O filme começa com uma chamada. A chamada que Jason, o filho de Alex Ferguson, fez para os serviços de emergência médica depois de o pai ter sofrido uma hemorragia cerebral em casa. Em maio de 2018, há três anos, o mundo inteiro temeu o pior para o histórico treinador do Manchester United. Mas Ferguson ripostou, regressou e agora, recuperado, garante que está “grato pelos três anos extra”.

O filme, este filme, é “Sir Alex Ferguson: Never Give In”. Estreia este mês, é realizado precisamente por Jason Ferguson e conta a história de Sir Alex, desde as aventuras dentro e fora de campo, a vida familiar e a recente recuperação do susto. Na antecâmara da estreia do filme, o escocês deu uma rara e longa entrevista à BBC Sport, onde acabou por revelar os detalhes do problema grave de saúde que o deixou nos cuidados intensivos durante vários dias.

“Tentei sair da cama e caí, simplesmente. Tive muita sorte porque caí para cima da sapateira, todos os sapatos caíram e fizeram barulho e a Cathy [a mulher] estava lá em baixo. Ela subiu e sentou-me contar a parede. É a última coisa de que me lembro”, contou o antigo treinador, que acrescentou ainda que o grande medo que sempre teve, enquanto esteve no hospital, foi perder a memória. “Sempre dependi disso. Quando os meus dois netos foram visitar-me, eu parei de falar de repente, não conseguia soltar nenhuma palavra. Nesse momento fiquei um pouco aterrorizado, tenho de admitir. E depois comecei a pensar: ‘O que é que vou fazer agora? Não consigo falar, perdi a memória?’. E depois comecei com as sessões de terapia da fala. A terapeuta era fantástica, pôs-me a escrever os nomes da minha família, os nomes dos meus jogadores, e 10 dias depois já estava a falar outra vez”, acrescentou Alex Ferguson.

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Para o escocês, que atualmente tem 79 anos, a experiência deixou-o ainda mais agradecido ao Serviço Nacional de Saúde, algo que diz já ter sido “durante toda a vida”. “Isto mudou-me. Fez com que não levasse as coisas tão a sério, agora sei que sou vulnerável… Se for embora amanhã, estarei grato pelos três anos extra que já tive. Esse é um sentimento que já tenho há algum tempo”, explicou. O filme tem como tema central as raízes de Alex Ferguson, em Glasgow, e recorda o período em que o antigo treinador trabalhou numa fábrica, a produzir ferramentas. A dada altura, surgem filmagens nunca antes vistas em que Sir Alex lidera uma manifestação de aprendizes, em 1960, a exigir um aumento salarial.

Manchester United v Espanyol - Pre Season Friendly

Com Ole Gunnar Solskjaer, atual treinador do Manchester United, aqui ainda enquanto jogador do clube inglês

“Quando o Jason apareceu com essas imagens… Foi espantoso. Perguntei-lhe onde é que tinha ido buscar aquilo. Esse é o momento de que mais me orgulho, daquela altura, porque os aprendizes não recebiam bem naqueles dias… Essa causa, conseguir melhores condições, vive sempre comigo. Vai continuar comigo durante toda a vida porque a forma como somos educados vive connosco, as coisas importantes que a nossa mãe e o nosso pai nos ensinaram. À medida que crescemos, a nossa personalidade pode mudar mas essas coisas é que são a verdadeira fundação”, indicou o antigo técnico do Manchester United, que será sempre recordado como o grande responsável pela ida de Cristiano Ronaldo para Old Trafford.

Na entrevista, Alex Ferguson falou ainda sobre a Superliga Europeia e deixou um exemplo prático sobre o porquê de ser contra a tentativa dos clubes mais poderosos do mundo — incluindo o Manchester United. “Como jogador, joguei nas competições europeias pelo Rangers e pelo Dunfermline. E depois, como treinador, peguei num clube provincial, o Aberdeen, e derrotei o Real Madrid na final da Taça das Taças de Gotemburgo [1983]. Foi um clube provincial a realizar um sonho. Todos os clubes deveriam ter o sonho de alcançar o que o Aberdeen alcançou. É essa a minha resposta. Nunca podemos esquecer que a verdadeira razão que criou o futebol foi garantir que o tipo mais pequeno podia escalar até ao topo do Evereste, essa é a melhor maneira de explicar”, atirou, deixando ainda elogios ao trabalho que Ole Gunnar Solskjaer tem feito nos red devils e ao ativismo social de Marcus Rashford.

Treinador Alex Ferguson operado de urgência