É o maior produtor de vacinas contra a Covid-19 em todo o mundo, mas não tem vacinas suficientes para vacinar a sua própria população. À medida que a segunda vaga acelera, a Índia enfrenta um colapso do sistema de saúde e o processo de vacinação não está a avançar suficientemente rápido para travar a catástrofe.

De acordo com a CNN, a Índia produz mais de 60% das vacinas vendidas a nível global, desempenhando um papel fulcral o Serum Institute of India, que é responsável pela produção de 200 milhões de doses da vacina destinadas a 92 países no âmbito do projeto COVAX.

Além disso, o país tem vendido dezenas de milhões de doses para todo o mundo. Segundo a Reuters, entre janeiro e março, a Índia exportou 64 milhões de doses da vacina contra a Covid-19. Em abril, até ao momento, foram exportadas 1,2 milhões de doses.

O título de maior produtora de vacinas a nível mundial, no entanto, não se está a traduzir numa forma mais eficaz de combater a pandemia a nível interno. Desde o passado mês de março, quando começou a segunda vaga, o número de novos casos de coronavírus na Índia tem vindo a disparar e este domingo o país atingiu um novo recorde, ao registar 261,500 novas infeções e 1.501 mortes por Covid-19.

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Em menos de uma semana, a Índia registou mais de um milhão de casos de infeção, tendo ultrapassado a marca dos 14 milhões na passada quinta-feira — desde o início da pandemia, são já 14,7 milhões de infeções, a que acrescem as 177.150 mortes.

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Para travar a nova vaga, as autoridades indianas impuseram novas restrições, como o recolher obrigatório ao fim de semana e durante e a noite em Nova Deli. Tal como na primeira vaga, temendo um confinamento geral, milhares de trabalhadores migrantes estão a abandonar as grandes cidades rumo às aldeias e vilas, o que pode levar a um aumento do número de infeções.

As medidas de restrição, não entanto, ainda não se revelaram eficazes e os hospitais de várias regiões indianas estão no limite. O chefe do governo de Nova Deli, Arvind Kejriwal, por exemplo, alertou para a falta de camas nas unidades de cuidados intensivos e para a escassez de oxigénio — problemas que se verificam noutras regiões e que fazem temer o colapso do sistema de saúde indiano.

Escassez de vacinas leva a encerramento de centenas de centros de vacinação

A este cenário acresce o problema da escassez de vacinas, que já levou ao encerramento de vários centros de vacinação, por falta de doses para administrar aos indianos. Segundo a CNN, que cita as autoridades sanitárias indianas, em Odisha, cerca de 700 centros de vacinação encerram na última semana. Em Mahrashtra, o estado mais afetado pela pandemia, vários centros suspenderam a vacinação e 70 centros foram encerrados em Mumbai. Pelo menos cinco estados apelaram ao governo federal de Narendra Modi para agir rapidamente.

Nesse sentido, tal como já aconteceu em março, as autoridades indianas e o Serum Institute of India voltaram a adiar a entrega de vacinas no âmbito do projeto COVAX, destinado aos países mais pobres, com o objetivo de dar maior prioridade aos indianos.

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De acordo com os números da Our World in Data, atualizados com os números do passado sábado, a Índia, que tem mais 1,3 mil milhões de habitantes, já administrou mais de 106 milhões de doses da vacina contra a Covid-19. Mais de 16 milhões de indianos já receberam as duas doses da vacina. Ou seja, pouco mais de 1% está totalmente vacinada.

O objetivo do governo de Narendra Modi é vacinar 300 milhões de pessoas até agosto, uma meta que se avizinha cada vez mais difícil, tendo em conta o atraso no processo.

Neste momento, são administradas duas vacinas na Índia, a da AstraZeneca e a Covaxin, desenvolvida pelo próprio país. Mas, devido à escassez de vacinas — que é explicada, em parte, pela disrupção nas cadeias de distribuição —, as autoridades indianas procuram a aprovação de novas vacinas, como a de Pfizer, Moderna ou Johnson & Johnson. Na semana passada, foi ainda aprovado o uso de emergência da vacina russa Sputnik V.

Além dos problemas nas cadeias de distribuição, conforme escreve a Reuters, a Índia enfrenta a pressão de vários governos, nomeadamente do Reino Unido, para cumprir os prazos na entrega das vacinas da AstraZeneca, que tem atrasado as entregas um pouco por todo o mundo.

Apesar da escassez de vacinas no país, o governo indiano tem afirmado que a situação está sob controlo. O ministro da Saúde, Harsh Vardhan, garantiu que o executivo está a fazer tudo para garantir não só o fornecimento contínuo de vacinas, como também de oxigénio para os hospitais necessitados.