Licenciado em Marketing e pós-graduado em Gestão, grande parte do percurso profissional de Sérgio Pinto foi feito no grupo Sonae, onde trabalhou no ramos de telecomunicações e da Tecnologia de Informação. Arrancar com um projeto como a Beamian — que começou por ser uma plataforma de eventos presenciais — não foi o plano desde sempre, admite, “mas quando olhamos para trás gostamos de pensar que foi tudo planeado”, diz ao Observador. Um ano depois, a pandemia de Covid-19 veio outra vez mudar-lhe os planos. O que fazer quando o setor em que se trabalha fica quase sem trabalho? Adapta-se a oferta, que, neste caso, chega a 120 mil clientes no mundo todo. Foi isso que o empreendedor fez.

“Começámos a acelerar a empresa em Julho de 2019 com base nesta venda de serviços direcionada a eventos presenciais, contratamos equipa, abrimos Espanha em Janeiro de 2020 [abrindo depois na Alemanha] e, em Fevereiro, já estávamos a crescer muito acima do previsto”, diz Sérgio Pinto, cofundador e CEO da Beamian.

A história começa, ma verdade, em 2012, com um projeto que saiu da UPTEC – Parque da Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto e que recorria à tecnologia Near-Field Communication (ou NFC) — aquela em que se baseiam os cartões contactless — e a aplicava ao ramo dos eventos. “O primeiro desafio foi perceber como conseguíamos digitalizar o processo de candidatura dos alunos da Universidade do Porto numa feira de emprego. Então desenvolvemos uma peça de hardware que colocámos à disposição dos recrutadores, pedindo aos alunos para que, quando se quisessem candidatar, encostassem um cartão de aluno ao equipamento. Com isso, digitalizamos o processo quase todo”, explica Sérgio Pinto ao Observador.

Plataforma já trabalhou com mais de 20 mil marcas e conta com mais de 120 mil clientes

A ideia resultou e seguiu-se uma senda de participações noutras feiras, levando sempre esta tecnologia como mais-valia. “Mas o mais interessante é que essa tecnologia foi depois alargada a outros verticais, como a indústria dos vinhos, mas o objetivo era o mesmo: digitalizar o que era mais importante nos eventos presenciais”, esclarece Sérgio. No final de cada feira, cabia-lhes a responsabilidade de entregar relatórios com dados como o número de candidaturas, de reuniões ou de quantas pessoas estavam interessadas em determinado produto.

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Sete anos e um milhão de euros de investimento depois – parte proveniente do fundo Portugal Ventures, em 2019, e outra dos fundadores –, chegou a pandemia de Covid-19 e foi preciso repensar estratégias e oferta: a partir de março de 2020 cada pessoa da equipa adaptou as funções em prol do desenvolvimento de produto para chegar a uma solução que permitisse sobreviver e prosperar, “o que conseguimos com sucesso”, refere.

“Primeiro porque já tínhamos a base digital e depois conseguimos introduzir todas as funcionalidades até setembro, altura em que começámos a fazer a venda de eventos completamente virtuais e terminámos o ano a crescer”, explica.

É aqui que, além das várias adaptações, surge a app HeadCounter, uma ferramenta gratuita que permite a contagem de pessoas em qualquer estabelecimento, em tempo real, como forma de apoiar a retoma do setor dos eventos. O resultado chega em números: numa equipa constituída por dez elementos fixos, registam-se 10 milhões de interações e mais de 120 mil clientes por todo o mundo, sendo que 100% da receita foi conseguida através dos eventos digitais, além da “boa progressão este ano [2021], sendo que é difícil comparar com 2020 em número percentual porque, nesta altura, há um ano, estivemos sem faturação”, diz o CEO da Beamian ao Observador.

A plataforma contabiliza mais de 10 milhões de interações

Mas, afinal, o que é que a empresa disponibiliza aos organizadores? Sérgio descreve o serviço como uma plataforma multifacetada, capaz de suportar qualquer tipo de evento, de concertos a conferências, de reuniões a eventos regionais, presenciais ou virtuais — este último graças ao desenvolvimento de alguns aspetos da plataforma, sobretudo nas funcionalidades de vídeo integradas e live streaming. Tudo isto com um valor mínimo fixado nos mil euros e com um planeamento obrigatório de pelo menos com três meses.

“Uma pessoa que queira organizar um evento com 500 a 1000 pessoas, com funcionalidades normais, pode fazê-lo com o Beamian, sendo que o evento pode ser virtual ou ter a componente presencial. Não fazemos a distinção, acreditamos em eventos digitais. Nós incorporamos o nosso serviço de videoconferência e o nosso serviço de streaming, garantindo que o conteúdo é disponibilizado de forma restrita.”

Na carteira de clientes estão, por exemplo, a Exponor Exhibitions, a Study Abroad Portugal (feira que visa ser a plataforma de referência em Portugal em todas as vertentes de mobilidade internacional a nível educativo), o Water World Forum For Life, (cuja edição de 2021 arranca em Reguengos de Monsaraz e será transmitida na Beamian), bem como o Vodafone Paredes de Coura ou o Boom Festival, aplicando nestes vertentes como o registo de pessoas, controlo de acessos ou a venda de bilhetes.

Para assistir ao evento, basta aceder ao link do organizador, que remeterá o público para o site da Beamian, totalmente customizado para o efeito. “A Beamian é útil quando o acesso é restrito e exige a identificação de quem consome o conteúdo, até porque o nosso foco sempre foi a recolha de dados relevantes para os eventos.” Isto levanta algumas questões, nomeadamente na ótica da proteção de dados, para as quais Sérgio garante ter foco apontado.

“Um dos principais pontos para conseguirmos o investimento da Portugal Ventures foi precisamente o cumprimento com a proteção de dados. Para além das políticas normais, temos um cuidado extra: quando temos salas de networking nos eventos, lançamos pop-ups a avisar que se a pessoa entrar naquela sala, os dados podem ficar públicos para quem lá está; quando as pessoas navegam por stands não as identificamos; há um conceito básico que é: só identifico uma pessoa que quer ser identificada. Isto tem grandes vantagens e valoriza os eventos”, refere.

Para já, no horizonte, está o plano de desenvolvimento de uma ação comercial mais direta na Europa, fortalecendo paralelamente a relação com os parceiros do Médio Oriente e do Brasil. Mas a janela de oportunidade é agora maior do que nunca, e Sérgio tem um plano bem definido para capitalizar.

“Ainda agora fechámos um negócio no México de forma reativa: os clientes vieram ter connosco e, sendo um evento 100% virtual, conseguimos prestar serviço. Houve um outro serviço que lançámos o ano passado na pandemia, que foi o Head Counter, que permite a qualquer pessoa que tenha um estabelecimento público contar pessoas e partilhar o número da lotação. Neste momento há 11 mil espaços espalhados pelo mundo, em que se incluem Estados Unidos, Nova Zelândia e África do Sul nos primeiros lugares a nível de utilizadores e isso é surpreendente”, diz.

A Beamian regista mais de 10 milhões de interações na plataforma, tendo já sido utilizada por mais de 20 mil marcas. Apesar de não revelar a faturação, Sérgio diz que a empresa fechou o ano de 2020 com um crescimento de três dígitos.