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"M.O.D.O.K.". Como é que um supervilão com um supercérebro vive em família?

Este artigo tem mais de 2 anos

É mau e tem planos destruidores. Mas também tem de pagar contas, rendas, ordenados, tomar conta da casa e dos filhos. No Disney+ há uma série que é uma paródia ao dia-a-dia de um malfeitor frustrado.

"M.O.D.O.K." conta a história de um super vilão, que é um super cérebro que quer destruir o mundo e reconstruí-los à sua maneira, mas que não consegue resolver os dilemas familiares
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"M.O.D.O.K." conta a história de um super vilão, que é um super cérebro que quer destruir o mundo e reconstruí-los à sua maneira, mas que não consegue resolver os dilemas familiares

"M.O.D.O.K." conta a história de um super vilão, que é um super cérebro que quer destruir o mundo e reconstruí-los à sua maneira, mas que não consegue resolver os dilemas familiares

Em ano de “Wandavision”, que ao longo de todos os episódios faz uma homenagem constante a formatos clássicos da televisão de comédia, era inesperado encontrar outra série do universo da Marvel inspirada nos mesmos géneros. “M.O.D.O.K.”, que se estreou a 21 de maio no Disney + (os seus dez episódios chegam semanalmente), tem personagens da Marvel, mas está fora do grande bolo que é o Universo Cinematográfico da companhia. Está fora de tudo, para dizer a verdade. É uma inesperada surpresa – e é um refresco – na comédia televisiva, inspirada em sitcoms familiares.

Há vários ingredientes nesta receita. A série “M.O.D.O.K.” é o resultado de um trabalho feito em stop-motion, foi criada pelos Stoopid Buddy Stoodio, de Seth Green (lembram-se dele de “Buffy”?) e Matthew Senreich, também responsáveis por “Robot Chicken”, provavelmente a melhor sátira – para televisão – à cultura popular deste século. A voz de “M.O.D.O.K” pertence a Patton Oswalt – que também é um dos criadores desta adaptação –, com uma tónica ótima para este género e com quem o Observador falou via Zoom sobre esta nova série. E “M.O.D.O.K.” não é um superherói, mas um vilão, com um aspeto repugnante, em forma de supercérebro num corpo minúsculo.

Patton Oswalt explica-o em poucas palavras:

“É uma cabeça gigante, raivosa, que quer dominar o mundo. Uma personagem típica de Jack Kirby, M.O.D.O.K. antes de ser M.O.D.O.K. é um tipo abaixo da média, que é transformado num supercérebro para ser usado como arma, e que ganha autonomia e quer controlar o mundo, destruir tudo.”

Este “abaixo da média” é central para entender a série. Imaginemos as frustrações de um tipo assim, a quem é dado muito poder e que não consegue lidar emocionalmente com isso. Agora acrescentemos vários fatores: a empresa que gere está à beira do colapso, ninguém o respeita, a família está farta dele e M.O.D.O.K. enfrenta uma crise de meia-idade.

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[o trailer de “M.O.D.O.K.”:]

É com isto que o espectador tem de lidar. Uma animação em stop-motion sobre um vilão frustrado, que quer, à força, duas coisas: respeito e ter uma vida normal. E tudo está a falhar. A vida normal é um dos grandes segredos de “M.O.D.O.K.” — a série — porque transformam o formato não numa série Marvel, mas numa sitcom situacional familiar. Os vilões têm os mesmos problemas que nós? Certo, mas agora imagine-se isso com um supercérebro, um superego e uma superúlcera nervosa de quem não vai aceitar as regras do mundo.

O falhanço de M.O.D.O.K. como pessoa, pai, marido, vilão, empresário, cientista, é monumental. E o espectador sabe logo disso: “Ele está chateado com os heróis e com os vilões. Ele acha que é desrespeitado por todos, porque nunca é colocado ao nível dos seus pares. Sempre abaixo. Adoro esse tipo de frustração de quem está na categoria C mas quer ser A, é algo tão humano. Além disso, ele quer destruir o mundo e, simultaneamente, ter uma família adorável. Ele quer tudo. E não percebe que tem de fazer escolhas.”

Patton fala fascinado sobre M.O.D.O.K.. Vê nele uma mensagem tão acertada para os dias de hoje, um veículo para espelhar muitas das coisas que acontecem na atualidade. E, sobretudo, a exaustão do individualismo, potenciada pela internet/redes sociais, e a inabilidade que isso cria em aceitar erros. Queremos ser todos perfeitos, mas somos todos M.O.D.O.K.: “Ele nunca vai admitir o fracasso e isso faz parte da piada – apesar de estar tudo a desintegrar-se à sua volta. Isso faz com que a tensão aumente e, obviamente, que a família se destrua mais rapidamente, que os planos de domínio do mundo fracassem ainda mais monumentalmente e que até as ambições como cientista desiludam. Tudo o que ele está a fazer está a ruir.” Qual a solução? “Falar mais alto, negar ainda mais.” Reconhecem um padrão?

À medida que a série evolui, o protagonista enterra-se mais no seu fracasso e na incapacidade de criar empatia com as suas situações. O mundo desaba à sua volta, mas M.O.D.O.K. só consegue pensar nele e no que os outros fizeram dele. A culpa nunca é sua.

M.O.D.O.K. não admite o falhanço. Cria camadas e camadas de negação para gerar ainda mais fracasso: “Ele é um perigo porque vê-se como uma mente avançada, mas na verdade é um miúdo de cinco anos com armas demasiado poderosas. Ele pensa que está em controlo, mas não está. E a verdade é que ele seria bem mais perigoso – no sentido das suas intenções – se fosse calmo e se parasse para pensar.”

Sim, M.O.D.O.K. parece Donald Trump. Não é algo óbvio, é algo que vai entrando à medida que se vê o protagonista a enterrar-se mais no seu fracasso e na incapacidade de criar empatia com as suas situações. O mundo desaba à sua volta, mas M.O.D.O.K. só consegue pensar nele e no que os outros fizeram dele. A culpa nunca é sua.

Tudo acontece sem se perder o humor e o à-vontade crítico da cultura popular que está no ADN da Stoopid Buddy Stoodio: “Eles adoram super-heróis, ficção científica, cultura popular. Quando gozam com algo, não é para gozar. É porque adoram aquilo e não percebem porque é que algo foi feito de determinada forma. É por isso que os especiais ‘Star Wars’ que fizeram no “Robot Chicken” são tão bons, nunca é do ponto de vista ‘isto é estúpido’. São fãs. E “M.O.D.O.K.” está cheio de detalhes e pequenos tesouros da Marvel, que eles colocaram lá sem avisar ninguém.”

Se abrir o Disney+ irá ver por lá uma cabeça gigante, carregue sem medo. Imagine o que é ver o dia-a-dia de um super-vilão, que tem de pagar rendas, ordenados a funcionários, gerir um negócio – esse de dominar o mundo – que está à beira da ruína. Enquanto isso, tem de ser um homem de família. Nada, mesmo nada, corre bem a M.O.D.O.K.. E ainda bem.

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