No rescaldo da polémica sobre os apoios sociais, o PCP está a aumentar a pressão sobre o Executivo, a meses de começarem as conversações sobre o próximo Orçamento do Estado. O secretário-geral comunista, Jerónimo de Sousa, criticou este domingo o Governo por resistir a dar os apoios a quem teve de parar de trabalhar devido à pandemia, lamentando que a “grande prioridade” seja o défice e não as pessoas.

Num discurso que antecedeu a inauguração e visita às exposições “100 anos de luta no distrito de Lisboa” e “Artes Plásticas — 100 anos 100 artistas”, na Gare Marítima de Alcântara, em Lisboa, Jerónimo de Sousa apontou uma “profunda injustiça” na distribuição dos apoios no combate à pandemia, uma vez que “mais de dois terços” foram para as empresas, incluindo para as empresas dos grandes grupos económicos, “e menos de um terço para apoios sociais”.

“Esta semana vimos como o Governo persiste na discriminação dos trabalhadores independentes e das pequenas e médias empresas, apesar das quebras significativas que estas tiveram de faturação, resistindo a responder com os apoios necessários a quem foi obrigado a cessar a sua atividade, por decisão governamental, pondo à frente da resposta aos problemas das pessoas os critérios do défice, assumido como a grande prioridade”, criticou.

Com as críticas apontadas ao executivo socialista, o líder comunista referiu que o défice só não é prioridade “quando se trata de garantir os milhões para o Novo Banco” ou nas “cedências à EDP em borlas fiscais”. Entre os problemas estruturais e os problemas novos criados pela covid-19, o líder do PCP afirmou que a vida dos portugueses, “já antes complicada”, está “mais difícil, “sem que da parte do Governo se vejam as respostas necessárias” e que considera que “era possível tomar para dar resposta”. “Não é por acaso que Portugal é dos países da União Europeia que menos meios colocaram na resposta ao impacto da epidemia”, lamentou.

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As críticas do PCP são especialmente relevantes porque as relações à esquerda atravessam um momento difícil: depois de o Governo ter decidido enviar a extensão dos apoios sociais aprovada pelo Parlamento e promulgada pelo presidente da República para o Tribunal Constitucional, os partidos dispararam contra o Executivo e o PCP avisou mesmo que, perante estas atitudes, é provável que “o confronto” aumente. Já este sábado Catarina Martins, durante a apresentação da candidatura bloquista de Beatriz Gomes Dias à Câmara de Lisboa, reforçava: adiar os apoios significará “condenar as pessoas a uma crise maior”.

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Foi com o voto dos comunistas, a somar aos do PEV e do PAN, que o Governo conseguiu que o atual Orçamento do Estado fosse viabilizado. Esta semana, à Lusa, o líder parlamentar comunista, João Oliveira, veio deixar novo aviso: quanto maior for a execução do atual OE, “menos difícil” será a base para as negociações do próximo, que devem arrancar durante ou no final do verão.

Jerónimo quer descer Avenida no 25 de Abril

As duas exposições inauguradas este domingo estão inseridas no centenário do partido, que Jerónimo de Sousa qualificou como “uma vida e uma luta feita de vitórias e derrotas, avanços e recuos e enfrentando inimigos terríveis”.

“Com aquela confiança que nos conduziu a Abril e o transformou em revolução, e que hoje, com a mesma confiança de sempre, nos preparamos para comemorar o seu 47.º aniversário por todo o país e aqui, em Lisboa, descendo a Avenida da Liberdade, reafirmando lado a lado com outros democratas e patriotas: ’25 de Abril sempre, fascismo nunca mais'”, afirmou.

Esta semana, a comissão promotora do desfile que assinala o 25 de Abril de 1974 referiu que está a realizar contactos com as autoridades para verificar se existem condições sanitárias para a celebração, devido à pandemia da covid-19.