António Coimbra Martins, um dos fundadores do Partido Socialista (PS) e ex-ministro da Cultura, morreu esta quarta-feira aos 94 anos, anunciou o partido.

Numa nota de pesar, o PS anunciou a morte, em Paris, de António Coimbra Martins, um dos fundadores deste partido e que foi um destacado escritor, diplomata, político e intelectual.

Nascido em Lisboa, em janeiro de 1927, António Coimbra Martins era formado em Filologia Românica, pela Universidade de Lisboa, e foi professor do ensino secundário e leitor de Português nas Universidades de Montpellier, Aix-Marselha e Paris, tendo depois ingressado como assistente na Faculdade de Letras de Lisboa, onde regeu a cadeira de literatura francesa. Em 1965, em Paris, foi o responsável pela criação, através da Fundação Calouste Gulbenkian, do Centro Cultural Português.

Coimbra Martins foi titular da pasta do Ministério da Cultura no IX Governo Constitucional em Portugal, que teve como primeiro-ministro Mário Soares (PS). Foi deputado por Vila Real em 1985 e deputado europeu de 1986 a 1994, tendo integrado o Grupo Socialista no Parlamento Europeu.

Segundo a nota de pesar do PS, António Coimbra Martins dividiu a sua vida entre Portugal e França, tendo ambos os países partilhado o seu talento e reconhecido o seu mérito.

Em 1997, foi agraciado com o grau de Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique e o governo francês atribuiu-lhe o grau de Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras.

PS recorda símbolo da luta pela liberdade

O Partido Socialista (PS) lamentou a morte de António Coimbra Martins, um dos seus fundadores, recordando-o como “um símbolo da luta incansável pela liberdade”.

António Coimbra Martins permanecerá para sempre na história do Partido Socialista, não só como seu fundador, não só como símbolo da luta incansável pela liberdade, mas também como um prestigiado intelectual que dedicou a sua vida também à projeção da cultura portuguesa além-fronteiras”, lê-se na nota do PS.

Segundo o PS, a adesão à Ação Socialista Portuguesa, em 1964, e a fundação do Partido Socialista são dois momentos incontornáveis na sua vida política.

Em 1974 foi designado responsável pelos trabalhos da delegação portuguesa encarregada de preparar a reinserção de Portugal na UNESCO.

No mesmo ano, foi nomeado embaixador de Portugal em Paris e a sua atuação, no âmbito da diplomacia, salientou-se particularmente nas negociações decisivas que envolveram o processo de integração portuguesa na Europa, na abertura das relações diplomáticas com a China e no início de uma política inovadora em relação à emigração portuguesa em França, onde seria eleito deputado da Emigração/Europa pelo PS, em 1983.

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Portugal perde um dos mais ilustres intelectuais, diz Ferro Rodrigues

O presidente da Assembleia da República manifestou o seu pesar pela morte do antigo ministro socialista António Coimbra Martins, considerando que Portugal perdeu um dos mais ilustres intelectuais com uma vida dedicada à democracia e cultura.

Com a sua morte, Portugal perde mais um dos seus ilustres intelectuais, um homem cuja vida foi inteiramente dedicada à Democracia e à Cultura”, salienta Ferro Rodrigues na sua mensagem.

O presidente da Assembleia da República assinala depois que, “em reconhecimento pelos relevantes serviços prestados a Portugal e na expansão da cultura portuguesa”, Coimbra Martins “foi agraciado com o grau de Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, em 9 de junho de 1997”.

Marcelo destaca o seu papel político-diplomático após o 25 de Abril

O Presidente da República lamentou na quarta-feira à noite a morte do antigo ministro e fundador do PS António Coimbra Martins, destacando o seu papel em negociações político-diplomáticas após o 25 de Abril.

Numa nota publicada no sítio oficial da Presidência da República na Internet, Marcelo Rebelo de Sousa manifesta pesar pela sua morte.

Devemos-lhe diversas negociações muito relevantes do Portugal pós-revolucionário, como a reinserção de Portugal na UNESCO, a abertura de relações diplomáticas com a China e as políticas integradoras das comunidades portuguesas emigradas”, assinala o chefe de Estado.

Gulbenkian lamenta morte de antigo diretor da delegação em Paris

A Fundação Calouste Gulbenkian lamentou a morte de António Coimbra Martins, que foi diretor da delegação da instituição em França, entre 1997 e 1998, estando associado ao Centro Cultural Português, desde a sua criação em 1965.

Na nota de pesar enviada à agência Lusa, o conselho de administração da Gulbenkian recorda que Coimbra Martins colaborou com a fundação desde 1962, data em que o seu presidente José de Azeredo Perdigão o convidou para, com o professor catedrático Luís de Matos, “refletir sobre o conteúdo de uma biblioteca de referência de língua e cultura portuguesas para o Centro Cultural Português”, em Paris.

A Gulbenkian lembra ainda que, depois de inaugurado o centro, em 1965, foi António Coimbra Martins que organizou e enriqueceu a Biblioteca, tornando-se seu diretor, que acumulou com as funções de subdiretor.

“A riqueza da Biblioteca da delegação em França, hoje em dia uma das principais coleções de língua portuguesa fora de Portugal, na Europa, muito lhe deve. Coimbra Martins deixa uma obra escrita de referência sobre literatura portuguesa”, salienta ainda o conselho de administração da Fundação Calouste Gulbenkian.

Uma vida ancorada nos valores mais nobres da liberdade, lembra o Governo

A ministra da Cultura, Graça Fonseca, lamentou a morte de António Coimbra Martins, que considera “um dos grandes responsáveis pela projeção da cultura portuguesa”.

Graça Fonseca recorda o percurso de António Coimbra Martins, desde o nascimento, em Lisboa, no primeiro mês de 1927, ao seu afastamento da vida pública, já na viragem para os anos 2000.

Foi um ilustre humanista e sonhador, um cidadão convicto e implicado com o seu tempo, que fez da cultura, do ensino e da política o seu modo de estar no mundo, num exemplar trajeto de vida sempre ancorado nos valores mais nobres da liberdade e do respeito pelo outro”, escreve a ministra.

“Dividiria a sua vida entre Portugal e França, espraiando o seu talento e sabedoria, e revelando-se um dos grandes responsáveis pela projeção da cultura portuguesa além-fronteiras”, continuou, acrescentando que “perante este reconhecido percurso, não lhe faltariam vários agraciamentos oficiais dos governos português e francês”.