Um grupo de atores alemães decidiu criar um website e um canal de YouTube para ridicularizar e criticar o confinamento em vigor no país. De forma sarcástica, os artistas deram o nome de #allesdichtmachen (“que se feche tudo”) à iniciativa e sugerem ao governo alemão que endureça ainda mais as medidas contra a propagação da doença. O projeto tem sido, no entanto, alvo de várias críticas, sendo acusado de dar voz às teorias de conspiração de negacionistas sobre a Covid-19. 

Uma das atrizes mais conhecidas na Alemanha, Heike Makatsch — que já participou em filme como “The Book Thief” ou “Love Actually” — gravou um vídeo para a iniciativa. Sentada em casa, ouve a campainha tocar, mas recusa-se a abrir a porta para “mostrar responsabilidade para o país“. “Faz-me muita impressão como é que há gente tão egoísta que seja capaz de abrir a porta. Agora é importante que não contactemos com ninguém”, ironiza.

E não é o único caso. Noutro vídeos, um dos participantes numa das séries mais reconhecidas do país, “Tatort”, Richy Müller inspira através de um saco de plástico e expira por outro para evitar criar aerossóis, de modo a “evitar a transmitir de Covid-19”. “Eu protejo-me e projeto os outros e acho bem que sigam o meu exemplo. Existem tantas pessoas egoístas e indisciplinadas e é por isso que estamos assim”, troça o ator.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Realizados por uma produtora de Munique, os vídeos têm sido alvo de discórdia e até profissionais da área vieram criticar a iniciativa. Por exemplo, o ator Elyam M’Barek escreveu na sua conta pessoal do Twitter que o “cinismo não ajuda ninguém” e o apresentador de televisão Tobias Schlegl sugeriu que os atores “mostrassem a sua ironia aos ventiladores”. 

Segundo o The Guardian, os críticos argumentam que a iniciativa é um terreno fértil para que se espalhem e se produzam teorias de conspiração em relação à Covid-19. Além disso, numa altura em que as infeções estão a aumentar na Alemanha, estes vídeos são considerados um mau exemplo e poderão aumentar a resistência a medidas mais restritivas. 

No espetro político, são vários os responsáveis que aplaudiram a iniciativa — e de espetros políticos opostos. Por exemplo, Hans-Georg Maaßen, membro do gabinete de Angela Merkel, elogiou o sarcasmo dos vídeos e também Sahra Wagenknecht, líder parlamentar do Die Linke (esquerda), considerou-os ser uma “boa adição à sua playlist”.

A maior preocupação dos fundadores do projeto reside no facto de o partido de extrema-direita alemão, Alternative für Deutschland (AfD), ter saudado a realização dos vídeos, conta o jornal britânico. Como consequência, a atriz Meret Becker, uma das participantes, já veio dizer que “uma das últimas coisas que queria” era que os vídeos “fossem instrumentalizadas pela direita”. 

As críticas e a associação à extrema-direita já levou a que os criadores da iniciativa publicassem um comunicado no seu website, distanciando-se dos grupos anti-vacinas, dos negacionistas e ainda do partido AfD. Os fundadores defenden que os vídeos fazem refletir sobre “em que sociedade queremos viver” e que as “críticas ao confinamento são legítimas desde que sejam sustentadas por argumentos e factos”.

O número de casos diários de Covid-19 tem aumentado na Alemanha nas últimas semanas e Angela Merkel descreveu a situação como sendo “muito séria”.