O Porto Comprehensive Cancer Center (P.CCC) vai implementar um projeto de investigação que, com uma dotação de 17,6 milhões de euros, visa encurtar o ciclo de descoberta científica do cancro e “aproximar a investigação científica dos doentes oncológicos”.

“Se tivesse de resumir o projeto numa frase, diria que é aproximar a investigação científica dos doentes oncológicos”, afirmou esta quinta-feira, em declarações à Lusa, Rui Henrique, presidente do Instituto Português de Oncologia do Porto (IPO Porto) e coordenador do P.CCC, consórcio entre a unidade hospitalar e o Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S).

O P.CCC viu aprovado pelo programa regional Norte 2020 um financiamento de 14,9 milhões de euros para implementar, até 2023, o projeto TeamUp4Cancer na região Norte, cujo investimento total ascende aos 17,6 milhões de euros.

Com a visão de que é “mandatório” reduzir o tempo que separa a investigação científica do benefício para o doente, o projeto pretende tornar o P.CCC numa “referência nacional e internacional”.

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Nesse sentido, o projeto prevê a aquisição de novos equipamentos que vão permitir aos investigadores do i3S fazer a caracterização molecular, o estudo pormenorizado da genética das células tumorais e o seu comportamento quer em modelos animais (ratinhos), quer em amostras provenientes de doentes oncológicos.

Vamos também identificar novos biomarcadores, novas moléculas que permitem identificar melhor as células e depois vamos passar esses biomarcadores para a área clínica para que essas descobertas sejam validadas clinicamente e ver qual será a sua utilidade em termos práticos”, revelou à Lusa, Cláudio Sunkel, presidente do i3S.

Segundo o presidente do IPO do Porto, “todo o equipamento tem como foco desenvolver e aplicar metodologias para que tenhamos a capacidade de nos doentes, identificar e caracterizar de forma mais aprofundada o seu tumor e assim, conseguir desenhar melhor a sua estratégia terapêutica”.

Convicto de que “não há cancro”, mas sim “cancros em doentes”, Rui Henrique referiu que o objetivo do projeto passa também por “individualizar em cada doente o tumor que tem” e tratar esse tumor “com medicina de precisão”.

O projeto prevê ainda a remodelação de uma área inativa no IPO do Porto para o desenvolvimento de ensaios clínicos de fase precoce, processo iniciado na instituição há cerca de dois anos. “Já o estamos a fazer, mas é num espaço pequeno que não nos permite crescer e ser mais competitivos”, disse, salientando que este é o “materializar de um sonho antigo” do IPO do Porto.

Com a implementação do projeto, Rui Henrique acredita que sejam anualmente elegíveis para pré-seleção dos ensaios clínicos “200 a 300 doentes oncológicos” com diferentes tipos de cancro do IPO, mas também de outras instituições.

O projeto vai ter por base neoplasias “muito frequentes” como o cancro da mama, o cancro do pulmão ou da próstata, mas também “muito raras” como os tumores pediátricos, sarcomas e tumores raros de várias localizações que não tem “nenhum tipo de estratégia definida”.

“A forma como desenhamos o trabalho não coloca de fora nenhum tipo de tumor. Aliás, queremos olhar para a forma como o cancro atua naquele doente e as consequências que tem e, depois da sua caracterização, tentarmos identificar uma forma específica de o tratar independentemente da sua localização”, disse.

Para o presidente do IPO do Porto o impacto imediato deste projeto é ter “capacidade de construir uma estrutura que dá resposta a necessidades” já sentidas atualmente em termos de investigação científica com impacto no doente, mas também de ser “gerador de riqueza na região”.

Já o diretor do i3S afirmou que o projeto vai ter um “impacto significativo” tanto ao nível das sinergias entre as duas instituições, como dos novos equipamentos, que vão permitir “avançar” e estar “na primeira linha das tecnologias utilizadas para o rastreio e diagnóstico precoce do cancro, assim como de novas estratégias de acompanhamento e tratamento dos doentes”.

No âmbito do projeto vão também ser contratados 12 doutorados, 10 técnicos de investigação e um elemento de gestão de projetos.