas por uma câmara oculta e transmitidas na passada sexta-feira à noite pelo canal de televisão M6, estas foram algumas das declarações que chocaram o país e que motivaram já a abertura de uma investigação por parte da polícia de Paris a uma série de jantares e festas de luxo que têm sido organizados de forma clandestina na capital francesa, neste momento sob um terceiro confinamento por causa da pandemia de Covid-19 e com todos os restaurantes e cafés fechados desde outubro de 2020.

Da ementa destes jantares, que podem chegar a custar 490 euros por pessoa e são invariavelmente preparados por “grandes chefes” e regados a champanhe, podem constar iguarias como caviar, lagosta ou foie gras — mas não máscaras. Gérald Darmanin, o ministro francês do Interior, que ordenou a investigação, já disse publicamente que estes ajuntamentos são “totalmente inaceitáveis” e que “estas pessoas devem ser processadas e condenadas por terem organizado tais festas”.

Através das imagens do M6, que localiza o jantar apenas num “bairro sofisticado” de Paris, é possível ver vários homens e mulheres, bem vestidos, que se cumprimentam com beijos na cara à chegada ao luxuoso apartamento, como se efetivamente no seu interior não existisse pandemia.

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Também são audíveis as declarações do organizador do jantar, que revelou que o que não têm faltado na capital francesa são eventos do género. “Esta semana jantei em dois ou três restaurantes, que são justamente, como se diz, restaurantes clandestinos, com vários ministros”, garantiu, para depois rematar: “Ainda estamos em democracia, fazemos o que queremos”.

Segundo a imprensa francesa, o organizador do jantar foi entretanto identificado como Pierre-Jean Chalençon, um excêntrico colecionador de memorabilia de Napoleão Bonaparte que é proprietário do Palais Vivienne, um pequeno hotel de luxo com restaurante no 2º arrondissement de Paris.

Apesar de não negar ter organizado o jantar do passado dia 1 de abril, que até terá sido publicitado nas redes sociais, Chalençon fez entretanto saber esta segunda-feira através do seu advogado que as referências aos jantares clandestinos com ministros não terão passado afinal de “uma piada”.

De acordo com a reportagem do M6, quem for condenado por colocar em risco a vida de terceiros — que segundo o procurador de Paris Remy Heitz é o crime em que podem incorrer os organizadores e participantes nestes eventos — pode cumprir pena de prisão efetiva até um ano e estar sujeito ao pagamento de uma multa de 15 mil euros.